Próximos

282 61 9
                                    



A poeira do piso acima cai sobre os fugitivos enquanto os coturnos dos militares pisam com força e determinação no espaço superior do esconderijo do casal de incendiários que fica no subsolo e que por anos serviu de almoxarifado. Nesse momento, o coração de Betina está acelerado. O lugar é quente e abafado onde eles se escondem; ele, por sua vez, está atento já que seus perseguidores estão determinados a encontrá-los. Os olhares dos dois fugitivos se encaram sem pestanejar, apesar do barulho que os policiais fazem, o casal parece calmo, apesar do coração de ambos estarem batendo forte contra suas costelas, eles não estão com medo, pois no fundo eles sabem que a pulsação aceleradas se deve pelo fato dos dois estarem tão próximos.

O suficiente para sentirem o hálito um do outro, e aquela aproximação deixa Betina inquieta, não por estar incomodando, mas pelo fato de querer tocar o seu salvador. Moisés encara a menina completamente ciente de que ela sabe que ele está excitado e o mesmo parece inquieto devido a isso. Nunca esteve tão próximo de alguém assim, pelo menos não com esses desejos passeando por sua mente perigosa de predador.

Logo acima, os passos dos policiais ficam mais apressados, o que demonstra a frustração de cada um. Betina se esforça para não gemer de dor; suas feridas a incomodam o tempo todo, mas Moisés cala sua boca, dificultando qualquer tipo de som que escape dela. Eles estão próximos — muito próximos —, e seus olhares fixam um no outro. Aquele calor só aumenta; Moisés demora em notar que continua excitado, aquilo é raro. Ele aproxima seu rosto da incendiária, que fica imóvel e de olhos arregalados.

Eles estão flertando enquanto são caçados.

A garota sente a necessidade de empurrá-lo para longe, mas algo no estranho a atraía intensamente.

O que está acontecendo comigo? , Betina mordisca o lábio inferior enquanto o encara.

De certa forma, aquilo a incomoda; nunca foi de cair por amores por ninguém e não é em vão que muitos na escola a chamam de frígida. Mesmo que aquilo nunca a tenha afetado, ela realmente se sente surpresa e de certa forma quer tocar o homem à sua frente, ou ser tocada por ele.

Fora do galpão, a sargento Samantha Braga está agachada olhando o que resta de Vera. Apesar de completamente queimada, é notável que não se trata de Betina, pois a estatura de ambas são bem diferentes. A sargento se pergunta se aquilo tinha sido realmente um acidente ou mais um crime de sua sobrinha. Até onde aquilo vai?

— Deus... Betina, por quê? – questiona-se a mulher enquanto mantêm uma das mãos no nariz para diminuir o fedor de carne humana queimada.

Até onde ela pretende chegar?

Essas dúvidas aparecem na mente da sargento o tempo todo, e mal sabe ela que sua sobrinha incendiária e assassina está bem próxima dali, assim como o homem que aprendeu a odiar e perseguir por anos. Samantha entra no galpão — alguns colegas continuam lá dentro. - Ela pensa na ocorrência recebida; segundo a atendente, o homem que ligou para falar do acidente suspeitava que tivesse alguém naquele galpão. Poderia ser Betina, mas eles não encontram nada até o momento.

Quase uma hora depois, todos saem do galpão, exceto Samantha que tenta olhar o que os outros não enxergam. Ela sente um cheiro ruim vindo de fora do galpão, e mais uma vez vai até lá, dessa vez por trás do lugar abandonado. Lá, alguém fez um tipo de banheiro onde fizeram suas necessidades. Aquilo é bem nojento, mas importante; realmente alguém se escondeu ali e pelo que percebe não faz muito tempo.

Toda a equipe já tinha feito seu trabalho, e o Fusca carbonizado assim como o corpo de Vera Billard não estavam mais ali. Todos se foram, inclusive Samantha em passos fortes e frustrados.

Série Psicopatas Vol.01  - Incendiário (REVISADO).Onde histórias criam vida. Descubra agora