O custo de uma brincadeira.

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Foi nas férias de 2013, quando eu e meus amigos viajamos praticamente sozinhos, o único responsável era pai de um amigo meu, mas ele não ligava muito para a gente então era fácil sair a noite. Éramos jovens sem a mínima noção de nada, menores de idade, bebemos, transamos, foram os melhores dias da minha vida, até decidirmos brincar com o inevitável.
Tudo começou na noite de sexta-feira, um dos meus amigos teve a ideia de fazermos um jogo, uma brincadeira, chamamos algumas meninas e o pai do meu amigo não estava na casa esse dia. A brincadeira era verdade ou desafio, você gira a garrafa, a parte de baixo vai para a pessoa que pergunta e o bico para a pessoa que vai responder, essa pessoa também tinha o direito de escolher verdade ou desafio, e assim foi, até cair na minha vez e eu escolher o desafio, quem me desafiou foi uma garota chamada Maria, ela era muito gostosa, então eu não podia fazer feio na frente dela, ela me desafiou a invocar a loira do banheiro, ou tentar pelo menos, eu aceitei porque não estava nem aí, para mim era só uma história para assustar crianças. Foi meu pior erro.
Eu fiz todo o processo para a invocação, e no final ainda a chamei de puta, depois disso tudo ela não apareceu, achamos que tinha falhado e voltamos a brincadeira para jogar mais um pouco, depois fomos dormir, tinham bastante quartos na casa, com camas de casal e beliches. Eu sempre tive problemas para dormir então quando todos já estavam nos quartos e deitados eu quis sair para tomar um ar e pensar, aquela brincadeira estava na minha cabeça ainda. Quando eu estava do lado de fora, senti um frio na minha espinha, como se tivesse alguém me observando, eu olhei para trás e não vi ninguém, até eu ouvir alguém bater na janela do banheiro, era uma mão com uma unha vermelha, eu imaginei que deveria ser a Maria, é claro que eu entrei, quando eu abri a porta do banheiro já sem camisa, não vi ninguém, olhei no box e só vi um sabonete no chão, eu fui lavar o rosto e quando eu acabei eu a vi, era uma menina de cabelos loiros e olhos vermelhos, sua mão estava ensanguentada, eu molhei os olhos de novo e ela sumiu.
Eu fui até a cozinha beber um copo d'água, até eu ouvir alguém gritar, corri até o quarto no andar de cima e vi algumas meninas chorando, quando eu entrei no quarto parecia que estava em um filme de terror, meus amigos todos mortos, alguns pendurados pelas pernas, outros pregados nas paredes, alguns sem braços, outros sem cabeça, dilacerados, como se um animal tivessem os matados, o sangue pingava e a cada gota eu ouvia o som do meu coração. Eu vi meu amigo Ben, ele estava sem o escalpo, seus olhos estavam perfurados, sua barriga aberta e arranhada, suas pernas arrancadas, eu não quis acreditar naquilo, eu quis acordar mas não era um pesadelo.
Foi quando o pessoal que estava no andar de baixo disseram que todas as portas estavam trancadas, que eles não conseguiram nem mesmo arrombá-las, nos estávamos presos com um demônio dentro de casa, que não sabíamos como enfrentar, foi aí que ouvimos passos, mas não eram passos fortes, eram leves como de uma criança, vimos ela sair do quarto, com um coração na mão, um amigo meu que estava no andar de baixo foi para cima dela, mas ele morreu, ela esmagou a cabeça dele com a mão e depois desapareceu, só restavam mais quatro pessoas e o pai do meu amigo, era eu e mais três garotas, que ficavam atrás de mim o tempo todo, me usando como escudo, mas eu não saberia o que fazer.
Estávamos na sala, ouvimos um barulho estranho, parecia alguém tentando gritar, e era mesmo, quando olhamos para trás vimos a Vitória sendo puxada para dentro do espelho por várias mãos, todas pobres e cobertas de sangue, tentamos puxá-la de volta, mas nossa força não foi o suficiente, ela já estava sendo devorada por várias almas. Logo depois a outra menina também morreu, foi arremessada para o alto e bateu a cabeça na pia da cozinha, ela morreu instantaneamente. Sobrara só eu e mais uma, a Maria, vimos o pai do nosso amigo entrar na casa, quando fomos até ele vimos a porta se fechando com força o partindo em dois, Maria não aguentou e vomitou, tentei acalmá-la mas foi quando eu a vi, ela olhava para mim com o pescoço torto e cheia de sangue, o sangue dos meus amigos, ela veio até nós se ajoelhou perto da gente e passou a mão na cabeça da Maria, quando a mesma olhos nos olhos da loira ela tentou gritar, mas ela botou a mão na boca dela e a beijou, enquanto ela a beijava, Maria ficava mais velha, até chegar em um ponto em que ela morreu, o rosto da jovem garota que eu achei linda, era agora um rosto de uma senhora de mais de cem anos de idade.
Foi então que ela olhou para mim, se aproximou, e começou a me enforcar, ela me ergueu e me jogou na porta do banheiro, nesse momento todas as portas da casa se abriram, ela entrou no banheiro, olhou para mim e entrou dentro do espelho, foi aí que eu vi algo se escrevendo no espelho com sangue, estava escrito, "um presente para você se lembrar de mim, com ódio, a menina que você chamou de puta."
Eu saí da casa e sentei na escada, olhei para o céu e comecei a chorar, depois fui para longe dali.

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