Epílogo

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Alguns meses depois

Alice estava na cozinha, acabando de colocar os ingredientes do bolo na bacia que Beatrice mexia. A menininha tinha só três anos e já amava cozinhar com a mãe. Depois do casamento, Alice e Joe compraram uma propriedade na parte rural da cidade, não era muito grande, mas tinha um quintal maior que a casa na cidade, no meio do movimento da capital.

Então, em uma viagem de Joe para o Orfanato da Srta. Dusk, em Clark, ele conheceu Beatrice e se apaixonou pela menininha, quando voltou, ele falou tanto que convenceu a esposa de que voltariam para lá no dia seguinte e adotariam a menina. Beatrice tinha cabelos castanhos do mesmo tom dos de Alice, os olhos eram azul-acinzentados e ela tinha uma educação e um modo de falar que parecia que nascera tendo aulas de etiqueta e refinamento.

Quando eles chegaram lá, eles descobriram que Beatrice tinha um irmão mais velho que também estava no orfanato, Simon tinha onze anos na época, agora já estava prestes a fazer treze. Eles tinham perdido os pais em um incêndio que ocorreu na fazenda em que moravam, e só sobreviveram porque o menino fugiu de lá com a irmã no colo. O menino era tão encantador quanto a irmã. Os quatro se apaixonaram no mesmo momento em que se viram, não demorou muito para os dois começarem a chamar Joe e Alice de papai e mamãe.

Beatrice não desgrudava de Alice nem um segundo sequer, já Simon vivia correndo atrás de Joe, acompanhando-o nos compromissos para lidar com os colonos e inquilinos das propriedades Campbell sempre que podia.

- Assim está bom, mamãe? – a menininha perguntou, parando de mexer o bolo.

- Perfeito. Agora vamos colocar no forno. – Alice disse com um sorriso, seu coração sempre se enchia de amor ao ser chamada de mamãe por algum dos meninos.

Joe insistia em contratar criados para cozinhar, mas Alice nunca permitiu. Ela insistia em cozinhar, só permitiu que ele contratasse criados para limpar a casa e uma governanta para ajudar, eles moravam no campo e não precisavam de mordomos ou cozinheiros. E ela também gostava de passar um tempo na cozinha com Beatrice.

Ela colocou a massa do bolo em uma forma e colocou no forno, tirando a assadeira de biscoitos que estava ali. Era uma tarde com uma leve garoa, Joe estava nos estábulos e Simon provavelmente estava atrás.

- Agora, lindinha, pegue sua sombrinha e vá chamar o papai e o seu irmão. – Alice disse com um sorriso enquanto a menina tirava o avental.

Ela ficou olhando a menina sair, sua filha, e sentindo um pouco de tontura. Talvez precisasse comer, ela estava comendo muito ultimamente, mas sentia muita fome.

Em poucos minutos, os gritos alegres da menina irromperam pela casa, Alice olhou para a porta dos fundos e viu o marido entrando em casa com a menina sobre os ombros, Simon sorria logo atrás. Os dois veneravam o pai, era a função de Alice ser a chata que mandava Joe parar de carregar Beatrice nos ombros.

- Tudo bem? – Joe colocou a menina no chão e deu um beijo no topo da cabeça de Alice, ele parecia extremamente feliz.

Ela apenas acenou com a cabeça e começou a servir o chá para os quatro, colocando os biscoitos ainda quentes na mesa e se sentando para comer também. Alice estava sentindo-se faminta, mas também sentia um pouco de nojo do cheiro do chá e dos biscoitos, não conseguia explicar.

Quando ela acabou o primeiro biscoito e tomou mais um gole de chá, teve que se levantar correndo e correr para o banheiro dos criados, atrás da cozinha. Ela sentiu o estômago se esvaziar no urinol enquanto segurava os cabelos para trás para não sujar. Sentiu uma mão passar pelas suas costas de forma tranquilizadora, em movimentos para cima e para baixo.

- Você está bem? – Joe perguntou de maneira suave.

Ela concordou com a cabeça e se levantou para limpar o rosto com uma toalha, vendo os filhos na porta com um olhar preocupado.

***

A mesma cena se repetiu por três dias, até que em uma manhã Joe pediu para Simon levar Beatrice para o quarto de brinquedos e deixar os dois conversarem a sós na cozinha. Alice sabia o que ele diria, mas não podia ser real.

- Você acha que está...? – ele parou de falar, talvez se negando a acreditar também.

O coração dela acelerou e uma lágrima escorreu por seu rosto, Joe a abraçou apertado.

- Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei.

- Shhh, calma. – Ele disse, passando as mãos pelas costas dela. – Querida, o que foi que o médico disse quando você se acidentou?

Alice estava pálida, Joe estava preocupado com ela.

- Ele disse que eu teria muita dificuldade para conceber, era quase impossível, talvez eu nunca conseguisse.

- E quando foram suas últimas regras? – a voz dele não era anda além de amigável e carinhosa, não tinha julgamentos nela ou esperança.

Ela congelou. Nunca pensou que poderia engravidar, então por que marcar no calendário quando a regra vinha? Nunca teria um filho, para que se preocupar com períodos férteis?

- Eu não me lembro. – Ela soluçou. – Me desculpe.

- Ei. – Ele chamou, segurando o queixo dela para olhá-lo. – Não precisa se desculpar, nós vamos ao médico e vamos descobrir se pode ser verdade. Sem esperanças, sem planos, apenas uma visita ao médico.

- Eu... eu disse que não poderia. Nós adotamos duas crianças porque eu não podia. Eu não entendo. – Ela soluçou, Joe limpou as lagrimas dela e lhe deu um beijo. – Talvez nem vingue.

- Independente de podermos ou não ter filhos, eu me apaixonei por Beatrice e Simon, iria querer adotá-los mesmo que tivéssemos nossos filhos biológicos. – Joe consolou-a. – E, se você estiver mesmo grávida, vamos cuidar de vocês para que ele nasça saudável, mas sem pressão, lembra?

Ela concordou e ele sorriu para ela, dando-lhe um beijo. Joe já era pai, já era feliz, mas se ela estivesse grávida, isso não diminuiria seu amor por Beatrice ou Simon, eles continuariam sendo seus filhos.

***

O médico confirmou. Alice estava grávida de quase quatro meses.

Uma dama, em um quarto de uma casa na capital, sentada à sua escrivaninha, escrevia:

Depois de quase dois anos de casamento, Lady Alice Campbell finalmente vai dar à luz ao terceiro filho do casal, mas o primeiro biológico.

Muita saúde ao bebê e felicidade à família.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Joe estava radiante, assim como Alice e os filhos. As crianças ficavam mais animadas a cada dia, a barriga de Alice crescia cada vez mais. E ela cada vez mais ficava de repouso, com o histórico dela, o médico disse que precisava de muito cuidado, então ela finalmente mandou Joe contratar os criados para cozinharem e uma babá para as crianças, mas apenas até o bebê nascer e ela poder voltar a fazer tudo sozinha. 

Um devasso incurávelOnde histórias criam vida. Descubra agora