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- Kate! Kate filha. - minha mãe batia na porta com insistência. Eu levantei meio tonta da cama e fui atender. Eu havia trancado a porta pois não queria ser incomodada. Eu queria ficar sozinha.
- Que foi mãe? - Ela me olha ressentida.
- Já passa das 10hrs. Você nem comeu nada ainda. - O que está havendo com ela? De repente resolveu se importar comigo? Encostei a cabeça na porta e falei sem vontade.
- Agora estou sem fome. Não tenho vontade de comer nada. Quem sabe mais tarde.
- Filha, seu amiguinho está aí. O Leonardo. A Linda também. Ela veio me visitar e... Ah não! O resto é surpresa. Mas sei que você vai amar.
- Nossa, logo hoje que estou sem vontade de nada.
- Não fica assim filha. E eles estão tão empolgados querendo te ver.
- Eu sei. Não vou fazer desfeita. Daqui a pouco eu desço. Vou só me arrumar.
- Coloca uma maquiagem. Estás muito abatida. - Ela se virou e partiu. Eu estava destruída por dentro. Se ela soubesse o turbilhão que existe dentro de mim. Ainda bem que consegui esse contrato. Eu vou para bem longe de tudo que me lembra o Beto. Quero esquecer que algum dia eu o conheci. Só de lembrar, sinto vontade enorme de chorar. Engoli o choro e fui cuidar da minha higiene e me arrumar. Chega de lamentar as coisas. As coisas são como são. Não vou ficar lembrando do que me faz mal. Tenho que ser forte, como sempre.
Me arrumei super rápido. Coloquei um vestido que nunca havia usado antes. Queria me sentir diferente. Ele era simples, bem confortável. Coloquei brincos e pulseira. Um cordão de ouro que minha mãe me deu. Fiz uma maquiagem quase imperceptível e desci sorrindo. Quando entrei na sala de estar. Linda veio me cumprimentar sorridente. Eu gostava muito dela.
- Katarina! Como está bonita. Gostei do seu vestido. - Me beijou as duas bochechas e me puxou para sentar entre ela e o Leo. Ele parecia tímido. Na verdade, ele era assim na presença da minha família.
- A senhora que está sempre linda. Que bom que veio visitar a gente. Como a senhora está?
- Eu estou muito bem, obrigada. O Leo me deu a boa notícia, aí eu pensei, tenho que visitar a Kate e a Sara. Trouxe um presente para você. - Ela me entregou a caixa enorme. - Espero que goste.

- Nossa, é muito lindo

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- Nossa, é muito lindo. Agradeço muito.
- Ainda bem que você gostou. Pensei em lhe presentear com algo útil. Como você vai para a França em breve...
- Eu adorei. Obrigada. - Dei um abraço na Linda. Eu gostava muito dela. Era autêntica. Qualidade difícil entre as amigas da minha mãe.
- Outra coisa que quero conversar com vocês. O Leo me disse a companhia em que vocês vão trabalhar, e por uma maravilhosa coincidência, nós temos uma casa próxima ao estúdio. Então o Leo vai viver na casa, para economizar nos gastos. Como a casa é enorme, gostaria de convidar você a viver lá também. Eu a conheço desde criança. E o Leo também é da confiança de vocês. Acho que será até mais seguro dividir a casa com ele. Acho que seria unir o útil ao agradável. O que vocês acham?
- O Lucio está de acordo? - Minha mãe perguntou preocupada. Eu já imaginava a resposta. Nunca a Linda iria propor algo assim sem a autorização do marido.
- Total acordo.
- O que você acha filha?
- Eu estou aliviada mãe - Eu falei sorridente. - Dividir as despesas com o Leo será melhor do que com estranhos. É muita gentileza de vocês. Vamos cuidar muito bem da casa e manter tudo em dia.
- Temos empregados lá que já são fixos. Costumamos ir para lá quando viajamos para a França. São muitos quartos. Quando formos você não precisa se preocupar com as acomodações.
- Sendo assim será ainda melhor. Estou muito feliz.
- Que coisa boa, Katarina. Eu tenho um carinho enorme por vocês. Agora se me permite, quero ter um particular com a Sara.
- Claro. Vem Leo, vamos para a sala de TV conversar. - Eu fechei a caixa do presente e levei junto comigo para a sala de TV. O Leo me seguiu.
- Diga Linda. Sou toda ouvidos.
- Na verdade não era nada. Eu queria que os dois ficassem a sós.
Minha mãe riu alto. Linda acompanhou sua risada. Sendo que um pouco mais tímida.
- Você acha que eles podem...
- Eu sei que o Leo foi apaixonado pela Katarina antes daquele furacão atravessar o caminho dele.
- A Brenda também conseguiu um contrato, sabia?
- Não! - Ela respirou exasperada. - Gostaria tanto de unir os nossos filhos Sara. Eu gosto muito da Katarina. E eu sei que o meu filho seria feliz com ela. Isso é indiscutível.
- Acho que podemos dar um empurrãozinho. Mas sem que eles percebam. Principalmente a Kate. Ela é um poço de teimosia.
- Eu já fiz. Não notou. - Linda sorriu animada. - E vão viver na mesma casa.
- É, se algo tiver que existir entre os dois, há de existir. Peço a Deus que sim. Leonardo é um doce de rapaz. E esteve todo o tempo de necessidade ao lado da Kate. Então quer dizer que o seu filho teve uma paixão por minha filha? Eu não sabia disso.
- Acho que nem ela sabe. Ele é muito discreto. Mas eu notava pelo comportamento dele com ela. Conheço muito bem meus meninos. O irmão dele também sabe. - Linda sorriu animada. - Quero despertar aquele amor antigo nele. Você me entende, não é? A Brenda não faz bem para ele.
- Completamente. Eu também faço gosto. - Minha mãe não soube falar dos meus sentimentos. Então se manteve calada. Também não falou do meu relacionamento com o Beto. Ela pensou consigo mesma que minha ida a França daria cabo disso.
Na sala de Tv, eu e o Leo nos sentamos no sofá e começamos a conversar.
- Sua mãe é muito legal.
- Eu tenho que concordar, Kate. - Ele sorriu.
- E como foi contar para os teus pais sobre o contrato. Principalmente o teu pai. Como ele recebeu a notícia.
- Por incrível que pareça, ele recebeu muito bem. Eu esperava uma tempestade. Ventos e trovões. Mas não. Ele falou que não se agrada, mas que iria me apoiar de qualquer maneira. Ainda acha que sou gay. Pelo menos foi o que eu entendi. Mas foi de boa. Minha mãe ficou toda orgulhosa, e meu irmão ficou feliz por mim. Por falar no Marco, ele quer te dar os parabéns pessoalmente. O chamei para se juntar a nós hoje a noite.
- Nossa Leo, eu já pensava em não ir. - Eu baixei a cabeça. - Não me sinto muito bem para comemorações.
- Sabe, eu notei que você está com um olhar triste.
- Notou? Nossa, vou ter que trabalhar isso.
- Você não consegue me esconder as coisas. Me diz logo.
Eu olhei para ele. Estava cansada de ser forte. Eu queria chorar muito. Chorar até extravasar aquela dor, até a última gosta. Comecei a chorar. O Leo me abraçou em silêncio. Me permitiu chorar em silêncio. Fiquei aliviada em não precisar mentir para ele. Em colocar para fora. Eu estava sufocando com aquele sentimento dentro de mim.
- Leo, o Beto me enganou. Como sou burra! - Eu me agarrei no braço dele e escondia meu rosto no seu peito.
- Por que diz isso, Kate? Pode falar tudo. Ficará entre nós.
- Eu fraquejei e liguei para ele durante a madrugada. Quem atendeu foi uma mulher que o chamou de querido. Os dois estavam dormindo juntos. Não fazia nem um dia do nosso término. Ele dizia que me amava. - Eu comecei a chorar com ainda mais. - Ele me destruiu, Leo. Acabou com toda a minha resistência.
- Maldito. - Ele me olhava penalizado.
- Como faço para não pensar mais nele? Para não amá-lo mais?
- Não tem uma receita para isso, loirinha. Eu sei que é difícil, mas você vai ter que se esforçar para superar. Pense que ele não vale seu sofrimento.
Eu olhei para o Leo com vista turva pelas lágrimas. Ele estava certo. Mas não era uma tarefa fácil.
- Para começar, não deixe de viver por causa do mal que ele te causou. Essa era para ser o momento mais feliz da sua vida. Então vamos sair, beber uns drinks...
- Você já esqueceu a Brenda? - Ele abaixou a cabeça pensativo.
- Enquanto conversava com ela percebi o quanto nossa relação era tóxica. Cansei. O sentimento que existia deu lugar a indiferença. Quero alguém que me tenha respeito. Eu não julgo o jeito dela, só não combina comigo. Acho que serviu para eu amadurecer.
- Estou vendo. Nem estás xingando ninguém como da última vez.
- Eu estava bêbado- Ele riu descontraído- Mas estou aliviado em ter terminado. Loirinha, você pode pensar da seguinte maneira, se você continuasse enganada, no futuro você sofreria ainda mais. Porque vocês teriam vivido muitas coisas mais e o apego seria mais forte. - Eu o abracei novamente e falei no seu ouvido.
- Não sei o que faria sem você.
- Eu sei. Eu dou o máximo. - Eu ri.
- E para onde vamos essa noite?
- Um restaurante bar. Acho que O Pagre seja o melhor.
- O Pagre. Eu amo. E faz tanto tempo que não vamos. E tem karaokê. Vai ser divertido. - Falei um pouco mais animada.
- Isso! É assim que eu gosto.
- Ei, deixa eu te agradecer. Eu imagino que tenha sido você que pediu para sua família me permitir ficar na sua casa...
- Ah sim... Mas Kate, minha mãe te adora mesmo. Ela ficou toda animada. Você é a nora que ela pede a Deus todas as noites. - Eu ri disso. O Leo e eu ficamos no "e se...", e parece que a vida e todos que estão ao nosso redor torcem para que a gente viva essa teoria um dia. - Então se ela fizer algo constrangedor me empurrando para você, não leve a mal.
- A Linda é maravilhosa. Ela nunca comete uma gafe.
- Você não sabe as coisas que ela fez para juntar a Suzi com o Marco. Lógico que eram sutis, mas dava para notar.
- Me conta, como a tua família reagiu quando você disse que não estava mais namorando a Brenda. Você contou, não é?
- Acho que só não soltaram fogos de artifício porque não tinha. - Rimos, eu já estava melhor, mais leve. - Loirinha, eles não gostam mesmo dela.
- Você acha que seja a classe social?
- Você já me perguntou isso antes.
- Sim. Mas antes você tinha uma idéia da Brenda, agora tem outra.
- Sim. Antes eu achava que era apenas porque ela era de outra classe. Mas hoje, acho que era o jeito dela mesmo que não agradava.
- Sim. Verdade.
- E sua amizade com ela?
- Não somos amigas como antes, mas também não serei inimiga de ninguém. Vou tentar ajudá-la com algumas coisas.
- Admiro você. Ela jogou sujo. Das duas vezes.
- Duas?
- Sim. Quando você me ligou ela falou, segundo ela, para espantar você. Ela achava que a gente estava... bom, você sabe.
- Joguinhos bobos. Que bom que podemos esclarecer.
- Concordo.
- Leo, eu tive uma idéia! Você tá livre?
- A suas ordens. - Ele bateu continência e sorriu.
- Vamos ao shopping! Quero comprar uma roupa para hoje. Quero estar diferente.
- Não acredito... Ai de mim. Mulher fazendo compras é um peregrinação rumo a tormenta. - Eu gargalhei.
- Se não quiser ir, tudo bem.
- Não seja boba. Estou zoando. Pega tuas coisas e vamos.
- Isso! - Fui pegar minhas coisas no quarto e voltei rápido. - prometo que não vou enrolar muito, porque ainda quero ter tempo de fazer outras coisas.
- Já saquei, vai outra para o jantar hoje. Só não muda ao ponto de não reconhecermos você, porque vai ser complicado te achar.
- Que nada. Vou apenas dar um trato no que está precisando.
- Ou seja, nada. Vai ser super rápido mesmo.
- Eu sei que isso foi um elogio. Mas vamos treinar isso aí em. Você vai precisar paquerar novamente.
- Estou enferrujado mesmo. - Rimos e entramos no carro. Não demoramos muito para chegar no shopping, mas ele estava lotado. Parecia que todo mundo tinha resolvido ir no mesmo dia para lá. As filas estavam gigantes. Mas o Leo parecia estar gostando. Ou fingia bem. Na verdade, eu acabei influenciando ele, e ele comprou umas roupas para si. Tudo estava bem. Mas ai então eu o vi. Estava com o Leandro. Junto à ele havia uma moça alta, morena, bonita. Corpo de dar inveja a qualquer uma. Ela segurava o braço do Beto. Eu os observava de longe. O Leo estava olhando uns eletrônicos. Não via o que eu estava vendo. A moça se interessou por algo na vitrine, soltou o braço do Alberto, mas ele ficou ao seu lado o tempo todo. Quando recomeçaram a andar, ele pôs a mão em sua cintura. Por que eu tenho que presenciar isso?
- Kate, olha esse notebook que fera... - Leo notou que falava comigo inutilmente. Eu estava pálida e com o olhar triste. Ele se ergueu e olhou para onde eu estava olhando. Viu o que eu vi. Nesse momento o Alberto também me viu. Estava a poucos metros de nós. Ele manteve a mão na mulher que nem notava o que estava acontecendo. Ela olhava para as jóias de uma vitrine. Leandro também me viu. Olhou para o Alberto e para mim, seu nervosismo era aparente. O Leonardo fez algo que eu não esperava. Tomou minha mão na sua e beijou o topo da minha cabeça. Depois falou suavemente.
- Não dê esse prazer a ele. Não vou permitir. - Eu olhei para ele e sorri levemente. Ainda de mãos dadas com o Leo, me obriguei a andar.
- Parece que a vida tá afim de me torturar.
- Esse cara não vale nada. Ainda ficou encarando você. Vontade de dar umas porradas nele.
- Leo, não inventa.
- Não mesmo. Eu não posso me arriscar a quebrar nada. - Ele riu. - Mas vontade não me falta.
- Esquece. Já passou.
- Um dia ele vai pagar por tudo que está fazendo você passar. Não se preocupa.
- A única coisa que eu quero é esquecer que ele existiu um dia.
Leo viu que eles passariam por nós novamente e me abraçou, me deixando de costas para eles. Mais tarde, quando ele me contou, eu agradeci muito por isso.

Fragilidade ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora