Capítulo 23

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"wasabi (n.)

the discovery of beauty in imperfection; the acceptance of the cycle of life and death"

Camila

A Guerra de Tróia foi um dos conflitos mais sangrentos da mitologia grega.

Esta que durou cerca de 10 anos, matou milhares de soldados e levou a cidade de Tróia a cinzas.

Tudo isso por conta de um amor.

Nesta guerra, Aquiles, mesmo tendo mergulhado no Rio Estige para imortal se tornar, deixou vulnerável seu calcanhar e essa foi sua condenação, afinal, foi acertado por uma flecha em seu ponto fraco.

Naquele momento, enquanto eu saia do hotel que Tomás está hospedado, após passar a noite com ele, eu sinto que fui atingida no meu calcanhar de Aquiles.

Desvencilhar-me dos braços de Tom a minha volta foi de longe uma das coisas mais difíceis que eu fiz em toda minha vida. Ter força para me afastar deles foi a mais complicada de se conseguir.

Saio pela porta giratória na entrada e me sento na guia, não contendo os espasmos que tomam meu corpo por conta meu choro.

Eu queria ter contato tudo a ele. Sobre Lavínia, minhas inseguranças, mas isso só ia adiar o óbvio: eu e Tomás estamos em fases diferentes. Ele está vivendo um sonho, conhecendo o mundo, enquanto eu estava na faculdade e sendo feliz em viajar apenas pelos livros.

Choro muito.

Choro a ponto de só perceber que Joana chegou para me buscar quando ela se agacha na minha frente.

— Vamos, Mila. — puxa-me para cima e me leva para o carro parado mais a frente.

Jô me coloca no banco de trás e só então vejo um par de olhos castanhos idênticos aos de Tomás me encarando do banco do motorista.

Diego.

— Vai ficar tudo bem, Cami. — ele segura minha mão por alguns segundos antes de sair com o carro.

Encosto a cabeça no vidro e me perco em pensamentos enquanto observo o movimento dos carros na rua. Ouço meus amigos falarem baixinho entre si, mas deixei de escutar após ouvir Diego dizer "vou deixar vocês onde deixou seu carro e eu vou voltar ficar com Tomás".

O único som que consigo ouvir repetidamente é o de meu coração se estraçalhar cada vez que penso no músico.

Só sei que chegamos quando Joana abre a porta do carro para eu descer, mas antes eu paro e olho para Diego.

— Tenho medo dele nunca querer me ver novamente.

Ele me olha e pega minha mão mais uma vez.

— O medo é circunstancial, Cami. Ele é como um combustível que te motiva a algo: ou enfrentar ou fugir. A partir do momento que você não tem mais medo de alguém sair da sua vida, é porque talvez você não a ame ela de verdade.

Limpo uma lágrima solitária que escorre por minha bochecha.

— Você amadureceu muito, Dig.

Ele sorri fracamente.

— Eu devo muito ao meu irmão, por isso que devo estar com ele nesse momento.

— Certo. Cuide dele. — digo e saio do veículo, acompanhando Joana pela calçada até entrarmos em seu carro.

Sento no lado do passageiro e me afundo no banco, Jô coloca a chave na ignição, coloca em primeira marcha e sai com o carro. Ela permanece calada, mas me dá olhadelas pelo canto do olho. Pela ansiedade em que se mexe no banco, sei o quanto está agoniada por não estar falando.

Resenha Amores | Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora