Capítulo Vinte e Nove

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O apito soou entre os meus ouvidos e reverberou por cada poro de minha pele. O arrepio era inevitável. Sentia meu coração palpitar como se fosse uma borboleta batendo as asas pela primeira vez. Apertei os punhos um contra o outro, tentando conter aquele mar de emoções que custavam a minha concentração na batalha travada a minha frente.

Os Vermelhos partiram para a ofensiva, assim como eu havia previsto. A estratégia deles era nos encurralar, fazer uma abertura e depois pegar a bandeira atrás das minhas costas, guardada por mim.

A metade deles haviam entrado em nosso território, estávamos
defendendo com todas as nossas forças. Pelo o que havia sido dito, minutos antes, quando um do time adversário entrar em nosso lado, poderíamos imobilizá-los como quiséssemos e assim estávamos fazendo.

Eu via os Vermelhos abrindo caminho com as próprias mãos envoltas de chamas intensas, que sibilavam o quanto eram poderosas a cada vez que um chiado de água sendo vaporizada era ecoado pelo campo.

O pessoal de Jasper são brutos, percebia o quanto eles dependiam de sua força física e o quanto também aquilo funcionava contra o meu time.

À minha direita três Azuis lutavam contra dois Vermelhos. E suavam para contê-los em uma espécie de caixa totalmente feita de água. Lá dentro os Vermelhos rugiam e lançavam suas chamas contra aquela parede cristalina, que aguentava a todos os acessos de fúria vindo dos prisioneiros.

Na minha esquerda, o negócio estava ficando cada vez mais quente, literalmente. Os Vermelhos vestiram uma capa cobertas por chamas, o fogo crepitava interruptamente por seus macacões. E eles não se queimavam, mas queimavam as rajadas rápidas das investidas dos Azuis. O combate corpo a corpo seria impossível nessas circunstâncias, a não ser que quisessem ficar com graves feridas. E ninguém estava disposto a sentir sua própria pele sendo engolida por uma barreira de línguas de fogo que prometia devorá-los por inteiro.

Mas eles, os Azuis, são espertos o suficiente para revidar à altura. Meu time conseguiu lançar dois dos Vermelhos cobertos em chamas um em cima do outro. A pressão da água era mais forte que qualquer coisa que os Vermelhos pudessem pensar. Mais duro que gelo. Mais resistente que aço. Mais doloroso que uma facada encravada em seus corpos. Essa era a nossa força.

Um grito estridente foi ouvido, desviei a atenção para a garota trajada em ciano caída no território inimigo. Sozinha. Encurralada por três brutamontes com olhares que diziam o quanto esperavam por aquele momento.

Engulo o seco.

Olhei ao redor. Todos ocupados defendendo os seus próprios postos. Ninguém iria ao socorro dela.

Espremo os lábios um no outro. Os Vermelhos que a cercava estavam todos armados com as suas chamas.

Vejo uma faísca de um deles cair de seus braços sobre a grama verdinha, que instantaneamente vira nada mais que cinzas. Murcha. Sem vida. Tudo num piscar de olhos.

Não queria nem saber o que seu poder poderia fazer com a carne humana. Por isso, olhei novamente ao redor. Ok, os Vermelhos em nosso território estavam todos ocupados tentando salvar as suas próprias bundas da nossa defesa impecável.

Respirei fundo, fechando os olhos.

Chupei o ar entre os dentes e acalmei as batidas do meu coração.

Então corri, indo de encontro a uma dos meus que gritava por ajuda. Não se preocupe, estou a caminho, queria gritar aquilo para ela.

Sentia o quão quente todos aqueles Vermelhos juntos podiam ser, ao passar no lugar onde o clímax estava acontecendo. Nenhuma água no mundo seria capaz de apagar o fogo deles, percebo. O máximo que conseguíamos era ganhar tempo, em estratégia e astúcia. Diminuir a intensidade daquelas brasas incinerantes, mas nunca extingui-las por completo.

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