Um devasso incurável

Capítulo 11. Calcanhar de Aquiles

A condessa de Mountbatten está grávida! 

A notícia foi anunciada nesta manhã. O casal, que celebrara o casamento há alguns meses, pareceram extremamente felizes com a notícia e a Sra. Brown, mãe da condessa, ficou radiante com a ideia de ser avó mais uma vez.

A Sra. Annabel será uma grávida muito linda, com toda certeza. Felicidades ao casal e saúde para o bebê!

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Cinco dias depois, na manhã de domingo, Marie Brown olhava com desgosto para a sua filha do meio, sentada no sofá à sua frente da casa da família.

Annabel estava grávida. Ela e o marido, o conde de Mountbatten, se casaram há poucos meses e já iriam ter um filho, anunciaram isso para a família algumas horas antes e, desde então, Alice estava escutando as reclamações e lamúrias da mãe. Annabel, a irmã mais nova, estava grávida. Alice, por outro lado, era o desgosto da mãe, a filha que nunca lhe agraciaria com um neto, nunca conseguiria arranjar um marido, talvez o irmão devesse dobrar seu dote para atrair algum caça-dotes, sugeriu a mãe. Alice era uma vergonha para todos os antepassados da família Brown.

Apesar de estar sendo cortejada pelo Sr. Campbell, a mãe dizia que ela nunca iria se casar, ele veria como ela era uma dama sem nenhum atributo e a dispensaria. Ela não recebera nenhum pedido de casamento naquela temporada e pouquíssimas visitas de cavalheiros solteiros. A temporada anterior fora um pouco melhor, mas nenhum cavalheiro a queria.

- Annabel toca piano, faz bordados impecáveis, é linda. Qualquer homem que a via, se jogava aos seus pés. – Gralhou a matrona. – Eu sempre disse para você aprender um instrumento e melhorar seu bordado, mas você nunca me deu ouvidos. Nunca arranjará um esposo.

- Mamãe... – ela tentou, mas aquilo era um monólogo, não um diálogo.

- Faz dias que o Sr. Campbell não aparece em nossa casa, já deve ter notado o quão entediante você é. – ela continuou com o sermão. – Ele é a sua última chance, Alice Edilaine Brown, se o Sr. Campbell não a pedir em casamento, eu vou arranjar um esposo para você. E farei questão de que seja um velho corcunda e careca.

A ideia não era ruim, um velho corcunda e careca não iria querer uma esposa para produzir herdeiros, só uma esposa para gerir sua casa e, talvez, cuidar dos filhos do casamento anterior. Mas Alice já estava cansada de ouvir tudo que a mãe dizia, ela soltou um suspiro desanimado e se levantou do sofá onde estava, não se importou em dizer nada, apenas foi para o seu quarto e se trancou lá, deixando as lágrimas rolarem.

***

Enquanto ela chorava no seu quarto, almejando algo que nunca teria, Joe estava no clube com Anthony, que não parecia nada feliz.

- Você sabe o que é isso? Isso é tortura. – Anthony dizia, pura raiva na voz.

- Ah, como o casamento pode ser algo agradável para um homem, não é mesmo? – Joe comentou com sarcasmo e escondeu o seu sorriso atrás do copo de uísque. – De qualquer forma, Sophie está grávida, vocês não podem ter muitas aventuras.

- Mas isso não significa que não exista coisas que ainda podemos fazer. – Argumentou o irmão. – E ela ameaçou me deixar para fora da nossa cama por um mês se eu não recebesse o almofadinha do nosso primo na Casa Campbell. Um mês. Nunca pensei que poderia gostar menos daquele idiota, mas agora, sou capaz de dar um tiro na testa dele.

- Serão apenas quinze dias sendo um bom anfitrião. – Joe disse com um sorriso. – O que não fazemos por um casamento feliz, não é mesmo?

Anthony soltou um humpf grunhido.

- Eu só gostaria de saber quem propôs essa tortura para a minha esposa. Ela fez isso depois que visitou a mamãe, aposto que tem um dedo dela nisso.

Joe não aguentou e abriu um sorriso largo, muito divertido. Anthony franziu a testa em incompreensão.

- Você está por trás disso. – disse ele depois de um momento. Uma afirmação, não uma pergunta, e sua expressão demonstrou sua raiva.

- Talvez eu tenha dado uma pequena ideia para a mamãe, que pediu a ajuda da sua esposa para conseguir o que ela desejava. – Joe deu de ombros.

- Desgraçado. – Murmurou Anthony.

- Isso, querido irmão, é apenas uma retribuição pela sua insistência para que eu me case. Estou provando para você como é ótimo ser casado. – Joe declarou sem um pingo de culpa, ainda rindo da reclamação do irmão.

Por um momento, Anthony apenas bebeu seu uísque e fuzilou o irmão com o olhar, claramente querendo dar uns murros em Joe. Os dois sempre foram ótimos amigos e dividiam segredos, Joe sabia qual era o calcanhar de Aquiles de Anthony, mas Anthony também sabia qual era o de Joe, sabiam onde atacar um no outro para conseguir seus propósitos.

- Já que abordamos o assunto, como estão as coisas com a Srta. Brown? – Anthony sorriu e preparou-se para jogar o sal na ferida do irmão. – Seus poderes de sedução já surtiram efeito?

Joe apensa grunhiu um humpf, e olhou com ódio para o irmão. Foi a resposta que Anthony queria, estava com os dedos dentro da ferida dele, metaforicamente falando, mas queria mais.

- Seria cômico se não fosse trágico, não acha? – ele disse, contendo a vontade de rir. – Um devasso que consegue conquistar qualquer dama, mas, quando se apaixona, ela não o quer... É, isso é realmente engraçado.

- Eu não estou apaixonado! – Joe revirou os olhos. – Nós temos muito em comum, somos amigos há anos. E ela se encaixa tão bem na nossa família, é perfeita para mim.

- Você está apaixonado. – Insistiu o irmão mais velho. – E ela não quer você.

- Não estou apaixonado. Que Diabo!

- Bem, chame como quiser, então. Mas você está apaixonado e sendo rejeitado.

- Lembro-me muito bem que a sua esposa se demitiu do trabalho, mudou de casa e mentiu para você. Isso também não é rejeição?

Anthony fechou a cara, era bom tocar as feridas dos outros, mas doía quando tocavam as próprias.

- Era uma razão totalmente diferente, Sophie já me amava. Alice não o ama e não vai aceitar se casar com você.

- É claro que vai.

- Não, ela não vai. A não ser que você faça algo que a obrigue a casar-se.

Joe ficou surpreso.

- Você está mesmo sugerindo novamente que eu a desonre apenas para que se case comigo?

- Me parece ser a única opção. – Ele deu de ombros. – E, se você tem a intenção de se casar com ela, não vejo problemas. Não é como se estivesse seduzindo-a por diversão e depois fosse abandoná-la.

- Mas isso não é certo. – Joe argumentou. Já tinha cogitado a opção, mas parecia imoral demais.

- Ou então você pode continuar sendo rejeitado. – Anthony sorriu.

- Às vezes eu odeio ser seu irmão. – Joe declarou e se levantou.

- Foi um prazer conversar com você, querido irmão. – Anthony declarou enquanto fitava Joe sair do clube.