Economias

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O corpo cansado de tanto trabalhar caiu na cama de má qualidade, com a madeira podre. As olheiras em seus olhos eram mais evidentes do que a velhice de suas roupas e a câmera fotográfica ao seu lado era a única coisa de valor que ele poderia chamar de sua.

─ Kim Taehyung, se você não pagar o aluguel do mês que vem no dia correto, vai ser despejado! ─ O síndico da pousada praticamente esmurrava a porta do quarto em que o garoto de cabelos castanhos vivia.

Não é um dos melhores lugares, mas era a única coisa que conseguira com o pouco dinheiro que tinha.

─ Não se preocupe, senhor Rabugento, pagarei tudinho. ─ Riu sarcástico provocando o homem de meia idade, mas atrás de seu sorrisos e suas ironias, ele poderia dizer que não era inteiramente feliz.

O velho homem quase se revirou de raiva. ─ Esse é meu último aviso. ─ Saiu batendo o pé, sendo ouvido por praticamente todos os moradores daquele "prédio".

Prédio, pousada, lixo. Para Taehyung, todos os adjetivos ─ inclusive os ruins. ─ poderiam ser colocados para o lugar onde morava. A dona, esposa do síndico, gostava de chamar de pousada, onde moravam dois filhos dela e algumas pessoas que não tinham lar e não poderiam pagar os aluguéis de apartamentos completos. Esse era o caso de Kim Taehyung.

Depois de ser expulso de casa, Taehyung não tinha lugar onde cair morto. Sem dinheiro, roupas e só com sua carteira, celular e uma câmera fotográfica que seus pais o deram de presente quando ainda morava com eles, Taehyung foi convidado pelo seu melhor amigo, Jungkook, para ficar um tempo em sua casa. O que não durou mais do que um mês, já que Taehyung sentiu que estava incomodando os pais do amigo mais novo. Logo arranjou um emprego ─ o qual mantém até hoje. ─ e foi em busca de prédios baratos com o orçamento que ele tinha.

Conseguindo? Obviamente, que não.

Se desesperou por um momento, porque mesmo com Jungkook dizendo que ele poderia ficar quanto tempo quisesse, Taehyung não queria atrapalhar. Então, foi atrás não só virtualmente, mas fisicamente de lugares que ele pudesse ao menos viver.

Em um poste alto ao lado do ponto de ônibus, depois de um longo dia de trabalho, ele encontrou um anúncio de pequenos quartos dentro de uma pousada. As fotos eram lindas. Quartos bonitos e camas aconchegantes.

Taehyung se assustou pelo preço tão baixo cobrado, mas mesmo assim correu atrás do lugar tão lindo ao qual vira no papel.

Mas se decepcionou assim que chegou.

As camas eram velhas, o bairro não era muito bom de se viver, e o seu quarto era menor do que o banheiro que tinha na casa de Jungkook.

Taehyung definitivamente não havia gostado do que vira, muito menos o cheiro que sentia vindo do banheiro. Porém já que aquele era o único lugar que poderia pagar, ele alugou sem reclamar.

Se despedindo e agradecendo a Jungkook, rumou para seu novo lar, com sua câmera fotográfica, sua carteira, seu celular e as poucas roupas que comprara.

Não era de um todo ruim. Pelo menos tinha uma cama para dormir, um banheiro para tomar banho e comida na geladeira também compartilhada. Porém, algumas pessoas que ali moravam não eram muito... como podemos dizer? Agradáveis.

Faziam barulho nos momentos errados, brigavam entre si e por vezes Taehyung via que alguns roubavam sua comida que ele comprava com tanto esforço com o pouco dinheiro que ganhava sendo garçom de uma lanchonete.

Dentre os "vizinhos" ele era o que menos falava nas reuniões. E quando decidia abrir a boca, sempre soltava uma piada ou alguma fofoca trazendo a discórdia e desunião entre as pessoas e o próprio casal dono da pousada.

Eles não o odiavam, porém o síndico em especial tinha uma certa implicância consigo por ele sempre atrasar o pagamento do aluguel.

Taehyung não tinha muitos amigos. Por conta de tudo que aconteceu em sua vida, teve que largar a faculdade de fotografia, pela falta de dinheiro, e também tinha vergonha de trazer as poucas pessoas que fizeram amizade consigo durante todos esses anos. Jungkook era o único que havia o visitado, mas logo Taehyung fez um bilhete mental de nunca mais trazer o amigo ao lugar onde morava.

Os moradores daquele lugar não tinham educação.

Jungkook realmente chamava atenção, pela suas roupas caras e pelo carro luxuoso que ele tinha. No momento que ele pisou os pés na pousada, os murmúrios começaram, deixando o mais novo constrangido e Taehyung irritado.

Tinha um ano desde que morava ali e sempre fazia horas extras na lanchonete para tentar pagar tudo direitinho no tempo correto, o que ele não consegue organizar muito bem, já que apenas o aluguel já é metade do seu salário.

Em suas horas vagas ele caminha nas praças por perto e tira fotos de paisagens. Pedindo permissão para tirar de casais, famílias e pessoas comuns.

Taehyung sempre vê beleza e arte,  então tira foto de tudo que acha lindo, ou até mesmo "comum" para outros olhos.

Ele consegue enxergar além. Por isso estava fazendo fotografia.

O que mais lhe doeu em ser expulso de casa nem foi pelo fato de seus pais não o aceitarem ─ o que ele já previa, antes de se assumir. ─, o que mais lhe doeu foi o fato de não poder mais estudar a coisa que ama. Não saber mais qual futuro vai seguir, já que o seu futuro na fotografia foi cortado.

O seu futuro era imprevisível. Não sabia se teria uma merda de vida para sempre, pagando um quarto de pousada com banheiro compartilhado.

O castanho tenta, mas não consegue juntar dinheiro por muito tempo, pois a dificuldade da sua vida faz com que ele precise sempre tirar o dinheiro que economiza no cofrinho para as suas necessidades básicas.

Os donos do "prédio" apenas querem o aluguel todo o final de mês, e ele não tem coragem de pedir um centavo ao Jungkook.

Há 10 anos os seus pais os apresentaram quando fizeram uma reunião de negócios. O pai de Jungkook era sócio do Senhor Kim e as duas crianças viraram amigas de cara.

Eles eram muito diferentes.

Enquanto Jungkook era mais tímido e introvertido, Taehyung era animado, extrovertido e língua afiada. Mas a amizade dos dois é mais forte do qualquer coisa nessa vida.

Rindo de sua situação precária, ele foi até a cabeceira da cama, pegando sua toalha. E se direcionando a porta, olhou para o seu reflexo no espelho.

É... talvez, a vida tenha seus preferidos.

Um pai para o meu filho || KSJ × KTH Onde histórias criam vida. Descubra agora