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O domingo passou depressa, e eu agradeci a Deus por isso. Fiquei pouco no velório do meu pai. Me doeu muito vê-lo ali, inerte. Cheio de flores em volta. Minha mãe estava muito abatida, apesar da roupa luxuosa. Ela era assim. Nunca se veste com simplicidade, nem para uma ocasião como esta.
Nenhum dos meus conhecidos esteve lá, apenas amigos próximos e companheiro de negócios do meu pai. Então eu me despedi e falei para minha mãe que precisava ir. Ela pareceu me entender. Eu não me sentia bem. Queria fugir dali o quanto antes. Chorar sozinha era melhor.
Como gostaria que as provas já estivessem perto. Na verdade, queria ja ter feito todas elas e partir. A Maria voltou comigo para casa. Vez ou outra vem aqui no quarto conferir como estou. Ela está aparentando cansaço. Estou com pena dela. Já disse que ela tem que descansar, que eu ficarei bem. Mas ela não me ouve.
Vejo todas as mensagens do meu telefone. São muitas. Então vejo uma do Alberto. Meu coração dispara loucamente. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu não sei se devo ler ou não. Fico olhando para tela por uns segundos, até que decido olhar.
" Kate, queria que você pudesse ver meu coração e ler minha mente para saber da sinceridade das minhas palavras. Eu sinto muito mesmo por seu pai ter partido. Gostaria que soubesse que sinto a dor de ser responsável por isso. Eu estava cego. Espero um dia explicar o que se passou.
Kate, quero que saiba também que jamais enganei o sentimento que você me devotou. Não tenho relacionamento algum com a moça que você viu. Ela é a prima do Leandro. Ela atendeu meu telefone porque sempre fazemos jogos em família. O pai do Léo também estava conosco, tal como o Leandro. Ela atendeu por estar mais próxima do meu telefone. E no shopping, eu estava sendo apenas cavalheiro. Te garanto isso.
Não estou me justificando, estou esclarecendo para que ao menos você não sofra pensando que fui leviano com seus sentimentos. Kate, eu ainda te amo muito. Sei que não podemos mais ficar juntos, mas ao menos me dê a oportunidade de esclarecer meu passado com você.
Vou esperar sua resposta, querida. E sinta meu abraço mesmo que à distância. "

Eu chorava tanto quando terminei. Que saudade dele. Eu acreditava em tudo. Eu sinto que ele não é mal. Eu sei que ele se arrepende do que fez. Mas ele tem razão, não podemos ficar juntos. Isso está me destruindo. Sequei as lágrimas e me concentrei na resposta.
" Beto, como sinto a sua falta. Estou no dia mais triste da minha vida. Sinto falta do seu abraço. Estou abrindo meu coração porque não quero ser mais forte. Já chega. Desculpe não ter ouvido você para tentar entendê-lo. Quero muito ter essa oportunidade. Diga-me quando podemos nos encontrar e esclarecer tudo de uma vez. Eu acredito em você. E sei que é um ser humano incrível. Então me explique o que passou. Maria disse que você tem seus motivos. Ela é muito sábia, eu acredito em vocês. Eu também amo você. Vou aguardar sua resposta .

Eu enviei. Isso me deixou terrivelmente ansiosa. Eu fiquei olhando as outras mensagens, subindo e descendo como que para passar o tempo. Ainda bem que eu não tive que esperar muito. A resposta chegou logo.

"Você pode me encontrar na terça? Posso ir buscar você. Não acho prudente entrar na sua casa. A Sara pode ficar pior se me vir. Por mim te veria hoje mesmo, mas não acho prudente. Você me entende?"

Eu suspirei cansada. Eu não queria prudência. Eu o queria comigo. Pouco me importa a prudência. Eu estava sufocando com tudo aquilo. Por impulso enviei uma resposta.

" Se puder me ver hoje, eu quero. Não vamos adiar mais. Por favor."

Eu me encolhi na cama e fiquei olhando para o telefone. Passaram-se pelo menos dois longos minutos, quando recebi sua mensagem.

" Estou indo buscar você. "

Eu soltei o telefone assustada. Eu estava com medo e feliz. Se é que isso era possível.
- Como vou sair sem ninguém me notar? Não, eu conto tudo a Maria, ela me entende como ninguém. Vou avisar a ela.
Eu me arrumei com simplicidade. Coloquei uma roupa preta devido ao luto e desci as escadas apressada. Maria estava na sala de TV. Ela me olhou estranhando por eu estar com roupas de sair.
- Vai para onde, menina? - Eu fui até onde ela estava e sentei perto dela para falar intimamente.
- Vou ver o Beto. Vamos esclarecer as coisas. - Ela me olhou espantada.
- Mas logo hoje, menina? Eu não acho que será uma boa coisa.
- Acha que minha mãe vai se aborrecer.
- Isso ela vai com certeza. Mas falo mais por você. Menina, o Beto tem verdades muito duras para dizer. Não é a toa que ele está tão ferido.
- Então não será melhor que eu saiba logo? Eu sei que não posso estar com ele. Mas eu o amo tanto, Maria. Eu não quero ter raiva dele. Eu não quero acreditar que ele é mau.
- Mas tem a ver com tua família. Você estará pronta para isso?
- Eu só quero a verdade. Somente isso. As outras coisas eu penso na hora.
- Se é assim... E se dona Sara perguntar onde você está?
- Diga o que achar melhor. Eu não me importo que ela saiba a verdade. Eu não vou me esconder.
- Sempre tão valente. Se precisar de qualquer coisa, me ligue.
- Você precisa dormir. Eu não vou precisar de nada...
- Não tenho sono. Me ligue para me traquilizar, tudo bem?
- Se for para deixar você tranquila, eu vou ligar sim.
Ouvimos uma buzina na frente de casa. Com certeza era o Beto. Meu coração respondeu rápido e descompassado.
- Estou indo Maria. - quando me levantei, ela segurou a minha mão.
- Menina, tente manter a calma. E se você ama alguém, não há impossíveis.
Eu sorri em resposta. Sorrir em um dia como àquele era um refresco para a minha alma. Ela soltou a minha mão. Eu me virei e parti, fechando a porta atrás de mim.

Fragilidade ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora