Série Psicopatas Vol.01 - Incendiário (REVISADO).

Perturbado

Em frente ao abrigo para crianças e adolescentes Cosme e Damião, Moisés recorda-se de sua estadia naquele lugar que de início o agradou.Tinha comida, banho e um lugar para dormir. Ele também gostava da hora dos estudos; sempre foi um dos melhores da sala, mas seu jeito antissocial fazia dele um ser estranho perante aos demais, seu egocentrismo o fazia pensar ser melhor que muitos ou todos ali. Alguns desses internos estavam naquele abrigo porque não tinham para onde ir, outros porque eram delinquentes e perigosos para permanecer na sociedade, mas o que eles não sabiam era que Moisés — o mais estranho de todos, como sempre lhe diziam — era também um dos mais perigosos.

Mas não demorou em o jovem incendiário saber exatamente do que se tratava o lugar que ficava nas mãos de pessoas que se diziam ser religiosas — maldito Giácomo Antunes —, e estar perante daquela farsa social faz o incendiário nutrir mais raiva, com o pensamento de que as pessoas merecem mais do nunca serem mortas pelo elemento fogo.

Seu foco são as pessoas realmente perigosas perante a sociedade, no entanto, o incendiário está longe de ser até mesmo um anti-herói, já que não se importa com a vida dos inocentes envolvidos. Acredita que tudo o que faz é parte de algo comparável ou até mesmo maior que o Universo: destino, que mais uma vez parece estar brincando com ele, sendo trazido para o lugar que marcou sua juventude com abusos e maldades. O mesmo lugar que o ajudou a aperfeiçoar o monstro que sempre houve dentro de si.

O destino.

Sempre sendo motivo de chacotas e todo tipo de violência por parte principalmente dos outros internos, Moisés estava cansado de tudo aquilo e resolveu fugir, e logo foi castigado quando o encontraram. Antes disso, ele já tinha sido pego com materiais inflamáveis, o que o comprometia ainda mais. Sempre quis ser livre e aquele lugar já o estava cansando, desgastando e destruindo ainda mais.

Mas lembra-se bem daquela noite em que colocou fogo no lugar.

Aquela noite.

Moisés abre um largo sorriso ao lembrar-se da imagem daquele lugar sendo lambido pelo fogo e de Pe. Giácomo na TV com o rosto marcado por sua obra querida. Foi uma pena — para ele, claro — não ter tido mais tempo para apreciar as explosões. Bombeiros e policiais chegaram antes e esses pensamentos faziam de Moisés um verdadeiro monstro, sem nenhum remorso contra todas aquelas vítimas, pela dor causada não só aos que morreram, mas também aos seus familiares. Alguns dos internos — inclusive funcionários — eram perigosos, então talvez matando alguns deles Moisés acabou salvando outras pessoas. Esse tipo de pensamento o orgulha, mas obviamente além de não justificável isso não lhe torna alguém menos culpado e apreciador de seus crimes.

Em frente ao lugar, continuam paradas duas viaturas da Polícia Militar com três oficias em cada. Dois dos policiais estão fora do carro conversando, enquanto o restante deles estão dentro da viatura concentrados demais em seus celulares. Devido ao último incêndio — causado pela garota que havia deixado em seu esconderijo —, o incendiário consegue vê uma pequena reforma que está em andamento. Não foi difícil se camuflar na escuridão com ajuda de suas roupas e mochila escura; ele é uma sombra agourenta e perigosa de arrepiar, e logo chega à entrada dos fundos sem ser visto pelas sentinelas.

Enquanto se esgueira segurando sua mochila com apetrechos inflamáveis, Moisés lembra de sua inusitada companhia da noite passada, a mesma que negou ser responsável por aquele incêndio anunciado na mídia com frequência nos últimos dias. Mas algo dentro dele também sabe que ela está mentindo. Ainda tentando entender seus supostos motivos, algo soa em sua mente reptiliana:

Betina pode ser próxima da testemunha de alguma forma, e se for isso, talvez ela também poderia estar naquele dia em que o prédio abandonado foi queimado, matando várias pessoas, ou alguém que ela... mas ela foi verdadeira — ele sabe — quando disse que matou o responsável pela morte de seu pai...