Capítulo Vinte e Oito

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O silêncio ainda reinava, há muito havíamos nos despedido dos garotos, e por se despedir, eu quero dizer: se levantar do refeitório e virar as costas um para o outro.

Bryn, assim que chegou no quarto em que dividimos, logo abriu uma das gavetas da pequena e única escrivaninha que separava as nossas camas e emergiu naquele universo de páginas, em outras palavras, ela não queria conversar comigo.

Sentia o quarto ficando cada vez mais pequeno a medida em que ela virava uma folha. Bufei, irritada. Não entendia o motivo daquela cena toda. E daí se ela e Jackson ficaram juntos? Isso é tão ruim assim?

A lua já estava no seu ápice quando decidi levantar a bunda da minha cama só para colá-la de novo na de Bryn.

Peguei o livro que ela lia tão dedicadamente por horas e o fechei em sua cara. Bryn me olhou feio e a única fonte de luz do lugar dava ainda mais vida para o tom ébano de sua pele tão perfeita. Brilhante e intensa. Ela mantinha uma carranca que eu nunca vira esboçar antes.

- Nem tente - avisou. Olhos colados nos meus. A teimosia em sua voz ameaçava colocar todo aquele silêncio acumulado para o inferno.

- Foda-se toda essa merda. Me conta o que tanto te incomoda - digo.
Ela revira os olhos.

- Não meta o seu nariz onde não é chamada, Hankally - ela tentou pegar o livro de volta, mas fui mais rápida e o joguei para longe, onde bateu em um canto daquele quarto, em um som oco de capa dura contra o chão amadeirado.

Hankally.

Ela nunca havia me chamado assim. Isso só queria dizer uma coisa: raiva.

- Pelo Supremo... O que diabos você tem? Só quero ajudar - falei calma, tentando desarmar a bomba que estava prestes a explodir em minha frente.

Ouço a sua risada quebrar ainda mais aquela película grossa e fria que havia sido criado automaticamente assim que pisamos os pés aqui. Mas ela não achava aquilo engraçado.

- Quer me ajudar? - parou de rir de repente, adotando uma expressão séria e rude, acentuando ainda mais as suas madeixas e dando um brilho animal em seu olhar rodeado de um negrume que eu não entendia muito bem o seu significado.

Assenti.

- Então, me deixa em paz - cuspiu aquelas palavras, empurrando-me para fora de sua cama e me fazendo cair sentada no chão.

Engoli o palavrão, mas não conteria o que viria a seguir. Eu estava tão cansada daquilo, porque ao mesmo tempo que eu não entendia o que estava acontecendo ao meu redor, também não estava disposta a aceitar aquilo de bom grado. Por isso, esmurrei o chão, e se aquilo significava que eu teria que levar um soco para que ela abrisse o bico e falasse a verdade, que assim fosse feito.

- Que merda tá acontecendo com você? E daí que você dormiu com o Jack? Quem liga pra isso? - disparei, levantando de onde ela havia me derrubado tão facilmente.

Ela arregalou os olhos e por um segundo vi uma abertura que eu iria explorar, porém, não durou muito para que ela se fechasse novamente sob as rédeas da fúria.

- Você não sabe de nada! - gritou ela, rangendo os dentes.

- Ah, é? E que tal você parar de se lamentar feito uma menininha de cinco anos que acabou de mijar nas calças e me explicar o quê que tá acontecendo aqui? - abri os braços, apontando para ao redor.

Ela amassa o travesseiro preso entre as suas pernas com as unhas.

- Por que você é assim? Não pode simplesmente fingir que não existo? - rebateu ela.

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