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Minha mãe chegou e não viu ninguém a vista. Tirou o chapéu, que penso eu ser um modo para mostrar ainda mais classe. E colocou os óculos escuros sobre a mesinha. Sua maquiagem estava intacta, apesar de ter chorado bastante.
Caminhou para a cozinha e não encontrou ninguém. Deu meia volta e rumou para o seu quarto. Quando estava subindo as escadas, Maria estava descendo. Maria pareceu incomodada. Ela estranhou a reação de Maria.
- Maria, tudo bem? - Maria lhe deu um sorriso fraco e falou rapidamente.
- Tudo bem, senhora. - Maria pedia intimamente que ela não perguntasse por mim. Eu ainda não havia ligado como havia dito que faria.
- E a Katarina? - Maria demonstrou todo o incômodo que a pergunta lhe causou. Minha mãe olhou para ela desconfiada. - O que houve?
- A menina saiu.
- Onde ela foi?
- Ela não me disse senhora. - Não era exatamente mentira. Ela não sabia onde eu estava. Apenas com quem.
- Isso é estranho. Nunca que a Katarina saí sem dizer para onde vai. Ela saiu sozinha? - Maria abaixou os olhos. Estava um tanto nervosa.
- Não senhora. Mas ela está bem. Tenho certeza.
- Não estou gostando do rumo desta conversa. Com quem ela saiu, Maria?
Maria engoliu em seco. Olhando em seus olhos, falou por fim.
- Com o Alberto.
- Não é possível! A Katarina teve coragem de sair com esse miserável? Ainda ontem ela afirmou que não queria mais ouvir o nome dele. Hoje ela faz isso. O que ela tem na cabeça? Ele matou o pai dela. Ela não ama essa família. Não é possível.
- Ela foi se inteirar da verdade, dona Sara. - Minha mãe olhou para Maria e ficou ainda mais pálida. Sentiu um arrepio tomar todo o seu corpo.
- Verdade? Que verdade? Do que...
- O que aconteceu aqui anos atrás. O Alberto sabe de tudo. Foi por isso que ele...
- Ele sabe de tudo? - Ela se segura no corrimão e coloca a mão no peito.
- Dona Sara, ele confessou tudo para mim. O porquê de ter feito o que fez com vocês. E ele sabe que o seu Lucio é pai dele.
- Por Deus! Ele vai contar tudo para a Katarina?
- Receio que sim. Ela saiu daqui determinada a saber de toda a verdade. Ela é muito apaixonada por ele.
- Por que permitiu que ela se fosse com ele? E se ele fizer mal a ela? Tenho que avisar ao Lucio. Ele pode jogar isso na mídia. Que escândalo! E a Katarina com ele, do lado dele é ainda mais escandaloso.
- Ela já é de maior de idade dona Sara. Eu não tive como impedir nada. E eu tenho certeza que ele não fará mal a ela. Ele ama a menina. Muito mais do que a senhora imagina.
- Não venha defender àquele ingrato agora. Ele é um meliante. - Maria olhou para ela desacreditada.
- A senhora não coloca a mão na consciência? Não vê que tudo isso que está acontecendo agora é um retorno da vida? Um castigo de Deus.
Maria nunca havia dito nada. Sempre guardava seus pensamentos para si. Mas decidiu falar.
- A menina ama o Alberto, e tudo que ele fez foi por causa da dor por não ter tido uma família. Pelo assassinato da mãe dele. Nenhum de vocês quer assumir, mas Deus não esquece. Em algum momento tudo seria cobrado.
- Como se atreve? Cale-se! Já que não fez o que deveria, fique calada.
- E o que eu deveria? Impedir a menina? Aliás, porque está tão preocupada agora se sempre esteve tão distante dela? - Maria estava muito aborrecida e exausta.
- Maria...
- A senhora troca sua filha doente por uma hora em um salão de beleza.
Sara endireitou a coluna. A raiva estava estampada na sua face.
- Espero que a menina ligue para dizer como está. Mas duvido muito que volte para esta casa. Se o Beto realmente contar tudo, e conhecendo a menina como conheço... Se prepare dona Sara.
- Maldita a hora em que pensei em adotar esse  menino.
- A senhora não nasceu para a maternidade, disso tenho certeza. Com licença.
Minha mãe viu Maria passar por ela e ergueu o queixo. Uma empregada lhe falar assim era o cúmulo. Ela desceu as escadas cheia de raiva. Os olhos estavam vermelhos e ela até bufava. Pegou o telefone e ligou para mim. Eu estava abraçada ao Alberto. Estavamos sentados no sofá em silêncio. Quando meu telefone toca eu me solto dele e vou atender. Vejo o nome da minha mãe, meu corpo estremesse. Olho para o Beto e ele me olha questionando quem é.
- É a minha mãe. - Levanto a tela para que ele veja.
- Vai atender?
- Não sei... O que você acha?
- Se você quiser... melhor falar com ela.
Eu resolvo atender de uma vez.
- Alô.
- Volte imediatamente para casa. Respeite o luto do seu pai.
- Eu não acredito que seja uma boa idéia. Eu não estou bem. Preciso colocar as idéias no lugar.
- Nada do que esse meliante diz é verdade. Confie em mim.
- Eu confio no Alberto, e confio na Maria.
- Maria? O que ela disse?
- Ela não disse nada. Mas ela sabe que o que o Beto diz é a verdade.
- Katarina, volte agora mesmo para casa. - suas ordens me ferviam o sangue. Fechei os olhos para me controlar.
- Eu não vou hoje. Quero poupa-la, então me ajude com isso.
- Então é isso? Vai preferir esse meliante?
- Por que está fazendo isso?
- Ou você volta agora mesmo, ou não vai entrar mais nesta casa. Você me entendeu?
- Você não pode me proibir de entrar na minha própria casa...
- Posso sim. E a casa é minha, não sua. Respeite sua mãe e volte para casa.
- Não sabes mesmo respeitar a liberdade do outro. Se é assim que quer, eu não volto mais. 
- Por que Katarina? O que este estafermo te disse que a fez mudar de opinião?
- Ele só me disse a verdade, mãe. E já sei que você vai negar. Então não quero voltar hoje porque estou nervosa demais para isso. Quero ficar onde estou. 
- Vou demitir a Maria por sua causa.
- Como? Não se atreva a fazer isso.
- Ela defendeu esse meliante, que matou o seu pai! Ela irá para a rua. E já que você resolveu me confrontar... 
- Para com isso! Só vai piorar tudo. Não quero te odiar, mas não estou conseguindo controlar...
- Você não tem motivos para nada. Eu vou dar uma chance para a Maria. Volte agora para casa, e eu não vou demití-la. Mas se não vier agora. A jogo na rua em 2 hrs. Entendido?
Respirei fundo. Mais uma chantagem. Meu pai e minha mãe sempre com as mesmas artimanhas. 
- Eu vou. Deixe a Maria em paz. - Desliguei o telefone sem esperar sua resposta. Eu estava tão brava que minha pele estava vermelha.
- O que houve? - Beto olhou para mim preocupado.
- Ela ameaçou demitir a Maria se eu não for agora. Tenho que ir, Beto. - eu o abracei. ele me abraçou de volta para me reconfortar.
- Eu tenho uma ideia. Meu amor, posso alugar algo para você viver com a Maria. Enquanto eu resolvo as pendências. Vamos todos para a França depois disso. Se a Maria concordar em vir conosco. Acho que a Sara vai sempre usá-la para manobra-la à sua vontade.
- Vou me sentir um estorvo...
- Não diga isso. Você e Maria estão nesta situação por minha causa. Então eu não vejo como um favor, e sim uma dívida com ambas. Por favor. 
- Pensei aqui comigo, que eu poderia comprar algumas ações da sua empresa. Assim eu teria algo sem depender da minha mãe. Mas não sei como fazer isso. Nem se é possível.
- Kate, eu estou aqui por você. Mesmo que não estivessemos juntos. Eu estaria aqui para ajudá-la.
  Eu olhei para ele emocionada. Eu sabia que ele era sincero. O abracei forte. 
- Posso alugar um lugar então?
- Sim. Agora preciso ir enfrentar minha mãe. Eu não queria que fosse hoje. Não mesmo.
- Vai dar tudo certo. Vamos até lá, pegamos Maria e a trazemos para cá. Vocês ficam aqui por enquanto. Sara vai tornar sua vida impossível, e eu quero que você descanse e tenha paz para as próximas semanas.
- Aceito! - Eu dei um sorriso em seguida. - Pobre Maria, estava exausta quando saí.
- Vocês duas precisam repousar. Eu gosto muito dela também.
- Obrigada, meu amor. - O abracei. - Como é bom chamá-lo assim.
- Eu te amo com todas as minhas forças. Mas vamos logo. Para não ficar tarde. - ele pegou minha pequena bolsa e me deu. Caminhávamos para saída quando ele falou brincalhão. - Meu amor, eu tive outra ideia. Vamos transformar a Maria em governanta da nossa casa. Nos casamos e nos tornamos o casal mais jovem com uma governa. Quem sabe entramos até para livro dos recordes.
- Está me pedindo em casamento?
- Eu não faria isso sem um anel e todo o resto. - Nós dois gargalhamos.
- Que pena.

Eu estava no escritório quando meu telefone tocou

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Eu estava no escritório quando meu telefone tocou. Eu atendi prontamente quando vi o nome da Sara. Será que ela estava precisando de algo?
- Lucio?
- Pois não? - ela estava ofegante do outro lado da linha. - O que há?
- Seu filho está tendo um romance com a minha Katarina!
- O Leo? - Eu realmente imaginei que fosse o Leonardo.
- Não! O bastardo! Aquele delinqüente! Não vou aceitar isso, Lucio! Eu vou matá-lo.
- Você está fora de si. Você pode estar enganada. Como a Katarina se envolveu com ele... isso não faz sentido.
- Estão juntos nesse exato momento. Sabe o que mais eu descobri, ele sabe de tudo.
- Tudo o quê?! - Eu me assustei. Levantei da cadeira atordoado.
- O que fizemos com a mãe dele. Por isso se vingou. - Eu suspeitava que ele sabia, mas ter a certeza agora me deixa nervoso. - Ele contou tudo para a Katarina, e agora os dois estão juntos. Tenho quase certeza que ele está vindo com ela, mas eu vou esperar por ele com a arma do Fernando.
- Sara, não faça bobagens. Eu estou indo para aí. - Do jeito que ela estava, com certeza poderia acontecer mais uma tragédia. Então eu fui o mais depressa que pude para chegar antes deles. Eu tentaria acalmar a Sara a todo custo. Por sorte nossas casas eram próximas. Não demorei nem 15 minutos e já estava lá. Os funcionários já me conhecem, entrei sem problemas. Quando passei pela porta, vi Sara sentada na escada. Estava sem os sapatos, e com a arma na mão. Apontou para mim. Eu levantei as mãos em reflexo.
- Ah, é você. Assim que teu filho passar por essa porta, eu atiro nele.
- Esse não é o caminho. Você está fora de si. Eu resolvo.
- Esse infeliz quer ficar com a minha filha. - Ela gritou para mim. - Você não resolve nada! Você e o Fernando não resolveram. Agora eu vou resolver.
- Você vai para a cadeia.
- Não. Se eu conseguir matá-lo, eu digo que foi legítima defesa. Quem vai duvidar de mim?
- Você não vai fazer mal ao Alberto!
- Resolveu assumir o papel de pai? Não estou entendendo.
- Sim. Ele é meu filho. E eu não vou permitir que faça mal a ele.
Nesse momento a maçaneta girou. A porta se abriu. Katarina foi a primeira a entrar. Sara ficou de pé com a arma apontada para a porta. Quando o Alberto entrou, ela atirou.
- Não! - A Katarina atravessou na frente do meu filho. Eu fui para cima da Sara. A Katarina caiu no chão desmaiada.
- Kate! Não! Não! Kate, meu amor. Acorda. - Sangue descia por sua testa. O Alberto abraçava seu corpo desfalecido e já chorava. Sara parou de lutar comigo, quando notou que havia acertado a sua filha. Eu fiquei olhando para o Alberto e para a Katarina sem conseguir ter uma reação. A Sara desmaiou em meus braços. A Maria chegou e encontrou a cena terrível. Estava tão aterrorizada que também desmaiou. Eu olhei novamente para o casal a minha frente. A tragédia que eu tentei evitar aconteceu. Eu me forcei a agir. Soltei o corpo da Sara no chão e liguei para o hospital.

Fragilidade ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora