- Menina, você quer um pouquinho de água?
Eu estava sentada com a cabeça apoiada nos braços. Meus olhos estavam doendo de tanto que eu já chorei. Eu não acreditava que o Beto tinha feito aquilo comigo. Eu não queria acreditar. Quando ouvi que ele havia planejado tudo minuciosamente para acabar com meus pais, meu mundo caiu. Logicamente ele não me conhecia, mas não pensou em mim, mesmo sabendo da minha existência. Eu sou inocente. Na verdade não sei o que meus pais fizeram. Mas isso já não importa.
- Maria, você concorda com isso que o Beto fez?
Maria suspirou. Se sentou ao meu lado e falou olhando em meus olhos.
- Ele está machucado demais menina. Mesmo assim, não achei certo. E eu disse isso a ele. Pedi para que contasse a verdade a você. Ele gosta muito de você.
- Então por que seguiu com tudo isso?
- Melhor perguntar para ele.
- Eu gosto tanto dele, Maria. Mas eu não sei como agir.
- Essa relação de vocês tem tudo para ser conturbada. Eu sei que você tem o hábito de enfrentar seus pais, mas agora é diferente.
- Você acha que certo a gente terminar ?
- Eu nem sabia que vocês estavam juntos.
- Não ficamos juntos nem um dia inteiro.
Eu comecei a chorar outra vez. O Beto era muito importante para mim. Eu gostava muito dele e estava doendo muito sentir que a nossa relação não tinha uma maneira de funcionar.
- Ei, cadê aquela moça forte que eu conheço?
- Não consigo mais ser forte, Maria. Estou cansada.
- Tá doente ainda? - Ela tocou em minha teste. - Não está com febre.
- Não estou doente, estou cansada. Somente isso. - peguei sua mão e falei olhando em seus olhos. - Desculpe ter sido rude com você.
- Não se preocupa, menina. Eu sei que você está sofrendo. O Beto também está.
- Vou procurá-lo para saber os motivos dele.
- Talvez você o entenda. Tenho medo da verdade ser dura demais para você.
- Por que Maria?
- Porque envolve sua família.
- Isso eu já percebi. O Beto os detesta. Me assusta ele fingir muito bem com a minha mãe.
Maria abaixou a cabeça. Acho que ela concorda comigo.
- Tenho que ir ao hospital. E depois na Dóris. Meu dia está lotado hoje.
- Acho que você deveria não ir hoje à academia.
- Tenho que ir. Tenho um exame.
- Sério? Logo hoje?
- Sim. Não há o que fazer. Agora mais do que nunca isso tem que dar certo. Gastei muita energia nisso.
- Vai dar sim. Mas são 5 hrs agora. Está muito cedo. Vá deitar mais um pouco. Depois vou chamar você.
- Vou... Me chama as 7:00hrs. Eu não quero ir muito tarde ao hospital.
- Sim. Pode deixar comigo. Vá.
Eu não disse mais nada. Fui para o meu quarto. Olhei para a cama e lembrei que horas antes eu estava ali com o Beto. Talvez seja exagero, mas eu já sinto falta dele. Pensei em ligar, mas ele deve estar muito nervoso. E pareceu estar chateado com minha falta de compreensão. Mas talvez ele estivesse exigindo muito de mim. Peguei meu celular. Havia tantas mensagens. A Brenda foi a primeira.
" Amiga, fiquei sabendo do seu pai. Sei que não estamos muito bem, mas saiba que eu lhe desejo sorte e melhoras para ele."
Eu não respondi. Falaria com ele na academia. Praticamente todos da academia estavam desejando uma rápida recuperação para o meu pai. Fiquei com coração aquecido por se lembrarem de mim. A última mensagem foi a do Leo. Eu li e fiquei feliz em saber que ele ainda gostava de mim. Nossas famílias são tão unidas, desde sempre. E o Leo sempre esteve comigo. Não lembro uma parte da minha vida onde ele não estava. Respondi a sua mensagem. Não ia ligar àquela hora.
" Léo, não se preocupa. Vamos esquecer o que passou. Obrigada por tudo viu. Liga quando puder."
Enviei e bloquei o telefone. Assim que deitei no sofá o telefone tocou. Era ele.
- Léo? Tão cedo?
- Loirinha, eu estava aqui agoniado. Como você está?
- Ai Leo, eu nem sei o que dizer.
- Claro, pergunta idiota a minha. Loirinha, posso ir aí te ver? Ou ainda estás muito aborrecida comigo?
- Por favor vem. Preciso muito da sua amizade. Mais do que nunca. - Eu me emocionei e comecei a chorar.
- Loirinha não chora. Ei, você não está sozinha. Entendeu? Posso ir agora.
- Tá maluco? São 5hrs da manhã.
- E daí? Eu já cheguei na tua casa quase de madrugada. Eu sou vip.
Eu ri sem querer.
- Não vou ficar tranquilo aqui. Tenho que te ver e ajudar de alguma maneira. Então deixa.
- Tá bom, Léo. Obrigada.
- Obrigado nada. Vou querer o bolo da Maria.
Eu ri outra vez. Ele tinha esse dom. Eu precisa dele mesmo. Para não afundar na tristeza.
- Tem de ontem. Se você não se importar.
- Não ia ter bolo fresco as 5hrs da manhã né Kate.
Ele riu e eu o segui.
- Estou indo para aí. Até daqui a pouco, loirinha. Te amo.
- Também amo você. Obrigada.
Eu fui tomar um banho e colocar uma roupa confortável, mas que eu pudesse sair. Pretendia ficar com o Leo um pouco, mas depois ir ver como estava meu pai e minha mãe também. Eu estava com uma preocupação na cabeça. Eu teria que ajudar minha mãe com a empresa do meu pai. Caso contrário tudo iria desmoronar de uma vez. Cada dia era importante. Assim que terminei de sair do banho, alguém bateu na porta.
- Entra. - falei, pegando a escova para pentear os cabelos.
- Oi loirinha. - O Leo entrou um tanto tímido. Veio até mim e me deu um abraço apertado. Eu o prendi ali comigo um tempo. Que bom que ele estava ali. - Tô aqui para o que precisar, certo? - Eu comecei a chorar. O Leo me abraçou ainda mais forte. - Ei, vai ficar tudo bem. - Eu não falei nada por longos minutos. Só chorei. Isso me aliviou tanto. Mas depois fiquei envergonhada.
- Desculpa. - Eu me afastei dele limpando o rosto.
- Eu não porque você está se desculpando.
- Estou muito emotiva.
- Não é para menos. Mas o que está acontecendo? Acredito que seja algo além do acidente.
- Sim. Vai muito além. Vou te contar tudo. Tudo mesmo.
- Quando você fala assim é porque tem muitas coisas que eu não sei.
- Senta aqui Leo. - ele sentou junto comigo no sofá, então comecei a desabafar. - Léo, nós estamos falidos. - Ele demonstrou surpresa. Mas não falou nada. - O Alberto, lembra dele? - Ele fez que sim com a cabeça. - Ele aparentemente tem uma mágoa muito grande da minha família, então ele armou tudo para fazer a empresa do meu pai quebrar.
- Kate, seu pai é muito rico. Deve haver alguma solução...
- Meu pai sofreu o acidente porque estava transtornado. Ele foi tirar satisfação com o Beto e acabou perdendo o controle do carro. Mas o meu pai disse que estava falido. E...
Eu não sabia se contava da minha relação com o Beto. Eu estava envergonhada. Mas resolvi colocar tudo para fora.
- E...? - ele perguntou procurando meus olhos
- O Beto e eu começamos a namorar ontem.
- Quê?! - Ele arregalou os olhos - Mas vocês são... irmão... bom, teoricamente são.
- Ele logo deixará de ter o meu sobrenome. Meu pai está pedindo a anulação.
- Por causa do namoro de vocês? - Ele parecia decepcionado.
- Não Leo. Até porquê, não estamos mais juntos.
- Loirinha você está me deixando confuso. - Ele passou as mãos no cabelo, os deixando bagunçados. - Explica na ordem. Ok?
- Tá. Perdão. Aconteceu algo no passado que causou uma mágoa no Beto. Então ele armou um plano para destruir meus pais financeiramente. Isso ainda no exterior. Quando ele chegou aqui já era para colocar tudo em prática. Mas aí nos conhecemos. Acabou que nos apaixonamos. Acho que fugimos muito disso. Mas ontem acabou que nos declaramos. Mas ele tinha mentido para mim. Ele dizia que não tinha planejado destruir os bens do meu pai, mas hoje descobri a verdade.
- Certo. Seu pai entrou com o processo para retirar o sobrenome dele por quê?
- Eu não sei. Mas o Beto parece que sempre quis isso. Então não ficou aborrecido.
- Foi o que ele disse?
- Sim.
- Loirinha, se fosse você, como se sentiria?
Eu entendi o que ele quis dizer. Claro que ficaria magoada.
- E agora? Seu pai hospitalizado não pode cuidar da empresa.
- Sim. Agora está nas mãos do vice presidente e a minha mãe.
- Meu pai é muito amigo do seu. Com certeza já deve estar conversando com sua mãe.
- Você acha? - Surgiu um raio de esperança em mim.
- Claro. Você sabe que a minha família e a sua sempre foram parceiras. Não se preocupa loirinha.
- Me sinto tão aliviada. Eu estava enlouquecendo.
- Vem cá. - Ele me puxou para ele. Eu encostei minha cabeça no seu peito. - Imagino que esteja muito machucada. Mas eu estou aqui. Sou seu amigo para todas as horas.
Eu deixei algumas lágrimas caírem, mas dessa vez estava mais tranquila. Fechei meus olhos, e devido ao cansaço, adormeci.
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Fragilidade ( EM REVISÃO)
RomanceCaro leitor, imagine estar no último ano da sua colégio e da Academia de dança e desde sempre sofrer pressão dos pais para ser sucessora no grupo empresarial, o que faria? Largaria seu sonho e viveria o que seus pais impuseram? Alberto também tem um...