Caça à testemunha

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Ele tornou-se o terceiro sargento, porém, ainda não consegue ser respeitado por ninguém. Quando está com sua farda, é notado apenas pelos subordinados por receio do que ele pode fazer — e com certeza faria se houvesse oportunidade —, mas é totalmente excluído pelos mesmos de seu nível hierárquico e seus superiores. Denis Frederico, conhecido agora como sargento Fred – ou Sargento Frango, como alguns falavam pelas costas —, é sempre olhado com desprezo pelos demais. Seu momento de glória dura pouquíssimo e, mesmo estando vivo, parece odiar Luigi por ter entrado no maldito prédio, e consequentemente estar sendo observado por Samantha que parece mais que disposta a desvendar a farsa do mais novo sargento do Corpo de Bombeiros.

Ele sabe que Luigi não o forçou a entrar no prédio incendiado, mas não importa; ele está cansado daquela maldita perseguição sem sentido, isso muito antes da morte do sargento herói.

Maldito seja. Malditos sejam.

As queimaduras sofridas no maldito dia em que acompanhou Luigi foram superficiais e com o passar do tempo cicatrizaram de forma rápida e indistinta, o que passa despercebido para todos. Mas não era isso com o que ele se preocupa, pois parece que a sede de justiça — ou vingança — de Samantha a deixa cada vez mais esperta e desconfiada dele. Há um tempo que ele esquematiza um perigoso plano.

Samantha morreria. Fred decide seu destino.

Na TV, a reportagem dos ataques do incendiário à escola, ao ônibus e à casa dos parentes da sargento Samantha, que continua à procura do incendiário há anos sem parar, sempre dando ênfase no quão perigoso aqueles dias atuais estão e que aparentemente o criminoso já sabe da perseguição de sua inimiga. A situação aparenta caótica perante um tsunami de incêndios pela cidade, que agora se mantém em alerta total. O repórter dessa vez fala com a tenente Teodora, que não afirma se os três incêndios estão relacionados, mas que tem pistas que podem ajudá-los a capturar o responsável por aquelas mortes.

Tenente Teodora acaba deixando escapar que tem uma testemunha que estava no incêndio do prédio cinco anos antes, e espera que a pessoa em questão possa lembrar de alguma coisa que ajude em seu trabalho. O repórter quer saber mais sobre essa testemunha, mas a tenente, visivelmente pálida por seu equívoco, manda que o repórter corte aquelas falas, apesar de a entrevista estar indo ao ar ao vivo.

— Seria o lar Cosme e Damião? – questiona o repórter claramente ciente que sua pergunta na verdade é uma confirmação. Além do mais, é seu trabalho pesquisar sobre suas entrevistas.

Grande erro.

Os olhos de Fred brilham em um misto de satisfação e frustração; o garoto não tinha morrido.

— Vivo... O infeliz do moleque de rua... Está vivo... Todo esse tempo o miserável estava... Filho da...

O homem com mais de um e setenta de altura e mais de 80 kl parece muito pequeno sentado em meio à praça do Batalhão, onde se esgueira para fumar cigarros. Os cabelos ralos denunciando sua futura calvície precoce o deixam ainda mais com aparência de velho numa carranca de ódio.

— Estúpido... — sussurra para si mesmo. — Asno.

Ele foi mesmo um asno, acreditou no que lhe falaram, porém a verdade é que o menino estava sob proteção da polícia e todos aqueles anos ele estava tão perto.

— Pretencios... — ele se lembra do quanto foi asno e muda de opinião. — Preciso fazer. Quando se está na merda o que vier é lucro. Ditado antigo.

Quando foi ao hospital, o médico disse que o menino não tinha resistido o que por dentro acalmou Fred, que não havia dado muita credibilidade à sargento quando informou sobre a morte de Daniel. Mas ele nem desconfiou da presença de Samantha e Teodora que conversaram com o médico antes de Fred aparecer.

Série Psicopatas Vol.01  - Incendiário (REVISADO).Onde histórias criam vida. Descubra agora