- Então, não vai dizer nada? - falou o Coronel enquanto acendia o seu quarto cigarro desde que entramos aqui.Olhei para o relógio, faziam quase trinta minutos e eu não abri a minha boca para discutir, talvez porque se eu o fizesse, com certeza diria algo que me arrependeria mais tarde.
Dei de ombros, em resposta, apertando um pouco mais o saco com gelos sobre o meu rosto completamente fodido.
O vejo respirar fundo, buscando paciência para lidar com o meu silêncio.
- Não quer ao menos se defender da acusação da líder dos azuis? - arqueou a sobrancelha, tragando profundamente e soltando a fumaça para longe, mas mesmo assim aquele cheiro insuportável estava impregnado naquela sala. Era o cheiro dele. Tabaco. O que me fazia o odiar ainda mais.
Soltei uma risada anasalada, que saiu fanha e dolorida, como um ganido de um filhotinho de cachorro.
- Me defender? Por que faria isso se sei que não vai ouvir uma palavra do que eu disser? - encostei-me naquela cadeira acolchoada, olhando para o teto, não querendo ter que encarar a sua cicatriz horrenda.
Ele ficou calado por um tempo, somente se deliciando com aquele cigarro ridículo.
- Sabe... não passou nem uma semana direito desde que pisou os seus pés pela primeira vez aqui e está causando tantos problemas como nunca me ocorreu antes - os seus dedos tamborilavam sobre a madeira de sua escrivaninha, enquanto comentava para ninguém em especial. Parecia somente colocar os seus pensamentos para fora.
- Sinto muito por isso.
- Não, você não sente.
Dei de ombros pela centésima vez.
- Você pode estar certo.
Me atrevi a erguer o queixo e encará-lo, cansada daquele teatro que nos levaria a lugar nenhum.
- Poderia estar se poupando de ter que lidar com toda essa situação, se me dissesse logo o que vai acontecer comigo - disparei, com tédio.
Eu havia alcançado a minha cota de bom senso, ele tinha ficado para trás no momento em que resolvi revidar as ofensas de Quincy.
Ele abre um sorriso naquele seus lábios de víbora e vejo seus dentes amarelados. Piores do que de um animal pulguento de uma viela qualquer.
- Credo, nunca viu uma escova de dentes na vida? - deixei escapar antes que pensasse uma segunda vez.
Ele, por outro lado, abre ainda mais aquele seu sorriso de predador.
- Creio que não goste de mim - contive o ímpeto de gargalhar, porém, a sombra de um sorriso no canto de minha boca foi inevitável.
Tirei até mesmo o saco de gelo do meu rosto machucado, pousando-o em cima da mesa, para que ele pudesse ver o quanto estava certo.
- Não deve ser nenhuma novidade para você - digo.
Gostar do Coronel? Pff! Ele deveria ser mais sensato e acrescentar: "como todas as pessoas desse universo".
- E creio eu que isso seja recíproco, não? - me atrevi a dizer mais uma vez, como quem não quisesse nada.
- Tenho que concordar com você, desta vez.
Seus olhos se arregalaram levemente, em uma grande ênfase ao dizer aquilo, como se ele estivesse se preparando para atacar, onde ele era o gato e eu o camundongo.
Cocei a garganta, de repente me sentindo bastante desconfortável, querendo ir para qualquer outro lugar à ficar na mesma presença com ele por mais um minuto.
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Prisão Elementarius
FantasíaQuando o Livro da Criação é despertado novamente, depois de milênios adormecido, a sua fúria é implacável ao se deparar com o mundo se afundando em trevas ao ser governado pelos Três Reinos. Com isso, ele acaba destruindo a ordem natural da vida que...