30 - O desabafo

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   M.C. e Gorila acordaram bem cedo e foram para o aeroporto Charles de Gaulle. Mari saiu de casa como M.C., mas desfez seu figurino no carro de vidros escuros e chegou ao aeroporto como uma pessoa comum. Já tinha feito as reservas e dessa vez foi de 1ª classe, até porque Gorila era grande demais para caber na econômica e Mari jamais o trataria como um subalterno. Ele era família, era amigo e protetor, era mais que um segurança. Não deixou nenhum recado para Adrien. Ele acordou, tomou café e notou a ausência do gigante na porta do quarto de M.C.

Adrien:—Onde está o gigante, está de folga?

Nathalie:—Ele viajou com a senhora.

Adrien:—M.C. viajou? Pra onde?

Nathalie:—Para Nova York.

Adrien:—E ela não podia ter me avisado?

Nathalie:—Só estou lhe respondendo porque ela autorizou.

Adrien:—Nossa, sou muito grato por essa consideração - respondeu irônico. Posso saber quando ela volta?

Nathalie:—Em uma semana.

Adrien:—E o que eu vou fazer nesse tempo? Tenho alguma foto ou algum trabalho agendado?

Nathalie:—Não.

Adrien:—Nathalie, eu vou enlouquecer... o que essa mulher quer de mim? Já estou aqui há 1 mês e ainda não trabalhei em nada!

Nathalie:—A propósito, seu salário já foi depositado em sua conta.

Adrien:—Salário? Mas eu não fiz nada.

Nathalie:—Você assinou um contrato. Você cumpre a sua parte e a senhora cumpre a dela.

Adrien:—Estou começando a achar que essas mulheres fizeram um complô para tirar a minha sanidade, só pode...

   Adrien terminava seu café da manhã quando Alya chegou.

Alya:—Bom dia, Nathalie. M.C está a minha espera, avise que já cheguei...

   Antes que Nathalie pudesse falar algo, Adrien respondeu a ela

Adrien:—Perdeu seu tempo, ela viajou...pelo visto não avisou a ninguém.

   Nathalie sabia que Alya sabia da viagem, mas se fez de desentendida. Alya estava ali por algum motivo e ela não iria atrapalhar.

Nathalie:—Sinto muito senhora Cesaire, M.C. precisou fazer uma viagem de última hora.

Alya:—Poxa, que pena. Bem, já que estou aqui, posso tomar um café?

Adrien:—Sente-se Alya, fique à vontade. Vou privá-la da minha desagradável companhia, com licença.

   Adrien já ia sair quando Alya lhe chamou.

Alya:—Adrien, fique. Quero conversar com você.

   Nathalie pediu licença e os deixou a sós.

Adrien:—Achei que também não quisesse olhar na minha cara.

Alya:—Aprendi como jornalista que toda história tem dois lados, e eu só conheço um. Quer me contar por que você fez tudo isso? Por que abandonou minha amiga?

Adrien:—Bem, a versão curta da história é a seguinte: Chloe precisava se casar para receber a herança do pai, que era uma fortuna. Então, ela me fez uma proposta: se eu casasse com ela eu ganharia 2 milhões de euros e ela conseguiria a herança. Depois de 1 mês nos separaríamos e estaria tudo certo. Só que depois do casamento, outras "cláusulas" apareceram: eu teria que morar com ela por 1 ano na Alemanha e só depois desse tempo receberia meu dinheiro. E se eu não cumprisse a minha parte do acordo, eu teria que pagar uma multa no valor de 1 milhão.

Alya:—Cretina! Mas ainda não fez um ano que vocês estão casados...

Adrien:—Eu não aguentei. A gota d'água foi ela colocar uma droga na minha bebida e eu acordar com ela nua na minha cama. Nesse tempo todo que eu estive com ela, nós nunca tivemos nada, não por falta de investidas dela. Então eu arrumei minhas coisas e voltei pra casa.

Alya:—E a multa?

  Adrien:—Eu já tenho boa parte do dinheiro, guardei cada dólar que recebi com meu trabalho de modelo para isso. Agora com esse emprego aqui eu pretendo juntar o restante e me ver livre da Chloe pra sempre!

Alya:—E a Mari? Você não vai contar isso pra ela?

Adrien:—Eu só queria pedir desculpas a ela, por tudo que fiz...eu só queria o dinheiro pra dar a ela uma vida melhor, pra que ela pudesse abrir seu próprio negócio, pra gente comprar uma casa, ter filhos...uma vida tranquila e confortável...mas eu estraguei tudo. O que eu fiz não tem perdão, eu sei que ela jamais me perdoaria. Então depois que eu conseguir me ver livre da Chloe, eu vou embora. Vou catar o resto de dignidade que eu tenho e vou pra qualquer lugar bem longe, onde Mari nunca precise me ver de novo.

Alya:—Você está sendo muito duro consigo mesmo. A Marinette tem um coração de ouro. Quem sabe ela não te perdoa?

Adrien:—Valeu Alya...mas a questão é que eu não me perdoo. Eu não mereço a mulher incrível que ela é.

Alya:—Você ainda a ama?

Adrien:—Ainda? Eu nunca deixei de amá-la, nem por um minuto. (Adrien tira a carteira do bolso e de dentro dela uma foto dobradinha e bem desgastada de Mari). Eu olho pra ela todos os dias, todas as noites...é só por ela que eu ainda respiro...(uma lágrima cai). Dói Alya...dói fisicamente não tê-la comigo, sabe? Nunca fui um homem de fazer burradas, meu pai me criou sozinho e eu me considerava uma boa pessoa...mas quando eu resolvi sair da linha foi como se um trem inteiro tivesse descarrilado sobre mim. Minha vida acabou no dia que eu escrevi aquele bilhete pra ela.

Alya:—E você acha que tudo isso foi armação da Chloe? Mas por que?

Adrien:—Eu sei lá...acho que ela me queria como um troféu, só pra se exibir, porque quem gosta não faz essas coisas...ela me queria, mas nunca disse que me amava ou coisa parecida...só consigo pensar em "status", em mídia. Ela é bonita, rica, famosa, poderia ter o homem que quisesse...não sei porque cismou comigo...

Alya:—E a M.C., o que você acha dela?

Adrien:—Eu a beijei ontem.

Alya:—Ué? Mas e toda essa história de amor por Marinette?

Adrien:—Não sei explicar. Eu a ajudei a ir pro quarto, acho que ela dormiu no escritório...quando a coloquei na cama, ajudei a tirar as botas e quando eu ia tirar a máscara...eu não queria ver o rosto dela, só queria que ela ficasse confortável para dormir...mas quando ela tocou a minha mão...era como se fosse a Mari! Eu senti o mesmo arrepio que sentia quando Marinette me tocava e eu nunca, nunca senti isso com nenhuma outra mulher. Foi automático Alya, eu me inclinei e a beijei. E era o gosto da Mari! Era o cheiro dela, o jeito dela! Eu devo estar ficando louco mesmo...

Alya:—É amigo, toma cuidado pra não enlouquecer mesmo...

Adrien:—Amigo? Você ainda me considera seu amigo?

Alya:—Depois de tudo o que você me contou...eu acredito em você. Acho que você foi um tremendo imbecil, mas teve boa intenção.

Adrien:—E o Nino? Como ele tá?

Nino:—Tá muito magoado. Você era o melhor amigo dele e se foi, sem dar explicações. Nino é sentimental e eu sei que ele sente muito a sua falta. Quem sabe um dia vocês possam se acertar.

Adrien:—Eu ficaria imensamente feliz. Sinto muita falta dele. Ele era o meu melhor amigo também, talvez o único!

Alya:—Bom, eu tenho que ir. Toma meu cartão, salva meu número. Se precisar conversar...

   Adrien se levanta e dá um forte abraço em Alya. Ela já estava saindo quando ele pergunta...

Adrien:—Marinette tá morando em Nova York, né? Ela tem alguém? Sei que isso não é da minha conta, eu só...

Alya:—Sim, ela está lá. E pelo que sei está sozinha.

   Adrien abriu um sorriso tímido, mas cheio de esperança e Alya foi embora. Ele foi para seu quarto e deitou para descansar. Chorou de saudades da Mari e do Nino e ao mesmo tempo riu de alegria por ter conversado com Alya e por ela o considerar novamente um amigo. Adormeceu em meio aos travesseiros e às emoções... 

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