Um devasso incurável

Capítulo 7. Acho que gosto dela

Esta autora possui o dever de dizer isso e expressar a opinião de todas as damas da alta sociedade: Nós não aguentamos mais esses bailes chatos e monótonos da sociedade de Gruffin!

São sempre as mesmas músicas, as mesmas danças, os mesmos cavalheiros nos tirando para dançar... Precisamos de algo para agitar os eventos da alta sociedade.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Irritado consigo mesmo por ter feito aquilo, e com Alice por ter ido embora daquela forma, Joe se levantou e caminhou para casa em passos pesados.

- Joe? - a mãe chamou-lhe assim que ele passava pela sala de estar. - Está tudo bem? Como foi com a Srta. Brown?

Ele parou, encarou a mãe e quase respondeu, mas então entendeu o que tinha acontecido. Abriu um sorriso aborrecido e se aproximou mais dela.

- Como sabe que eu estava com ela? A senhora me mandou esperar na fonte só para encontrá-la, não foi?

A expressão de surpresa dela não o convenceu, era uma ótima atriz.

- Como? - ela perguntou, fingindo não ter entendido.

- Mamãe, eu conheço a senhora. Por que foi que me pediu para eu esperá-la na fonte e depois não apareceu para o passeio pelo jardim? - ele cruzou os braços. - A senhora nunca fez parte do clube das mães casamenteiras, nunca nem foi sutil o suficiente para me manipular sem que eu perceba. Por que quer tanto que eu me aproxime da Srta. Brown?

- Joseph, eu não estou...

- Gostando do meu tom? - atalhou ele. - Dizer isso só prova que eu estou certo. A senhora sempre diz isso quando está perdendo uma discussão para qualquer um dos filhos.

- Isso não é verdade! - Kate protestou cruzando os braços na frente do peito.

- Mamãe!

- Está bem! - ela revirou os olhos, se dando por vencida. - Pensei que gostasse dela, estava apenas tentando ajudar.

Joe caminhou até uma poltrona próxima de onde a mãe estava sentada e sentou-se nela, encarando a mãe.

- A senhora deveria saber que não desejava me casar. - disse sério. - Anthony me importunou tanto que decidi procurar por uma esposa. E a Srta. Brown parece ser uma dama boa, a gente se conhece faz muitos anos, mas eu não quero apressar nada, então, por favor, não tente fazer coisas como essa de hoje. Quando decidir que vou me casar com ela ou que vou procurar outra dama, eu aviso.

Kate se sentou na ponta do sofá em que estava, para ficar mais próxima do filho, e pegou a mão dele.

- Joe, você não tem que se casar porque ela é uma dama boa, tem que se casar porque gosta dela. Não importa o quanto o seu irmão te importune com isso, você só deve se casar se gostar da pessoa... Você gosta da Alice?

Joe se sentiu um pouco mal com isso que a mãe disse, a pergunta o pegou de surpresa. Ele permaneceu em silêncio por uns instantes.

- Eu não sei. - Admitiu. - Acho que gosto dela, mas não dessa maneira.

- Achar que gosta dela não é suficiente, pense sobre o assunto e descubra o que quer. - Kate disse com pesar nos olhos.

- A senhora e o papai se casaram sem se amarem. - Argumentou ele.

- A época era outra e a situação também. Nós nos apaixonamos, mas nem sempre isso acontece. Você não precisa casar-se se não amar sua esposa, nunca iria querer isso para algum dos meus filhos.

- Mas...

- Não quero ouvir "mas". - Atalhou ela. - Decida se gosta da Alice, depois pense em casamento.

Kate deu um sorrisinho ao filho e se levantou para sair da sala, deixando-o sozinho.

Joe amava Alice? Seria capaz de amar alguém algum dia? Como seria ser casado, chegar em casa e ter uma esposa e filhos esperando? Seu pai sempre fora seu herói, como seria ter alguém que olhasse para ele e o admirasse como ele admirava o pai antes da morte de Liam, e ainda admirava hoje? Talvez não fosse tão cedo para ele se casar e começar a construir sua família, afinal de contas.

***

Depois de ter sido beijada por Joe, Alice subiu para o quarto e se jogou na cama, ficou ali fitando o teto e pensando nas palavras dele... ele a achava bonita? A desejava? Isso não poderia ser verdade, Alice conhecia a fama de Joe, apesar de muitos não acreditarem que ele fosse um devasso, Beth contara para ela inúmeras vezes sobre as amantes do irmão. Mas então, por que é que a beijou? Por que disse tudo aquilo sobre a beleza dela?

Não sabia como, mas na hora que fora beijada, depois da surpresa, seu corpo sabia exatamente o que fazer e ela se permitiu ser entorpecida pela sensação. Afinal, existia alguém no mundo que a desejava e que quis beija-la, alguém que se importou com ela e que não estava tentando agradá-la apenas para pegar seu dote.

Ela começava a se arrepender de ter aceitado o tal acordo dele, ele estava começando a sentir algo por ela e ela tinha quase certeza disso. Mas se fosse verdade, ela não poderia fazer nada além de partir o coração dele, havia deixado claro que não o amava nem nunca havia amado. Não se casaria com ele. Eles se conheciam desde pequenos, Alice conhecia Joe como se fosse seu irmão, sabia que ele era desejado por muitas damas e as mães da alta sociedade o amavam, e quem não amaria? Ele era um ótimo partido, mas ela não poderia fazer isso, Joe merecia mais do que ela poderia lhe oferecer. Merecia uma dama que pudesse lhe dar filhos e isso ela não poderia fazer.

- Está tudo bem? - Beth perguntou, entrando no quarto, ela estava com uma das filhas no colo, julgando pela cor dos cabelos, aquela deveria ser... Chloe? Ou talvez Bethany? Alice ainda não podia diferenciar muito bem as três.

- Está sim. - Ela forçou um sorriso, e foi só então que notou que estava tocando os lábios com o indicador, lembrando-se da sensação de ter sido beijada.

- Você não é de ficar enfiada no quarto, estranhei isso. - Beth explicou, sentando-se na cama, ao lado da amiga. - Quer conversar? Meu irmão fez algo errado?

- Não! - ela respondeu rapidamente. - Apenas não estou me sentindo bem hoje.

A amiga olhou-a desconfiada.

- Sei. - Ela disse com desconfiança na voz. - Vou levar as meninas para tomar um pouco de sol no jardim. Se quiser, pode se juntar a nós.

Ela apenas acenou com a cabeça e esperou que Beth saísse do quarto, então ela se levantou e arrumou os cabelos no espelho em um canto do quarto, estavam um pouco bagunçados depois que os dedos dele se entrelaçaram ali durante o beijo. Não iria adiantar nada ela ficar enfiada ali, isso não mudaria o fato de que Joseph Campbell a havia beijado e que, apesar de nunca admitir isso para ninguém, ela gostara de ter sido beijada por ele. Ela sorriu ao admitir isso para si mesma.

Alice pegou sua pequena sombrinha e saiu do quarto, indo para o jardim acompanhar Beth com as filhas.