Capítulo 16. Ela estava radiante

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Esta autora odeia ter que fazer isso, porque aprecia imensamente a Srta. Emma Campbell, mas aquele vestido que a dama estava usando no baile da noite passada não a favoreceu nem um pouco.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Alice passou todo o dia seguinte pensando sobre o que aconteceu entre ela e Joe na sala de visitas no dia anterior. Ela tinha ido ao céu e voltado. E aquilo tinha sido muito bom.

Alice estava se sentindo no topo do mundo. A forma como Joe a olhara e tocara o seu corpo... ele a desejava. Ela nunca pensou que isso aconteceria algum dia, mas então, lá estava ele, e ele a desejara. Até mesmo a mãe havia dito que ela parecia radiante naquela manhã, o que era um grande avanço, já que Marie passou todo o dia sem menosprezar a filha.

Para o restante da ilha, a fama de devasso dele não passava de boatos, apenas alguns comentários surgiram desde que ele voltara de seus anos na universidade, mas Alice sabia com total convicção que ele era um devasso de maior estirpe. Beth sempre dissera sobre as histórias de suas aventuras que o irmão compartilhava. Agora Alice entendia a grande rede de amantes dele. Se Joseph Campbell fizesse com todas o que fez com ela, todas as outras tinham motivos para querer serem amantes dele.

Tudo parecia muito errado. Alice cresceu dentro da igreja e ia com a mãe todos os domingos para as celebrações, sem falar nas quintas-feiras que sempre passava pela igreja e suas visitas frequentes para o vigário. Aquilo tudo estava muito errado. Ela tinha pecado, tinha sido desonrada, mas não parava de pensar naquilo e não se arrependia do que aconteceu, mesmo que ela não tivesse feito nada, apenas fora seduzida por ele.

Era uma terça-feira, Alice estava de frente para a mãe na carruagem, indo em direção ao baile daquela noite.

- Alice? - A mãe chamou, com um olhar feio. - Você está muito distante hoje, o que está tramando?

Ela suspirou.

- Pensando, mamãe. Apenas pensando.

- Mulheres que pensam demais não arranjam maridos.

Alice revirou os olhos. A mãe sempre dizia isso, sempre tinha uma resposta na ponta da língua e relacionava tudo com arranjar marido. Ela era capaz de apostar que o próprio pai havia morrido de tédio, de tão chata que a mãe era.

- É, eu sei mamãe, eu sei. - Ela concordou, porque essa era a forma mais fácil de fazer a mãe parar de falar.

***

Joe estava em pé ao lado da mãe, na fila de pessoas para entrar no baile. Emma resmungava atrás dele.

- Eu disse que esse vestido não ficava bom, mamãe. - Ela disse com irritação. - Até Lady Emyline vai publicar sobre isso.

- Seu vestido é perfeito, deixe de ser implicante. - A mãe respondeu.

Emma continuou reclamando do seu vestido, Joe julgava que estava perfeito, mas o que ele entendia sobre isso, não é mesmo?

Quando entraram no salão, ele percorreu todo o local com o olhar, procurando por Alice. Ele não havia ido visita-la, estava dando um tempo a ela. Viu Lady Brown conversando com uma senhora mais velha em um canto do salão, Alice estava ao seu lado, ela usava um vestido rosa-claro, seu cabelo estava preso em um penteado bem elaborado e o pescoço totalmente a mostra. Mesmo de longe, Joe pode ver que ela estava diferente, não sabia o que havia acontecido, mas sabia que algo havia mudado, a postura dela estava diferente, ela parecia mais confiante, ele não sabia explicar.

Não querendo parecer muito desesperado para vê-la, ele dançou com uma dama qualquer primeiro, uma moça que tinha debutado naquela temporada, nervosa e ansiosa por estar dançando com o irmão do duque. Depois ele dançou com Helena di Angelo, a pior escolha da sua vida; aquela dama não sabia mesmo falar sobre algo minimamente agradável e era mesquinha demais.

Finalmente, ele saiu da pista de dança pelo lado oposto de onde estava antes, próximo de onde a Sra. Brown estava, acompanhada do filho e da nora, além de Alice. Com um sorriso muito amigável, cumprimentou a família toda dela e a tirou para dançar, entrando em meio aos outros na pista de dança. Alice estava séria, não tinha sorriso nos lábios, mas seus olhos cor de chocolate brilhavam e sua postura era de confiança, ela parecia relaxada.

- Você parece diferente hoje. - Ele comentou, assumindo uma expressão investigativa, enquanto conduzia a dança.

- Sério? Deve ser a maquiagem. - Ela deu de ombros.

Com certeza não era aquilo. Mas ele não sabia explicar o que era, então apenas concordou com um movimento de cabeça e avaliou o olhar dela. Ele percebeu quando ela engoliu em seco e depois respirou fundo, ela iria falar algo muito importante em seguida, ele tinha certeza disso.

- A gente precisa conversar. - Alice falou com a voz mais baixa, Joe quase não ouviu com a música alta ao redor deles. - Sobre ontem.

Ele concordou com a cabeça e olhou ao redor.

- Agora? Aqui?

Ela repetiu o movimento dele e ficou em silêncio por um momento, pensando.

- Em particular. Amanhã. - pediu ela. - Minha mãe vai ao baile a noite, eu vou estar resfriada e ficarei em casa. Você pode ir me ver?

- Você está mesmo me pedindo para ir à sua casa durante a noite? - ele arqueou uma sobrancelha, sem acreditar. - Sua reputação correria um grande risco se alguém me visse.

Alice lhe deu um olhar severo.

- Então não seja visto. Tenho certeza que não será a primeira vez que fará isso.

- Mas talvez seja melhor eu ir durante o dia.

- Minha mãe não nos deixará conversar a sós se ela estiver em casa. É capaz de escutar atrás da porta.

Com uma inspiração profunda, ele concordou. Seu plano estava dando certo? Será que ela iria exigir que se casassem, depois do que fizeram na sala de visitas da família dela? Será que Anthony tinha razão e aquilo daria certo?

Um outro casal estava dançando muito próximo deles agora, Joe viu isso e Alice também, não poderiam continuar esse assunto, o casal poderia ouvir, então ficaram em silêncio até se afastarem dos outros novamente.

- Amanhã, pontualmente às vinte e duas horas. - Ela disse com muita convicção. - Pela entrada dos criados, fica aos fundos da casa, no lado leste.

- Como desejar, senhorita. - Ele abriu um sorriso de lado e Alice revirou os olhos.

- Seja discreto.

- Como a senhorita mesma observou, não é a primeira vez que farei isso. - O sorriso dele cresceu mais.

- Poupe-me dos detalhes. - Alice disse com uma leve careta de nojo.

Joe rodopiou com ela nos braços, seguindo o ritmo da música, e depois colocou-a de volta no chão, ela sorria. Alice estava realmente diferente esta noite, ela estava radiante, estava quase brilhando. A luz bruxuleante do salão iluminava o rosto dela, mas ela tinha a própria luz, vindo de dentro dela.

Eles saíram da pista de dança quando a música acabou, Joe passou o resto da noite observando-a discretamente e pensando em que ela queria dizer-lhe que a conversa precisava acontecer a noite, sem ninguém em casa. Ele certamente já tinha entrado sorrateiramente na casa de algumas damas durante a noite, mas nunca para conversar.

Um devasso incurávelOnde histórias criam vida. Descubra agora