Capítulo 13. Ela não é apenas mais uma

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O cavalheiro mais amado pelas mamães casamenteiras, Joe Campbell, foi visto na última manhã em um passeio pelas ruas da capital com a Srta. Alice Brown. 

Todos já sabemos que ele está cortejando a dama em questão, e esta autora se vê no dever de expressar a opinião popular: o cavalheiro consegue arranjar coisa melhor, não é mesmo? A fila de damas dispostas a se casar com o rapaz é tão grande quanto a extensão de Gruffin.

O que será que ele viu na Srta. Brown?

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Marie lançou um olhar feio para a filha quando Joe saiu, uma advertência por ter acabado de demonstrar ao seu suposto pretendente que não ligava para as regras do decoro e saía sozinha, sem uma dama de companhia, durante o dia, de cabelos soltos, sem se importar em poder ser desonrada.

Alice ignorou isso e voltou para o seu quarto, o almoço seria servido em breve, mas queria apenas ficar sozinha, já que Joe atrapalhou sua caminhada e fez com que ela optasse por voltar logo para casa para se livrar dele também. Ela se sentia mal por ter sido grossa com ele. Mas, sendo justa, se ele estivesse cumprindo sua parte no acordo dos dois e tivesse feito uma visita durante a última semana e a tirado para dançar no baile, a mãe não teria dado um sermão nela por isso, e ela estaria cinquenta por cento menos aborrecida.

Tudo que Alice queria era poder ir para a casa de Beth e chorar na cama da melhor amiga, elas sempre foram muito próximas, mas depois do casamento de Beth, haviam se afastado um pouco. Beth se casou, se tornou uma marquesa, e tinha tido três filhas. Todos ao redor de Alice eram felizes. Encontravam o amor, se casavam, tinham filhos, eram mais felizes e depois tinham mais filhos. Enquanto isso, ela continuava solteira, infeliz com as implicâncias da mãe e sem filhos, e seria assim até o dia em que ela pudesse pegar o dinheiro do seu dote e se enfiar no primeiro barco, partir para o continente e escrever sua nova história.

A mãe não sabia, nunca se importara em saber, mas Alice escrevia romances no seu tempo livre. Ela fizera planos para publicá-los no continente com um pseudônimo masculino, seria uma escritora solteirona e feliz, viveria em uma casa cheia de cães - porque odiava gatos, eles sempre soltavam muitos pelos - e seria feliz longe da família.

E no meio disso tudo, estava Joseph Campbell, eles sempre se conheceram e ela sempre o achou muito atraente, além da pequena paixonite que ela tivera por ele, mas que ignorava. Assim como sabia que ele era um verdadeiro devasso, Beth nunca escondeu isso da melhor amiga, dizia livre e abertamente que Joe era um devasso. Mas ele sempre fora muito simpático com ela, e nas últimas semanas, desde as férias no rancho da família, ele estava sendo um verdadeiro cavalheiro, seus sorrisos a fazia arrepiar-se.

Mas ele era Joseph Campbell, fazia parte de quem ele era seduzir as mulheres e criar uma grande rede de amantes por onde passava. Alice sabia que não podia se apaixonar por ele, sabia que nunca seria alguém que ele desejasse ou alguém que pudesse ser uma boa esposa para ele, nem para nenhum homem. Ela era estéril e nunca daria um filho para seu esposo, portanto, nunca se casaria, apesar de todos esforços da mãe. Já tinha aceitado isso e reformulado todos os seus planos para o futuro depois do seu acidente, como um rio que desvia de uma grande elevação.

Ela iria parar de nutrir qualquer sentimento que estivesse dentro do seu peito e encarar aquilo como era: um meio para um fim. Quando fizesse vinte e três anos, a mãe aceitaria que ninguém iria se casar com ela e relaxaria a pressão sobre ela, aos vinte e quatro ela tentaria pedir o dinheiro do seu dote para o irmão, alegando que iria viajar para a casa da família no continente para tentar conseguir um marido. Então ela iria fugir e se estabelecer longe de qualquer possível conhecido da família, já tinha todo o seu plano feito.

***

Por que bebês choram tanto? Joe se perguntava, entrando na casa da mãe. Beth certamente estava ali.

Desde que Catarina nascera que não haviam tantos choros na casa da família Campbell. A caçula foi a maior chorona de todos os filhos, chorou sem parar até pelo menos quatro meses de vida.

Beth estava na sala de estar da casa, com uma das filhas no colo. Joe jurava que aquela era Chloe, a menor das trigêmeas. Beth olhou para o irmão e sorriu enquanto chacoalhava a bebê, agora já mais calma.

- Onde estava? – ela perguntou em tom casual. – Anthony já chegou há vários minutos. Disse que você saiu antes dele do clube.

- Estava acompanhando Alice até em casa, a encontrei sozinha quando saí do clube e resolvi levá-la até sua casa. – Ele se sentou de frente para a irmã.

- Alice estava na rua sem uma dama de companhia? – Beth parecia surpresa, ele apenas assentiu. – Marie não deve ter ficado feliz com isso. Como Alice está?

Joe fez uma careta ao se lembrar do temperamento da dama em questão.

- Parecia um pouco aborrecida. Você sabe algo sobre o que pode ter causado isso?

- E por que eu saberia? Não a vejo desde terça-feira. – Beth disse, com pouco interesse. Não que não se importasse com a amiga, apenas não sabia nada sobre o assunto.

Joe encolheu um pouco os ombros e disse como se fosse óbvio:

- Ela é sua melhor amiga.

- Sim, mas não sei nada sobre isso. – A menininha agora estava quase dormindo no colo da mãe. – Mas, se tivesse que apostar, diria que o grande motivo é Marie Brown e a gravidez de Annabel. Alice vive sendo pressionada pela mãe para que se case e lhe dê netos.

- Isso eu pude notar. – Joe fez outra careta. – Toda vez que me vê, só falta embrulhar a pobre coitada e me oferecer como presente.

Beth riu da expressão do irmão.

- Mas você pretende mesmo se casar com ela ou está apenas a enrolando? – a irmã ficou incrivelmente séria.

Joe soltou um suspiro, a única resposta. E Beth voltou a falar.

- Se você estiver enganado Alice, as coisas não vão acabar bem para ela. A mãe dela não vai pegar leve com a coitada se você a rejeitar, então, se planeja fazer isso, pare agora mesmo de dar esperanças a ela.

Ele tirou um segundo para absorver as palavras de Beth e pensar em que realmente queria. Queria se prender e viver uma vida de casado? Com esposa e filhos? Estava pronto para admitir sua paixão por Alice e tentar ser feliz com ela?

- Eu pretendo mesmo me casar com ela.

Beth apenas assentiu, como se já soubesse, mas quisesse que o irmão lhe desse uma confirmação.

- Eu me importo com ela e não quero que ela sofra. Não quero que minha amiga seja apenas mais uma para você.

- Eu sei. – Joe disse, assentindo. – Ela não é apenas mais uma.

Nesse momento Peter entrou na sala com outra bebê no colo e Sophie logo atrás, com o seu filho no ventre e a última das trigêmeas nos braços.

- Antonela e Bethany já dormiram. – O cunhado anunciou, parando ao lado da esposa e observando a bebê quase dormindo nos braços de Beth.

Kate estava radiante desde que as netas nasceram, a família dela tinha passado de um casal com seis filhos para uma viúva com seis filhos, um genro, uma nora e três netas em poucos meses, e ainda tinha mais um neto a caminho, o primeiro filho de Anthony deveria nascer em quatro meses. Apesar de estar triste por ter perdido o marido no último ano e ainda viver o luto, Kate estava passando das roupas totalmente pretas para as cinzas, estava feliz por ter uma família grande e unida. 

Um devasso incurávelOnde histórias criam vida. Descubra agora