Pov Liam
Quatro anos já haviam se passado desde que eu fui abusado por aquele policial, “não quer brincar gracinha?” aquela voz estridente nunca mais saiu de minha cabeça, ela é a causa das minhas profundas olheiras e dor de cabeça constante, passar quatro sem conseguir dormir direito não faz muito bem pra saúde, mas minha saúde era a ultima coisa para qual eu estava me importando, como se não bastasse o que havia acontecido comigo, um acidente tirou meu pai de me, tirou ele da minha mãe que o conhecia desde criança, imagina a dor que ela deve estar sentindo, perdeu não só um marido, mas também um amigo, e para completar ainda havia eu.
Depois do ocorrido fiquei praticamente inerte, completamente morto por fora e me negava a acreditar no que tinha acontecido, fiquei trancado no meu quarto durante cinco meses inteiros sem querer sair de lá, todos os dias era uma luta da minha mãe tentando me fazer comer ou que eu saísse do quarto. Mas a vida continua, depois que fui encontrado naquela construção a noticia correu a cidade toda, todos me apontavam na rua como se eu fosse algum tipo de aberração ou um urubu raro, e ainda tinha aqueles que me olhavam com pena.
Eu fiquei 6 meses em uma clínica de reabilitação, e voltei há umas 3 semanas, vou começar a cursar o 2 ano do ensino médio, e temo que esse ano seja igual aos demais anteriores.
– Liam? –minha mãe se sentou na cama, ao meu lado e levou suas mãos ao meu cabelo. – Vai na escola hoje? – Minha mãe não me obriga á ir na escola, Ela sabe o que eu passo por lá, bom, ela sabe uma parte do que eu passo por lá, e já tentou me ajudar, mas sempre acaba do mesmo jeito, então eu finjo que estou bem, não gosto de deixar minha mãe preocupada. Meu psicólogo já até sugeriu aulas particulares em casa, até tentamos isso, mas não deu muito certo.
- Vou sim. –respondi dando um mínimo sorriso. Eu não estava muito a fim de ir, mas é melhor do que ficar em casa, tendo pesadelos, com medo do de ficar sozinho e acabar me trancando no quarto até a hora que minha mãe chegar do trabalho.
- Se precisar de mim me liga ok? –respondeu dando um beijo em minha testa e eu assenti, minha mãe sorriu e saiu do quarto em seguida.
Levantei cambaleando um pouco por causa do sono, peguei minha toalha e fui para o banheiro tomar um banho. Ao entrar fechei a porta, retirei minha roupa e adentrei o boxe liguei o chuveiro na água gelada que me impedia de ficar pensando na vida enquanto a mesma escorria pelo meu corpo, desliguei o chuveiro pegando uma esponja bem grossa e dura, peguei o sabonete liquido que estava numa prateleira um pouco alta e despejei o líquido na esponja e passei a esfregar o meu corpo com vontade e bastante força causando uma ardência que logo acabava em contato com a água gelada que praticamente anestesiava o meu corpo, más eu ainda estava bastante sujo, precisava ficar limpo. Filetes de sangue escorriam pelo meu corpo e sabia que estava bom, peguei o xampu colocando um pouco líquido em minha mão e passei a esfregar uma contra a outra e passei no meu cabelo massageado minhas madeixas, o xampu escorria pelas minhas feridas recém-abertas fazendo arder o local, más eu não me importava com isso, depois de lavar o cabelo passei o condicionador. Peguei minha toalha que estava dependurada no gancho e me sequei cuidadosamente passando a toalha branca pelo meu corpo e manchando a mesma com um pouco de sangue que ainda escorria, pressionei um pouco a toalha no ferimento até que estancou o pequeno sangramento, sacudi meus cabelos molhados e sai do banheiro, coloquei uma calça skinny preta, uma blusa branca polo e junto um all star preto, peguei minha mochila e coloquei uma das alças sobre meu ombro e desci as escadas, vendo que minha mãe já havia saído para trabalhar. Peguei uma maçã e dei uma mordida na mesma, saí de casa e tranquei a porta atrás de mim, e ao descer as escadas da varanda senti um vento gélido se chocar contra meu rosto, e estremeci um pouco.
Como eu não morava muito longe da escola, e ainda estava um pouco cedo, resolvi ir andando mesmo, coloquei meus fones de ouvido e me distraí pelo caminho. Ao chegar à escola começaram todos a olhar pra me como se nunca tivessem me visto antes, aqueles idiotas, eu nunca desejei tanto que uma coisa de ruim acontecesse com eles. Entrei na escola e fui até o meu armário, peguei o caderno de biologia e quando fechei meu armário senti alguém esbarrando propositalmente em meu ombro, fazendo meu caderno cair no chão.
- Olha pra onde anda arrombado. –Olhei e vi quem era, e claro, ninguém menos que Justin Bieber e sua turma, Niall Horan, Louis Tomlinson e Harry Styles. Tentei ignorar e me abaixei para pegar meu caderno, e aproveitando a situação Justin me empurrou, e eu bati a cabeça na parede atrás de mim. Ouvindo as risadas, peguei meu caderno e me dirigi até a biblioteca, me sentei em uma das mesas mais afastadas e limpei algumas lágrimas que haviam em meus olhos e peguei o livro “Querido John” na minha mochila, eu havia começado a ler esse livro enquanto estava na reabilitação, estou quase terminando, e estou gostando um pouco. Fiquei lendo até escutar o bater do sinal, guardei o livro em minha mochila e me dirigi até a sala de biologia.
Encontrei Josh no caminho, Josh é meu ÚNICO amigo, sério, ele é o único que não olha com pena, ou nojo para mim, ele sim tem sido um ótimo amigo para mim, e é o único com quem eu ainda consigo conversar.
Fomos conversando durante o caminho e quando chegamos na sala, o professor já havia chegado, me dirigi ao meu lugar, ao lado de Josh, e esperei a aula passar.
Sr. Hale começou a fazer a chamada como de costume, e logo chegou no meu nome, respondi um “presente” e senti uma coisa leve batendo contra a minha cabeça. Olhei para baixo e vi uma bolinha de papel amassada, Justin.
* * *
A aula pareceu demorar uma eternidade para acabar, e dei graças á Deus quando escutei o sinal, peguei minhas coisas e fui com Josh até o refeitório, e ao entrarmos senti Josh paralisando ao meu lado, logo entendi o porque.
– Olha quem chegou, se não é o garoto do cu grande. – Falou se aproximando de me. – E então? Quantos paus cabem aí dentro?– Justin ficou rindo de me como se o que ele tinha dito fosse engraçado e algumas pessoas começaram a rir também, senti meus olhos começarem a arder– Oh! A vadia arrombada vai chorar gente! – não aguentei e sai correndo da sala sendo seguido por Justin e sua turma – HEY BURACO GRANDE VOLTA AQUI!!! – Continuei correndo, mas fui jogado com força contra o chão. Senti vários chutes e socos contra meu corpo, e pude ver perfeitamente Justin acertando um chute no meu estomago, me fazendo contorcer pela dor. Escutei eles rindo e levei minhas mãos até a minha barriga, apertando a mesma.
Com muita dor me levantei e saí da escola, fui andando e me sentei em um banco em frente á igreja.
- SERÁ QUE NÃO DA PRA PIORAR? –gritei olhando para cima, sentindo minha garganta arder, e como por ironia do destino, começou a chover. – ERA UMA PERGUNTA RETÓRICA PORRA!
Onde está Deus que não vê meu sofrimento e se vê porque não faz nada? Por acaso gosta do sofrimento dos outros? Eu tava de mal com comigo de mal com o mundo e de mal com Deus, reparei em um carro vindo na rua em alta velocidade, e pensei “essa é minha chance”. Levantei rapidamente e corri em direção ao carro e me joguei no asfalto, más mesmo com o chão escorregadio e a alta velocidade no qual ele estava o maldito conseguiu frear e não me ajudou em merda nenhuma.
– EI SEU IDIOTA, SE QUER MORRER CORTA A GARGANTA NINGUEM É OBRIGADO A TER ALGUEM COMO VOCE PRA PERTURBANDO OS OUTROS. MALUCO!!! – O motorista gritou furioso, e quer saber? Ele tem razão. Levantei do chão já que não consegui sujar o asfalto e continuei meu caminho pra casa na chuva. Ao chegar em casa subi direto para meu quarto e fui até o banheiro, tirei minha camisa e reparei nas marcas roxas que haviam pelo meu corpo.
Fechei os olhos e peguei minha lâmina que eu já conhecia a muito tempo, minha amiga e minha confidente. Aquela que foi responsável pelos vários cortes no meu corpo, começando pelas minhas coxas para que minha mãe não percebesse. Afastei a manga da minha camisa e olhei pro meu pulso completamente marcado por essa mesma lâmina. Terminei de tirar minha roupa e liguei a torneira da banheira, e esperei que a mesma se enchesse, passei meus dedos pelo meu pulso, e fechei os olhos sentindo as cicatrizes. Ao abrir meus olhos, desliguei a torneira e entrei na banheira, me deitei na mesma apoiando minha cabeça na ponta da banheira. Peguei a lamina ao meu lado e levei a mesma até ao meu pulso e a apertei contra o mesmo, sentindo uma ardência, deslizei a lâmina pelo meu pulso, e vi as marcas se formando, junto com meu sangue se deslizando pelo meu braço e tingindo a água da banheira.
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Iridescent
FanfictionLiam era uma criança normal, até que sua vida mudou tragicamente após um estupro, e quando acorda no hospital recebe a notícia de que seu pai havia morrido em um acidente de carro. Os anos se passaram e Liam começou a usar drogas e a se auto-mutilar...