Suspeitas

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A imprensa encontra-se na festa oferecida para Fred. Todos estão atentos ao novo herói, todos querem falar e parabenizar o homem que arriscou a vida para salvar outra. O cabo Fred está mais feliz que nunca, todos o respeitam — ou fingem. Alguns já imaginam a cena do prédio, óbvio que eles nem suspeitam o que o covarde tinha feito, eles só comentam que o sargento Luigi tinha dado azar e o Fred sorte. O cabo repetia a sua história várias vezes, sempre se gloriando, em algumas outras caía em contradição, deixando de falar algum detalhe que já havia inventado, ou aumentado algo em particular, e sempre dava a desculpa de que era normal lembrar-se das coisas com o tempo devido o trauma vivido.

Sua mãe, uma senhora de expressão dura está entre alguns que parabenizam o cabo. Fred por sua vez tem um semblante feliz e orgulhoso ao lado de sua progenitora.

_Quanto tempo mais vai durar essa palhaçada? – pergunta a mulher impacientemente ao se aproximar do filho. – Estou cansada da viagem.

Fred olha para os lados se sentindo sem graça.

_Mãe... seu filho está sendo homenageado por salvar a vida de uma criança em um incêndio – fala ele sorrindo. – Vamos nos divertir.

A senhora o encara sem a menor alegria.

_Iria me divertir se meu filho tivesse salvado a vida de meus outros filhos naquele outro incêndio. – Ela se solta do abraço do filho que a encara sentindo a face queimar.

_Eu era só uma criança mamãe.

_Maior que os irmãos mais novos – rebate a mulher. – Você nega, mas sei que foi você quem trancou a janela por dentro, o que dificultou de seu pai salvar seus irmãos... Seu pai. O pobre só sobreviveu durante meses, definhou pela morte dos dois filhos, pela perda da casa da fazenda e porque seu pulmão já não era o mesmo depois daquela tragédia.

Ele suspira impaciente. Sempre foi difícil de orgulhar seus pais, ainda mais depois da morte dos irmãos mais novos. Ele realmente havia fechado a droga da janela, mas nunca imaginara que aquela tragédia aconteceria.

Fred é um psicopata. Ele nunca havia matado alguém antes, mas sua frieza perante os pequenos é intensa. Nunca ajudou alguém que realmente precisasse, a não ser que ele ganhasse algo em troca. Oportunista e mau caráter, sempre bajula os superiores e humilha os inferiores, já magoou muita gente que o amava e nunca sentiu nenhum remorso. Nem sempre para ser um psicopata precisa ser um assassino, pedófilo, canibal etc. Basta apenas ser mal, indiferente ao próximo com sua falta de empatia, entre outras infinidades psicológicas.

_Com licença mamãe – ele precisa sair de perto dela -, mas tenho que dá algumas entrevistas.

A mulher revira os olhos em desgosto.

_Vai lá grande herói – diz a mulher em um tom duvidoso – até parece.

Ele se afasta de cabeça baixa.

Rodeado por repórteres e falsos amigos, Fred sente um par de olhos a lhe encarar a distância. Ele sabe que pessoas o olham, mas naquele momento esta sendo observado. Logo seus olhos verdes felinos encontram os da sargento Braga. Suas pernas tremem, e ele tenta, mas não consegue disfarçar sua reação de surpresa e medo. Aquela cena vai ao ar ao vivo - é tudo o que Samantha precisa para saber que ele esconde algo, e ela não vai deixá-lo mais em paz.

Se aproximando feito uma leoa, e, de maneira esperta para que ninguém ouça o que ela iria falar, Fred se distancia dos outros, mas a sargento é mais rápida e faz a pergunta na frente de quem está próximo, e eles percebem que no tom de voz da sargento existem muitas dúvidas em relação ao novo herói.

Série Psicopatas Vol.01  - Incendiário (REVISADO).Onde histórias criam vida. Descubra agora