Capítulo 25

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Mary Narrando

- Todo o mundo preparado? - Me sento em minha mesa, encarando os meus alunos.

- Calma aí, não é, Mary. - Sarah fala, reclamanda como sempre. - Esses textos não são nada fáceis. - Franzo o cenho surpresa.

- Sério? - Levanto uma sobrancelha. - Esses textos eram o que tinha mais popular lá da época.

- Também, Mary. - Loan gira as folhas. - Século XVI! - Revira os olhos.

- Olha só. - Rio. - Já sabes até o século. - Ele fecha a cara e rio. - Vamos lá, meninos, quem vai ser o primeiro casal a apresentar? - Olho os meus apontamentos, vendo um grupo. - Alice e Mateus. - Sorrio. - Romeu e Julieta, cena 5, ato 1, luz, câmera... e ação. - Me levanto da mesa, ficando atenta na representação de ambos.

- Se minha mão profana, o renecai em remição e eu aceito a penitência. - Mateus começa. - Meu lábio, peregrino e solitário, demonstrará com sobra e reverência.

- Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e conveniente. Das mãos do santo eu pego o paladino, esse beijo é o mais santo e conveniente. - Sorrio ao ver ambos tão centrados nos textos.

- Tudo bem, gente. - Interrompo, para dar tempo aos próximos. - Agora vamos para outro grupo. - Olho para os apontamentos. - Sarah e Vicente, noite de reis.

- Ah, Mary, eu achei isso chato demais! - Fico surpresa.

- Mesmo? E porquê isso? - Falo desanimada.

- Primeiro porque eu não gostei do nome da menina, não tem sentido... quem se chama Viola hoje em dia?

- Até porque todo o mundo sabe que tu estás mais para Violão, não é Sarah. - A mesma olha furiosa para o Loan e com razão.

- Calma, gente, Calma. - Olho para a Sarah. - Essa personagem é ótima Sarah, você não gosta de música?

- Gosto. - Ela cruza os braços, dando de ombros.

- Então, ela ama a poesia, é uma rebelde que se faz passar por um homem para conseguir o que quer! - Falo tentando os cativar. - Ela é forte, determinada. Isso para não falar da paixão dela!

- Que paixão? - Alice pergunta, visivelmente curiosa.

- Viola. - Começo a andar pela sala. - Ela descreve como ninguém o medo de amar e não se ser correspondido. Ela fala de uma melancólica, amarela e verde, que deixa suas bochechas vermelhas e que corrói por dentro. - Reparo que o Vicente olhou nos olhos dela. (Sim, é assim que eles se sentem.) - Quando você tem medo de fazer qualquer coisa a respeito e não quer que ninguém saiba o seu segredo, porque você tem medo que não te amem também, de descobrirem quem você é na verdade.

- Desculpa, Mary. - Vicente se levanta desconfortável. - Hoje eu não tou bem, não vai dar para ler, não.

- Ué, mas o que se passa?

- Não coseguiu perceber, Mary? - Samantha começa. - O Vicente não quer ler, porque ele e a Sarah sempre... - Levanto uma mão.

- Samantha, nem vem.

- Ih... - Ele levanta uma sobrancelha. - Vai proteger os namoradinhos agora?

- Samantha, chega! - Falo mais alto. - Mais respeito comigo!

- Quem é você para falar assim comigo? - Franzo o cenho.

- Eu sou sua professora! - Falo chateada. - Eu posso ser muito legal, mas eu não vou aceitar ser desrespeitada!

- Ah e vai fazer o quê? Me dar uma lição e depois ficarmos melhores amigas?

- Não, vou mandar-te para fora da sala! - Aponto para a porta. - Para a sala do diretor.

- Você conhece o meu pai? Ele pode...

- Eu não me importo com o seu pai e muito menos com o que ele faz! Eu sou sua professora e tenho uma imagem a zelar. - Ando até à porta e a abro, furiosa. - Pode ir! - Ela não obedece. - AGORA! - Volto a fechar a porta e escuto todos a rir e bater palmas. - Isso não, acabou! - Pego o meu caderno. - Vamos voltar no nosso trabalho, Sarah e Vicente, vossa cena, é noite de reis. - Suspiro. - Vamos lá, gente. - Me sento em minha cadeira, um pouco embaixo. (Odeio ser assim às vezes, mas não tinha como não ser, eu tinha de agir.)

Fico vendo os dois fazer a cena, me tentando esquecer do sucedido.

[CB][...]

Abro a porta de casa e entro, indo para meu quarto. No caminho não vejo ninguém e logo suponho que esteja a casa vazia.

Ando para meu quarto, mexendo no celular e assim que abro a porta fico chocada com o que vejo.

A Alicia está deitada em nossa cama, enrolado nos nossos cobertores e olhando a porta do banheiro.

- O que fazes aqui? - A mesma parece surpresa ao me olhar.

- Meu deus... nós não queria que você descobri-se dessa forma... - A porta do banheiro se abre e vejo o Nicolae sair de toalha.

Sinto uma pontada e meus olhos se abrem ainda mais. O mesmo abre sua boca, parecendo confuso, nervoso e tudo isso.

- Mary... - Ele olha para a frente. - Não é o que está a pensar. - Volta a olhar para mim, alarmado.

Ele anda na minha direção, mas eu me afasto andando para trás. Coloco a mão na boca, chocada e uma lágrima solitária desce pela minha bochecha.

- Não, não me toque. - Afasto-me dele, depois da sua tentativa.

- Mary... - Acabo batendo contra a parede e ando para o lado, chegando na porta. - Mary, espere, deixa-me explicar. - Nego com a cabeça, chorando.

- Nunca mais me dirija a palavra. - Abro a porta, batendo ela atrás de mim e corro para fora de casa.

- Mary... - Nicolae segura meu braço, mas eu acabo batendo em seu rosto, fazendo ele me soltar.

- Nunca mais toque em mim. - Choro. - Eu me entreguei a você, Nicolae. - Tento limpar as lágrimas. - Jurei-te o meu amor! - Ele tenta me segurar e falar algo, mas não deixo. - Você me destruiu... - Me afasto.

- Mary, aquilo não era o que pareceu, eu não fiz nada com a Alicia, eu juro. - Ele segura meu braço.

- EU FALEI PARA NÃO ME TOCARES! - Choro ainda mais e corro pela floresta fora. 

Eu me entreguei a ele. Eu confiei nele. Eu amei e amo ele.

Is it love? Nicolae Bartholy [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora