Capítulo Dezoito

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- Então, não vai dizer nada? - falou o Coronel enquanto acendia o seu quarto cigarro desde que entramos aqui.

Olhei para o relógio, faziam quase trinta minutos e eu não abri a minha boca para discutir, talvez porque se eu o fizesse, com certeza diria algo que me arrependeria mais tarde.

Dei de ombros, em resposta, apertando um pouco mais o saco com gelos sobre o meu rosto completamente fodido.

O vejo respirar fundo, buscando paciência para lidar com o meu silêncio.

- Não quer ao menos se defender da acusação da líder dos azuis? - arqueou a sobrancelha, tragando profundamente e soltando a fumaça para longe, mas mesmo assim aquele cheiro insuportável estava impregnado naquela sala. Era o cheiro dele. Tabaco. O que me fazia o odiar ainda mais.

Soltei uma risada anasalada, que saiu fanha e dolorida, como um ganido de um filhotinho de cachorro.

- Me defender? Por que faria isso se sei que não vai ouvir uma palavra do que eu disser? - encostei-me naquela cadeira acolchoada, olhando para o teto, não querendo ter que encarar a sua cicatriz horrenda.

Ele ficou calado por um tempo, somente se deliciando com aquele cigarro ridículo.

- Sabe... não passou nem uma semana direito desde que pisou os seus pés pela primeira vez aqui e está causando tantos problemas como nunca me ocorreu antes - os seus dedos tamborilavam sobre a madeira de sua escrivaninha, enquanto comentava para ninguém em especial. Parecia somente colocar os seus pensamentos para fora.

- Sinto muito por isso.

- Não, você não sente.

Dei de ombros pela centésima vez.

- Você pode estar certo.

Me atrevi a erguer o queixo e encará-lo, cansada daquele teatro que nos levaria a lugar nenhum.

- Poderia estar se poupando de ter que lidar com toda essa situação, se me dissesse logo o que vai acontecer comigo - disparei, com tédio.

Eu havia alcançado a minha cota de bom senso, ele tinha ficado para trás no momento em que resolvi revidar as ofensas de Quincy.

Ele abre um sorriso naquele seus lábios de víbora e vejo seus dentes amarelados. Piores do que de um animal pulguento de uma viela qualquer.

- Credo, nunca viu uma escova de dentes na vida? - deixei escapar antes que pensasse uma segunda vez.

Ele, por outro lado, abre ainda mais aquele seu sorriso de predador.

- Creio que não goste de mim - contive o ímpeto de gargalhar, porém, a sombra de um sorriso no canto de minha boca foi inevitável.

Tirei até mesmo o saco de gelo do meu rosto machucado, pousando-o em cima da mesa, para que ele pudesse ver o quanto estava certo.

- Não deve ser nenhuma novidade para você - digo.

Gostar do Coronel? Pff! Ele deveria ser mais sensato e acrescentar: "como todas as pessoas desse universo".

- E creio eu que isso seja recíproco, não? - me atrevi a dizer mais uma vez, como quem não quisesse nada.

- Tenho que concordar com você, desta vez.

Seus olhos se arregalaram levemente, em uma grande ênfase ao dizer aquilo, como se ele estivesse se preparando para atacar, onde ele era o gato e eu o camundongo.

Cocei a garganta, de repente me sentindo bastante desconfortável, querendo ir para qualquer outro lugar à ficar na mesma presença com ele por mais um minuto.

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