Capítulo Três

522 140 223
                                    


Sinto vários cutucões em meu rosto e uma risada gostosa invadir os meus ouvidos. Antes de abrir os olhos, deixo que um sorriso tomasse conta de meus lábios.

- Está na hora - disse de bruços, me olhando com os cotovelos apoiados na cama e com o tronco um pouco elevado para me encarar.

Trouxe o relógio que carregava comigo para o meu campo de visão. Quase sete da manhã.

- Bom dia pra você também - puxei a sua bochecha e logo ouço o seu resmungo.

- Bom dia.

Me sentei, espreguiçando-me enquanto ainda bocejava.

- Como pôde acordar primeiro que eu? - digo em um tom de surpresa, achando aquilo surreal.

Ele revira seus olhos.

- Só acordei e não consegui mais dormir - deu de ombros.

Ao ouvir aquilo, parei totalmente o que estava fazendo para encará-lo.

- Outro pesadelo?

Meus olhos analisavam todo o seu rosto, em busca de algum vestígio de emoção que pudesse demonstrar alguma sombra de medo, vindo da sua parte.

Miles negou sutilmente com a cabeça,
balançando os seus emaranhados de cachos. Suspirei, aliviada.

- Apenas queria ficar de guarda enquanto você dormia... - desviou o olhar e falou tão baixo que eu mal conseguia escutar, parecia até mesmo envergonhado.

Sorri de lado, entendendo.

- Deveria ter aproveitado para descansar, Miles. Eu não pedi para que fizesse isso - digo durona, mas agradecida que ele tenha se preocupado com a nossa segurança.

- Eu sei... mas eu queria fazer isso. Você já se arriscou tanto por mim que acordar um pouco mais cedo seria o mínimo que deveria fazer - por fim, elevou seus olhos para os meus e por um instante consegui enxergar o adulto que vive dentro dele que reside em um corpo de criança.

Não disse nada, apenas assenti. Ele só estava preocupado, não era motivo de discussão.

- Tudo bem. Obrigada - o trouxe para perto e lhe dou um abraço apertado, sentindo o cheiro do shampoo do hotel e o sabonete de lavanda.

Inspirei fundo, Miles era o meu porto-seguro. O único que ainda me restava.

Depositei um beijo no topo de sua cabeça.

- Da próxima vez, me avise. Poderíamos ter trocado os turnos, não se sobrecarregue por minha causa, está bem? - levantei o seu queixo, fazendo-o me encarar.

- Sim, senhora - falou em um tom debochado, mas manteve o sorriso em seu rosto.

Ficamos ali por uns minutos, antes que eu me levantasse a contragosto.

Liguei a TV, fazia muito tempo desde que assisti a um noticiário e, bom... tínhamos algumas horas sobrando antes avançarmos em nossa viagem.

Miles aproveitou para trocar de roupas e usar o banheiro, pela última vez.

Pousei as mãos em meu quadril, percebendo que a reportagem se tratava do que havia ocorrido perto da lanchonete em que eu e Miles estávamos. Bocejei, mudando de canal, mas ao que parece todos falavam da mesma coisa. Revirei os olhos. Bom.

- Interessante.

Aumento o volume da TV e chego um pouco mais perto, cruzando os braços.

- Eu vi quando tudo começou! Foi terrível até o homem cair no chão e o garotinho poder se soltar - uma mulher no auge dos seus quarenta anos era entrevistada.

Prisão Elementarius Onde histórias criam vida. Descubra agora