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Leonardo

Eu estava arrumando umas coisas que eu planejava doar. Eu gostava de esvaziar o closet para criar espaço para as coisas novas que eu planejava comprar. As horas já estavam avançadas quando recebo uma chamada do Ramón. Eu estava aborrecido com ele. Pensei em não atender. Mas decidi atender.
- Quê? - falei de mau gosto.
- Quê o quê?
- Fala logo.
- Ai nossa!
- Nossa o quê?
- Tu estás cheio de coisa. Fica de boa cara.
-Tu agiu mal comigo infeliz. Pelo menos assume, não é?
- Tá. Agi. A Brena é gostosa e eu não resisti.
- Precisava fazer isso na minha cara?
- Preferia por trás? - ele fez a piada de duplo sentido e riu em seguida. Eu não achei graça.
- Cara, ligou para ficar de graça?
- Não. Eu na verdade estou preocupado com a loirinha.
- Kate, para você. O que tem ela? - Eu realmente fiquei preocupado, mas não dei demonstrações.
- Cara você não vê TV? Está em todos os noticiários. Vocês são tão amigos, pensei que você teria mais informações, mas ao que parece...
- O que aconteceu?! Eu procurei o controle da minha TV, mas não encontrava embaixo da minha bagunça na cama.
- O Fernando, pai dela, está em estado grave após sofrer um acidente. E meu tio estava comentando que eles faliram. Pelo menos esse é o comentário da nata.
- Como?! Não deve estar certo. - Meu coração gelou. Como tudo isso pode estar acontecendo com a Kate e eu não sei de nada.
- O acidente foi agora a noite. Liga para ela. Que amigo és tu?
- Quem me julga? O cara que pega a namorada do melhor amigo.
- Ela se ofereceu. Se eu não pegasse, ficava feio para mim. E vocês terminaram, ou não?
- Sim. Ela pediu para voltar, mas eu não quis.
- Que bom cara. Você merece coisa melhor. Sinceramente, ela fala muita coisa ruim de você para os outros. Desmoralização geral. Eu não deixaria você voltar. Seria muita humilhação. Sou teu mano.
- Vamos ver essa lealdade ai em. A próxima tu não pega.
- Arrume uma que não se ofereça.
- Tu és um cara de pau.
- Sou teu amigo. Eu te conto depois o que ela me disse. Assim tu não volta mesmo. A não ser que não tenha vergonha na cara.
- Nem precisa. Decidi que ela é página virada.
- Tem a Lúcia dando sopa. É uma morena linda. E o oposto da tua ex. Não é interesseira.
- Não quero nada com ninguém agora não. Chega de confusão.
- Tudo bem então.
- Tu vai dançar com a Brenda?
- Vou mano. Ela é monstra na dança, espero que não seja um problema para você.
- Não. Eu vou dançar com a Kate.
- Ai sim em...
- Cara a gente viajou no assunto, preciso saber o que está acontecendo com ela. Ela pode estar precisando de mim.
- Liga para ela amanhã. Agora está tarde. Eu liguei para você porque sou cara de pau mesmo.
- Verdade. Já está muito tarde. Cara, valeu por me avisar.
- Tudo bem. Mano, foi bom falar com você novamente.
- Tá. Agora chega. Vai dormir. Fui.
- Vai. Boa noite.
- Boa.
Eu desliguei e imediatamente mandei uma mensagem para a Kate.
" Loirinha, estou preocupado. Sei que você está furiosa comigo. Mas, por favor, fala comigo. Outra coisa, você se enganou. Eu não voltei com a Brenda. Sinto muito por ter magoado você. Te adoro."
Terminei e enviei a mensagem.
Depois coloquei o celular no carregador. Aquele dia estava sendo estranhamente pesado. E eu tinha a certeza que não conseguiria dormir.

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Alberto

Kate estava adormecida ao meu lado. Eu alisava seus cabelos. Eu estava cansado, mas não conseguia pegar no sono. A empresa do Fernando virou um problema meu. Meus socios não aceitariam um preferitismo. Comprar a empresa com um valor acima do mercado estava fora de questão. A única coisa que eu poderia fazer, era reformular a empresa e pedir a ajuda do Leandro para injetar na bolsa. De toda forma era um risco. Eu olho para a Kate e sinto meu coração contrair. Por que me apaixonei por você? Começo a pensar que isso não vai resultar em boa coisa...
- Mas eu te amo. - Falo com lágrimas nos olhos. A pressão estava grande demais nas minhas costas. A verdade está me oprimindo. Nem consigo comemorar minha vitoria. Kate se mexe e se afasta de mim. Eu aproveito e saio de junto dela. Desço até a cozinha para pegar um pouco de vinho. Eu estava precisando de álcool. Me surpreendo com a presença da Maria na cozinha. Ela parecia pensativa.
- Maria? O que faz acordada?
- Menino, eu não consegui dormi. Uma nuvem negra desceu sobre essa casa. - Eu abaixei a cabeça. Eu trouxe a tal nuvem negra. - Menino, por que fez isso?
- Creio que você sabe, Maria.
- Menino, eu sei muitas coisas... Tem que ser mais claro.
- Eu descobri como se deu a minha adoção. - Ela arregalou os olhos e engoliu em seco. - Minha mãe morreu por causa disso, Maria. Você sabe disso.
- Como você descobriu uma coisa dessas? Pensei que apenas as pessoas dessa casa sabiam.
- Eu tenho uma família de verdade, Maria. Que diferente desta, querem me ver bem. Se importam comigo. Eles viram a minha vontade de encontrar meus pais biológicos e me ajudaram. Um detetive seguiu um rastro de informações. Foi muito dificil. Até que ele encontrou uma pessoa que trabalhava aqui, junto com você e com a minha mãe. O nome dela era Tereza Cristina.
- A Tereza não tem mesmo juízo. Pensei que ela tinha voltado para Custódia. Foi para onde ela disse que iria. - Maria falou exaltada.
- Ela voltou, Maria. Mas a encontramos. Ela pediu muito dinheiro para dizer a verdade.
- Mas você não pensou que tenha sido mentira?
- O detetive buscou essa resposta também, Maria. A enfermeira que ficou com a minha mãe confirmou tudo.
- E o que mais você sabe?
- Quem é o maldito do meu pai. - Ela levou a mão a boca assustada com as minhas revelações. - Ele é um amigo do Fernando. Na verdade, minha mãe trabalhava para ele, e ele à seduziu. Quando ela engravidou de mim, ele achou uma maneira de escoder isso com a ajuda do seu amigo, o Fernando, não é?
- Sim. Penso cá comigo que no fim, dona Sara impediu que ele à matasse. Se livrar de uma pobre coitada não é difícil.
- Não fizeram porque mais pessoas sabiam da gravidez dela. A esposa do meu pai, por exemplo. A Sara queria um bebê e fez com que minha mãe prometesse uma adoção consensual. Em troca a trouxe para cá. Minha mãe era moça simples do interior. Por isso era indefesa. Foi uma vítima nesse jogo de interesses. Fernando prometeu ao seu amigo que nunca revelariam a verdade.
- Até que a Tereza...
- A Tereza quis instruir a minha mãe a fazer o contrário. Ela me queria. A Tereza disse para ela denunciar o meu pai pelos abusos e pedir uma pensão a família.
- Meu filho, você sabe de tudo mesmo...
- Sim. Cada detalhe. Tentamos conversar com a médica que atendeu minha mãe aqui, mas ela não quis. Nem com uma compensação.
- Nem todos tem a coragem da Tereza. - Maria falou chorosa. - Me perdoe menino. Eu sei de tudo, mas me calei por amor a menina e por medo também. Não nego.
- A médica sabe que fez algo ilegal Maria. Mas não tenho provas para acusar ninguem formalmente. - Me arrumei na cadeira e perguntei esperançoso. - Você sabe de onde minha mãe veio, Maria? Nos disseram uma cidade, mas não acho que esteja certo.
- Sei que ela veio do Norte, para as bandas do Pará. Mas nada além disso menino. Mas ela era uma moça sem conhecimento nenhum. Veio com a cara e a coragem. Era moça bonita. Pena não ter nenhuma foto.
- É realmente uma pena. Eu queria encontrar minha família materna. Para incluir o nome dela na minha certidão, assim que o processo terminar.
- Você sabe como ela morreu?
- Sim. Foi após ao parto. Trancada em um quarto. Ela tentou fugir...
- Mas o seu Fernando e a dona Sara disseram que o teu pai e eles mesmos iriam atrás dela. Que eles eram muito poderosos. Dona Sara ficou injuriada quando soube que ela não queria mais doar você, e disse que não iria mais proteger você e ela se ela fugisse. Teu pai veio até aqui e disse que o único jeito dela sair bem e você também era ela seguir com o plano inicial. Ela ficou muito assustada, mas decidiu que não daria você. Então dona Sara a trancou no quarto com 2 seguranças na porta. E uma enfermeira que foi muito bem paga para ficar calada. Nessas condições ela entrou em trabalho de parto. Houve complicações, mesmo assim você nasceu aqui. Ninguém mais presenciou, essa era a idéia da dona Sara. Sua mãe morreu...
- Por negligência. Foi um crime atrás do outro Maria. Eu descobri isso há uns dois anos. E cresceu em mim a vontade de fazer justiça. Mas agora...
- Você atingiu a Katarina sem querer.
- Sim. Ela não sabe de nada disso. Não tem idéia que eu comecei tudo isso na intenção de me vingar. Depois de tudo que eles fizeram apenas para suprir um capricho da Sara e para esconder o crime do meu pai, ainda se arrependem da adoção e me mandam para o exterior por medo de eu ficar sabendo de tudo? Depois que a Sara engravidou da Kate eu perdi o valor, se é que eu tive valor algum dia para eles. O Fernando me trata como um nada. E eu não posso negar que me senti bem ao pensar na sua falência. Ao pensar que eles deixariam a nata e passariam a ser como minha mãe. Eu os cercaria para que demorassem a crescer novamente.
- Meu filho, você está muito amargurado. Isso está lhe fazendo mal.
- Está mesmo. Eu não estou conseguindo lidar com a situação. Estou namorado a Kate, mas desprezo com todas as forças a família dela. E tenho que fingir para ela que eu apenas fiz negócios. Quando na verdade foi uma vingança muito bem elaborada afim de destruí-los.
- Não sabia que vocês estavam juntos. Apenas suspeitava que se gostavam.
- Não sei até quando, mas estamos. Eu sou um homem, Maria. Me permiti fantasiar, me apaixonar. Amo a Kate loucamente. Mas o que eu fiz não tem volta.
- O que pretende fazer? Menino, eu sei que você é bom...
- Eu não sei mais se sou bom ou ruim. Eu fiz o que achava justo. Mas a Kate está no meio de tudo isso.
- Ajude a menina.
- Quando ela souber de tudo... Eu já imagino como será sua reação.
Maria ficou em silêncio, isso era uma confirmação silenciosa.
- Eu sei que você não dirá nada.
- Meu filho, eu estive em silêncio até aqui. Tenha certeza que assim ficarei.
- Mas não vou enganá-la para sempre.
- Meu filho, já que você já sabe de tudo, vou lhe contar uma coisa.
- O quê? - Ela parecia juntar coragem para falar.
- Você ir para o exterior foi exigência do seu pai biológico.
- Como assim?
- O seu Fernando é frio, como você já conhece, mas ele não tinha tido a ideia de mandá-lo para longe. Mas um dia seu pai esteve aqui e, pelo que eu soube, pediu para o Fernando mandá-lo para o internato. A esposa dele sabe quem você é. Foi um pedido dela para não encontrar com você com frequência. Não sei o porquê do seu Fernando acatar essas coisas, mas ele não pensou duas vezes.
Eu fiquei surpreso. Então eu estava enganado em uma das coisas. Será que tinha algo mais.
- Maria, e por que o Fernando entrou com o processo de retirada de sobrenome?
- Isso não sei. Seu Fernando andou com aquela conversa da Kate ser a única herdeira, mas acho que teu pai biológico tem a ver com isso também.
- Entendi. Se eu não achar minha família materna, os pais do Leandro querem fazer esse registro. Mas será fora do país.
- Meu filho, que vida difícil a sua.
- Maria, nem me fale. Estou a ponto de enlouquecer.
- Menino. - ela pegou na minha mão. - O que mais te perturba hoje é a tua relação com a Kate?
- Na verdade eu já previa tudo isso... Mas não previa o acidente. E a empresa do Fernando ficar à deriva. Me sinto responsável.
- Então vou lhe dar um conselho, diga a verdade para Kate...
- Ela vai me odiar. - Falo perturbado.
- Diga toda a verdade. Pode ser que ela entenda seus motivos.
- Não precisa mais. - Kate apareceu na cozinha com os olhos vermelhos denunciando que estava chorando há um tempo. - Eu ouvi tudo. Por que fez isso comigo, Alberto? Aposto que me seduzir seja mais um plano dessa tua vingança.
- Kate?! Espera... não é isso... - Eu me levantei para ir para junto dela.
- Não chega perto! - Ela grita para mim. Maria estava desorientada sem saber o que fazer. E eu desesperado, não é possível que ela tenha escutado tudo. Não faz sentido.
- Kate o que você ouviu?
- O suficiente. Agora eu sei que você estava mentindo para mim. Meu pai tinha razão.
- Você vai dar razão a eles? - Aquilo me feriu profundamente. Como ela pode dar completa razão a eles? No mínimo eu tive meus motivos. - Eu tenho os meus motivos.
- Motivos? Meus pais ajudaram você, não existem motivos fortes o suficiente para você ter prazer em vê- los destruídos.
- Kate não diga isso a mim. Eu sei o porque...
- Não quero mais saber. Pelo visto, não posso confiar em mais ninguém nessa vida. - Ela falou olhando para Maria. Eu estava arrependido, mas ao mesmo tempo magoado por ela nem tentar me entender.
- Acho melhor eu ir agora. Conversamos quando estiver mais calma.
Ela não me disse mais nada. Eu subi para pegar a chave do carro e sai sem passar mais por elas. O dia estava quase amanhecendo. Numa coisa a Kate tinha razão, se eu já tinha tudo em mente, não deveria se quer ter me aproximado dela. Eu sou um homem feito, não um adolescente. O que sinto por ela vai passar. E eu fiz o que deveria ter feito. Meu único erro foi me envolver com ela.

Fragilidade ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora