Mente do Mal

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Sentada nos fundos da escola, onde muitos alunos se escondem para fumar ou dar uns amassos, Betina fuma seu baseado enquanto está em uma viagem mental complexa e perdida. Ela passa uma mão na sua face e sente o inchaço em seu lábio inferior enquanto acende e apaga seu velho isqueiro. Ao contrário dos descartáveis, este ela havia comprado na Internet; ele é de metal, o tão conhecido Zippo, e está cheio com fluido. Enquanto brinca com o pequeno objeto, ela sente o conhecido ódio nutrido em sua mente aumentar, ódio esse destinado à sua madrasta, sentimento este que parece dominá-la por completo.

Betina é linda à sua maneira. Seus cabelos são longos de um escuro intenso, tanto quanto seu coração que só serve para bombear seu sangue frio. Seus olhos são de um azul chamativo — parecidos com o de sua mãe, como o pai sempre dizia —, ainda mais quando ela os contorna com sua maquiagem escura e pesada. Seus lábios são carnudos num vermelho natural e sua pele, branca como algodão. Sua beleza é notável, mas escondida por baixo de sua amargura e má vontade. Tem alguns colegas de más influências com caráter duvidoso tanto quanto o dela, mesmo assim leva uma vida conturbada não só em casa, mas na escola também.

Ela se pega encarando a pequena chama que brota do isqueiro. Sua mente dominada pela maconha a deixa relaxada, mas suas visões são claras na chama que não cessa. Ela consegue ver Daniel — o filho da puta que fizera seu pai entrar naquele maldito prédio para salvá-lo —, logo ela também consegue visualizar Fred. Ouviu tanto falar do desgraçado através de Samantha que certo dia ficou no Corpo de Bombeiros o dia todo até descobrir quem era o infeliz. Ela pisca algumas vezes sentindo uma leve vertigem e sua visão falhar, mas logo se concentra na chama novamente e ver o pequeno Lucas. Não demora a reconhecer Raquel, e ela aperta o objeto com força até sentir os nós dos dedos arderem. Ela os quer mortos.

Todos eles. Sem exceção.

A garota gótica sente-se perdida, desfocada de todo o resto, e isso não é apenas por causa de seu visual de revolta. Ela apenas sente-se daquela forma, escura e sombria, em meio a pensamentos ruins e delírios estranhos. Ela sabe que não terá seus pais novamente, disso ela tem consciência, o problema é como ela foca toda essa sua frustração.

— Que se dane! — fala a garota para si mesma.

Ela não se sente bem perto de muitos jovens por ali. Muitas meninas são fúteis e não falam coisas que chamam sua atenção. Os meninos são uns idiotas tanto quanto as meninas, então Betina prefere estar só ou apenas se drogando com o restante dos perdedores que ali estudam. Ela se lembra do pequeno Lucas a caminho de cair na piscina; ela se pega questionando se realmente não o ajudaria, e só de pensar nesse se, ela realmente entende que é diferente dos demais, que iria deixá-lo morrer. Mas quem merece mesmo é Raquel, ou pelo menos é isso que sua mente lhe garante. Os lábios e a face de Betina estão doendo no momento, mas isso não se compararia à dor que ela planeja para sua madrasta.

— Você me paga, desgraçada. Vai, sim, você vai ver!

Seu olhar continua fixo na chama, e ela resmunga como se realmente a madrasta pudesse ouvi-la. Suas mãos estão trêmulas e sua mente, não para por um só instante, a todo tempo mandando mais e mais imagens de Raquel entre as chamas, um misto de sentimento que parece realmente dominá-la, agora não apenas ódio, mas também alegria pelo pensamento que lhe vem em mente.

— Sim, será bem assim — sussurra a garota para si mesma de forma sombria.

O cigarro de maconha pode fazer liberar ideias mais profundas e sentimentos escondidos, e a julgar pelo seu estado de espírito ela parece abraçar bem aquela causa criminosa e sem razão. Sua tristeza está ainda mais intensa. Se estivesse feliz, talvez ficasse ainda mais por tamanha excitação que sente nas veias — seria muito relativo —, mas a verdade é que a mente de Betina já está decidida a pôr fim na vida de Raquel independentemente da droga que usa. Ela sabe que seus pensamentos não vão mudar em qualquer outra situação, sob efeito de drogas ou não.

Série Psicopatas Vol.01  - Incendiário (REVISADO).Onde histórias criam vida. Descubra agora