Capítulo Vinte e Dois

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Eu estava viva. Respirando. Viva. Meu coração batia. Sim, eu estava viva.

Abri um olho de cada vez, com receio do que me esperava ao despertar. Eu não voltaria para seja-lá-onde-fosse. Aquela Sombra não me causaria mais dor do que já me causou. Eu, definitivamente, estava no mundo real.

E queria acreditar nisso.

Faço um barulho com a boca, ao perceber que ainda estava no quarto de Roucker, que ele ainda me mantinha aqui.

Desta vez, quando o avistei, ele estava vestido. A mesma roupa que eu o vi usando no momento em que estava sendo arrastada para essa Prisão. Roupa preta, com um emblema estampado em seu ombro direito.

Antes eu não pude perceber o quanto aquele traje caía bem no seu corpo, parecia ter sido feito sob medida, encaixando perfeitamente em cada curva e acentuação ao ressaltar os músculos tanto de suas pernas quanto de seus braços. Evidenciava o que ele tinha de melhor. Ou seja, tudo.

Roucker estava sentado em uma poltrona carmesim, relaxado, olhos fechados. Parecia estar dormindo. Mas só um tolo realmente acreditaria nisso.

- Você é algum tipo de super-herói incompreendido com essa roupa?

Tirei as cobertas de cima de mim, notando que somente uma blusa branca cobria o meu corpo. E eu não lembrava se estava assim desde o começo, se estava com ela desde o dia em que raciocinei sozinha por curtas horas antes de apagar novamente.

- Não diria super-herói - ele continuou com seus olhos fechados, sua respiração estava calma enquanto falava em um tom grave de quem passou a noite em claro.

Pigarreei, sabendo que não poderia mais abaixar a guarda na sua presença. Por mais que esses últimos dias eu tenha dormido muito em vez de manter-me bem acordada, pude notar algo nas pequenas vezes em que que despertava: Roucker estava comigo. Roucker era o último a falar.

Então, eu não tinha duvidas de que ele fazia alguma coisa todas as vezes em que eu estava prestes a explodir. Era Roucker quem me colocava para dormir sem que eu estivesse com a menor vontade de descansar.

Eu tinha muitas perguntas. E, mais que nunca, ansiava para obter respostas.

Encarava tudo aquilo como uma coceira antiga e insistente em algumas partes do meu corpo, em que eu não fazia a mínima ideia de onde ficava o local exato para aliviá-la, mas ela me lembrava a cada minuto que ainda estava ali. E eu me via querendo se livrar desse incômodo urgentemente.

Analiso o local, Roucker havia levantado, o que foi deixa o suficiente para que eu notasse que o quarto não se encontrava mais uma bagunça. Estava totalmente arrumado. Nada fora do lugar. A estante, por incrível que pareça, não faltava nenhum livro sequer e se encontrava exatamente como antes de eu tê-los feito sair voando por esse ambiente limitado.

- Vejo que arrumou tudo.

- Alguém tinha que fazer isso.

Assenti lentamente, respirando fundo e saindo daquela cama, que mais parecia o meu leito de morte. Se eu estava prestes a ter uma conversa com ele, teria que ser cara a cara. Não poderia ficar deitada como uma inválida por muito mais tempo. Não suportava mais ficar em cima de uma cama. Não gostava nada disso, na verdade.

- Você não vai me fazer desmaiar de novo, vai? - arqueio a sobrancelha para Roucker, que estava em frente a mini-geladeira, abrindo uma latinha em tons mórbidos de preto e verde musgo.

Ele me olhou dos pés a cabeça enquanto bebia o líquido que segurava em suas mãos.

Acompanhando os meus passos lentos até ele, sem dizer uma palavra sequer.

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