Capítulo Vinte e Cinco

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Olhei para as pessoas que fazia o lugar ficar cheio. O café da manhã estava sendo servido. Todos deixaram de lado o que tinha em suas bandejas, quando me viram atravessar aquele mar de mesas. Bryn, Jackson e Benjamin, seguindo em minha dianteira.

Fazia questão de encarar todos aqueles que não desgrudavam os olhos de mim. Me analisando dos pés a cabeça. Contando cada respiração que eu dava. Seguindo-me silenciosamente até onde os meus passos me guiavam.

Coloquei a bandeja que segurava na mesa, sentando-me logo em seguida. Contudo, aquela não era a mesa habitual a qual costumávamos a nos sentar. E o que estávamos indo fazer ali... Pelas tetas de Milliana! Que o inferno tenha um lugar reservado para nós.

Quase imediatamente, os azuis que nos rodeavam olharam para a figura que estava a minha frente. Uma palavra e seríamos escorraçados dali, como animais pulguentos que entraram em uma loja de grife sem serem convidados. Cautela e ansiedade brilhavam nos olhos de cada um deles. Atentos a qualquer comando que ela pudesse dar-lhes.

Com um sorriso felino nos lábios, Bryn expulsou aqueles que ocupavam os lugares onde deveriam se sentar. Sem dizer qualquer palavra, os cianos saíram de seu caminho, cedendo não só um cantinho para que ela e os garotos se acomodassem, mas o banco inteiro.

De um lado da mesa estava Benjamin, eu, Bryn e Jackson. Do outro, uma dezena de azuis e a sua Líder, que bebericava o seu café, encarando-me com um interesse palpável.

Suas mãos pousaram com uma graça fluída a cada lado da bandeja, perto dos talheres que utilizava. Mais precisamente, da faca sem ponta e de primeira vista inofensiva, a qual seu metal reluzia triunfante sobre todas aquelas luzes acima de nossas cabeças.

Seus olhos pulam de mim para Bryn, avaliando-nos. Procurando qualquer indício que pudesse revelar o que diabos estávamos tentando fazer ali, em seu território. Com a sua gente.

- Espero que tenha um bom motivo para sentar aqui, Hankally - a sua voz não passou de um ronrono perigoso, ameaçando-nos indiretamente ao esbanjar seus dentes brancos em um sorriso de gato.

Podia jurar que o refeitório inteiro deixou de mastigar, tentando pegar um pequeno vislumbre daquele diálogo.

Em resposta, dei uma mordida em uma das minhas torradas com geleia, um sorriso beirando em meus lábios.

Os meus amigos se apressaram em me acompanhar naquela deixa, se deliciando com o seu café da manhã.

Eu mastigava com vontade, abocanhava aquela massa crocante e a engolia, sentindo-a descer lentamente goela abaixo. Meu corpo ansiando por mais. Meu estômago faminto de dias sem comer nada. E eu deixava aquela fome cruzar pelos meus olhos enquanto a encarava a cada mordida dada com prazer, que muitos não saberiam descrever se era do sabor da comida ou da pura vingança.

A tensão se espalhava rapidamente pelos extremos. Alguns azuis decidiram se afastar, acovardados em ter que aturar aquela atmosfera rígida de um terror sanguinário. Outros, entretidos, pareciam assistir a um jogo divertido onde duas bestas estavam prestes a arrancar a cabeça uma da outra. E também tinham aqueles ao lado da Líder, prontos para atacar assim que o sinal fosse dado. Corajosos e leais.

Sobre aquela mesa pairava uma aura quente e tentadora de que tripas iriam voar e sangue seria jorrado, caso continuássemos ali. E eu sabia que ambos os lados estavam se preparando para tal.

Podia sentir Bryn beber aquela água como se estivesse em um deserto. Uma sede insaciável em que ela não fazia questão de esconder a vontade de cair no braços com muitos reunidos ali.

A vejo amassar o plástico com eficiência, não passando de papel em suas mãos e encarando os azuis ao redor, que também a fitavam com um típico desdém e repugnância estampado em suas feições. Eles a odiavam. Aquilo era tão transparente quanto a água que ela acabara de beber.

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