Capítulo 18. Eu amo você, inferno

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Às vezes o nosso passado resolve nos fazer uma visita e trazer lembranças nem um pouco agradáveis de volta para a nossa vida. Ele nos faz relembrar momentos que queríamos esquecer e que nos torturam.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Joe se sentou na cama também.

- O que você está querendo dizer?

- Que não vou me casar. – Alice disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e revirou os olhos.

- Você sabe o que acabamos de fazer, não é?

O olhar dela percorreu todo o corpo dele, que ainda estava nu. Ela corou.

- Certamente.

- Então compreende o que isso quer dizer. – A voz de Joe saiu mais ríspida do que ele pretendia, mas não se preocupou em se retratar. – Não se pode fazer algo como isso e não se casar.

- E com quantas das suas amantes você já se casou?

Ele sentiu-se ferver, não sabia se de raiva ou vergonha. Por que ele tinha que compartilhar seus segredos com Beth e por que Beth tinha que compartilhar os segredos dele com Alice?

- Você não é uma amante, Alice. – Ele disse baixinho, desviando o olhar.

- Que pena. Não vou me casar com você.

Ele encontrou o olhar dela, ela estava colocando sua roupa novamente. Joe se levantou e pegou suas calças de novo, passando uma perna por ela, depois outra.

- Alice, você acaba de se tornar uma dama desonrada. Nós temos que nos casar. – Ele insistiu.

- Eu não vou me casar. – Ela continuou firme. – Nunca. Nem com você, nem com ninguém.

- Você pode ter acabado de engravidar, como poderia esconder se isso realmente acontecer?

Raiva brilhou no olhar dela, raiva mortal. Um tipo de raiva que ele nunca vira no olhar dela, nem de ninguém.

- Eu não estou grávida. – Sibilou ela. – E. Não. Vou. Me. Casar.

- Por que diabo você insiste nisso? – ele alterou um pouco o tom de voz. – Todas as damas sonham em se casar, ter filhos, ter um esposo que as ame, uma casa grande... essas coisas. E eu estou aqui, querendo me casar com você. Eu amo você, inferno.

Ela apenas fitou-o, os olhos arregalados, então piscou e uma lágrima escorreu.

- É tão difícil aceitar isso? – Joe perguntou, se ajoelhando na frente dela, querendo enxugar aquela lágrima. – Você ama outro homem? Por que você não pode me aceitar?

- Eu não posso. – Foi a única coisa que saiu dos lábios dela.

Joe tomou as mãos dela nas suas, procurando seu olhar, mas ela não queria olhar para ele.

- Por que não? Me dê um motivo. Você não me ama? Não sente absolutamente nada por mim?

- Não faz diferença. Eu não posso. – Ela mesma enxugou as próprias lágrimas, fitando algum ponto atrás dele. – Eu não vou me casar com você.

- Alice, por favor, me dê um motivo, me deixe ajuda-la...

Ela o empurrou e se levantou da cama, não parecia mais triste, mas sim irritada. Pegou a camisa dele e jogou contra ele.

- Não posso me casar porque não serei uma boa esposa.

- Isso não é verdade. – Joe se levantou, vestindo a camisa e se aproximando dela, mas ela se afastou.

- Quer saber a verdade? – Alice sorriu amargamente. – A verdade é que eu sempre sonhei em me casar, ter uma casa grande, ser mãe, exatamente o que você disse. Eu queria muitos filhos, queria um marido que me amasse e queria tempo para cuidar dos meus filhos, ler sob a sombra de uma árvore no quintal e escrever meus romances, esse era meu sonho.

Ela fez uma pausa, procurando pelo olhar dele.

- Mas isso foi tirado de mim. Eu não posso me casar pois nunca vou dar a um homem o que ele mais deseja, Joe. Eu não poderia dar ao meu marido um herdeiro, sou uma dama que não tem valor nenhum para um matrimônio. Sou estéril há anos porque sofri um acidente.

Boquiaberto, ele apenas ficou olhando para ela e piscando, surpreso. O aperto no seu peito se intensificou mais quando as lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela, caindo sem nenhum impedimento. O que ele poderia dizer? Sinto muito? É claro que sentia, mas isso parecia superficial demais, as palavras não saíam da boca dele. Joe tentou falar, mas as palavras não saíam, então ele caminhou até ela para abraçá-la, mas ela o afastou e caminhou até o par de botas dele jogado no chão, pegou-as e jogou no meio do corredor, sem se importar com o barulho, jogou as meias junto.

- Por favor, saia – ela disse, apontando para a porta.

- Alice...

- Saia! – ela repetiu, tentando conter as lágrimas. – Eu não quero ver você. Não quero ver ninguém.

- Eu... por favor... – ele não sabia o que dizer, mas não queria deixá-la sozinha.

- Saia!

E então ele saiu, de cabeça baixa, um aperto no peito e um nó no estômago. Pegou suas botas e as meias, desceu a escada dos criados e saiu dali, sem se importar em calçar as botas, andou descalço pelas calçadas e foi para a sua casa, tentando aliviar aquele aperto no seu peito, engolir o nó na garganta.

Ela não podia ter filhos.

Joe vira a dor nos olhos dela ao dizer isso, mas não podia imaginar o quão difícil devia ser conviver com isso todos os dias, ver os outros tendo filhos e não poder. Esse era o motivo para o aborrecimento dela quando descobriu que a irmã estava grávida. Será que a família dela sabia disso? Provavelmente não.

Joe sempre amou crianças, mas nunca desejou tão intensamente ter filhos, para ele sempre foi algo que deveria acontecer, mas ele não se preocupava muito com a ideia. Mas só de imaginar que isso nunca poderia acontecer, enquanto seus irmãos e amigos tinham filhos... seu estômago embrulhou. Ele não podia imaginar o que ela passava todos os dias.

***

Quando Joe saiu, Alice se deitou de novo na cama, a cama que ainda estava quente e amarrotada depois do que fizeram ali. Ela não sabia o que queria dizer quando perguntou aquele "E agora?" para ele, mas certamente não queria que as coisas terminassem como tudo terminou.

Agora ele sabia do segredo dela, poderia contar para alguém, contar para a família dela. Além dela e do médico que a atendeu depois do acidente, mais ninguém sabia daquilo. E, considerando que o mesmo médico morreu depois de dois meses do acidente, apenas ela tinha conhecimento sobre sua condição. Além de Joseph Campbell, que disse que a amava e queria se casar com ela.

Mas ela pôde ver a expressão dele quando ouviu que ela era estéril, ela não sabia o que viu, mas sabia que não tinha gostado. Parecia pena, e ela não queria a pena de ninguém. Agora ele iria esquecer dela e procurar outra dama que pudesse lhe dar herdeiros, talvez aquela loira super magra, Helena di Angelo, se casasse com ele. 

Um devasso incurávelOnde histórias criam vida. Descubra agora