Capítulo Vinte e Seis

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O sol havia caído e o céu estrelado dado início faziam longas horas.

Nos encontrávamos no quarto dos garotos, o que acarretou em uma pequena descoberta da minha parte, do passatempo preferido que ambos gostavam de fazer juntos: furtar a cozinha durante a calada da noite.

Tínhamos comido todo o estoque que os dois armazenavam por semanas debaixo de suas camas, entre roupas nas gavetas e no estofado do travesseiro.

Era um verdadeiro lar de pequenos ladrõezinhos, mas graças a eles tivemos o que comer no café da manhã, que não foi aproveitado por nenhum de nós, e no almoço já que não nos arriscamos sair uma outra vez.

Comi tantos salgadinhos quanto comida instantânea, cozinhados tudo no pequeno micro-ondas que eles também tinham dentro do quarto, esse foi um presente, disseram eles. De quem? Bom, isso se recusaram a responder.

- Não podemos estar aqui, não é? - perguntei.

Encarava o teto branco, deitada no chão, ao lado de Benjamin, após mais uma pratada de macarrão feito pelas mãos do próprio, à modo Ben Suculento, como ele batizou o molho que era servido junto. Ele havia criado a receita, nada mais justo que pôr um nome nela, por mais que tenha sido um pouco... impróprio.

Aquilo tinha um puto segundo sentido entranhados nas palavras.

- Não, não podem - respondeu Jackson, que jogava uma pequena bolinha pro alto, então a pegava novamente. Diversas vezes. Por horas.

- Mas quem liga para essa besteira? - Bryn respondeu, com um tom sapeca enquanto analisava as suas unhas recém-pintadas de preto.

A encarei, sorrindo. Verdade.

- Então, sobre o que vocês disseram mais cedo... - comecei e eles me encararam sincronizadamente.

- Falando nisso, está quase na hora do Olodum. - Bryn se levanta em um pulo e os garotos se espreguiçam.

Olodum, pelo que fiquei sabendo das sutis informações que me deram quando me falaram que teria esta noite, era o nome do que ocorria todo final de mês, mas o motivo ou até mesmo o que acontecia, não ousaram me direcionar qualquer outra palavra sobre isso.

- Está preparada para ter o melhor dia de toda a sua vida? - Benjamin perguntou pela quinta vez, desde o momento em que me revelaram que existia algo do tipo nessa Prisão.

- Sinceramente?

Ele assentiu.

- Acho que estou com medo - e essa foi a primeira vez que o respondi.

Eles riram e Bryn me puxou pela mão envolvendo-as com as suas ao elevá-las até a altura do peito. Seu rosto estava quase colado ao meu, e então ela disse, suavemente:

- Você quer se divertir, Aja? - suas pupilas se dilataram com aquela pergunta, ela parecia prestes a explodir em tanta ansiedade.

Levando em conta que passei muito tempo lá embaixo, na Ala F, a última coisa que queria era ficar parada e considerando o fato de termos feito o que fizemos no refeitório, pela manhã, eu sabia que no outro dia a paz seria escassa.

Por isso assenti. Queria mais que nunca me distrair dos problemas que minhas ações iriam me causar.

Ela sorriu, apertando levemente as minhas mãos na sua.

- Garotos, vamos mostrar pra Aja como nós nos divertimos aqui dentro - ela falou, desviando o olhar para encarar os meninos.

Eles também sorriam, o que me tranquilizou mais para o que me aguardava no tal Olodum.

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