Promessa

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"─ Querido, vamos. Nos diga que isso é apenas uma fase. ─ A mãe de Taehyung sorria em falsa compreensão. ─ Nós iremos entender. O mundo está com novas modernidades, a confusão mental pode ocorrer e você ficar embaralhado com os seus sentimentos, mas saiba que isso não é real. Você é hétero, pode confiar na mamãe."

Saía algumas lágrimas do rosto de Taehyung se misturando com a água morna. Aquela conversa com seus pais lhe atormentava todos os dias na hora em que tomava banho. Ele tentava esquecer, tentava colocar em sua mente que aquilo não importava mais.

Mas, sim, importava muito.

" ─ Eu até aceitei essa tatuagem que você fez nesse pescoço, mas não aceito filho meu gay. ─ O Senhor Kim já estava vermelho de raiva. ─ Vou arrumar uma menina para você passar a noite. Ou você vira homem, ou nunca mais pisa o pé dentro dessa casa. Está me entendendo, Kim Taehyung?"

Não ser aceito pelos pais e perder seu curso da faculdade são suas maiores tristezas e nada poderia acabar com elas. Nem se ele levantasse de cargo na lanchonete.

Ele sempre soube que não seria muito bem aceito pelos pais, mas expulso? Isso nunca passou pela sua mente.

" ─ Mãe, pai. ─ As lágrimas não cessavam. ─ Eu sou gay! Eu gosto de homens, por favor. Eu só quero o apoio e respeito de vocês.

─ Respeito?! ─ O pai ria quase avançando no filho. ─ Você acabou de desrespeitar a honra da nossa família sustentando a modinha de hoje em dia. Você merece uma surra para parar com essas ideias estúpidas!"

Ele sempre fez o que os pais mandavam, a única coisa que pode escolher em sua vida, fora o curso que iria fazer, mas quando se assumiu tudo acabou desandou. Agora se ele não trabalhar não terá mais dinheiro como tinha antigamente.

A falta de dinheiro ensinou ele a fazer coisas no desespero, sozinho, como nunca antes.

Terminou o banho ─ que também era controlado ─ se secando em sua toalha, vestindo a roupa no banheiro mesmo. Saiu, se sentindo mais calmo e revigorado, mesmo que a energia daquele local não o desse esse sentimento.

Eram 20h da noite quando Jungkook o ligou. ─ Oi, Gguk.

─ E aí, Tae. Quer tomar alguma coisa comigo no bar aí perto? ─ Jungkook perguntou.

─ Não sei, Jungkook. Estou meio cansa... ─ Foi interrompido.

─ Eu pago, Tete. Não se preocupe com isso. ─ Jungkook insistiu. ─ Vamos? Hoje é sábado e nunca mais saímos juntos.

─ Eu realmente estou cansado, não é por conta do dinheiro. ─ Ele nunca iria dizer aquilo em voz alta, mas, sim, era o cansaço e também o dinheiro que não tinha.

─ Só um copo não vai ter matar. ─ Insistiu mais ainda. ─ Te vejo daqui a pouco. ─ Desligou na cara do amigo mais velho.

Sabendo que não teria jeito, Taehyung vestiu sua calça surrada e uma blusa preta, se olhando no espelho, vendo que não teria jeito. Só tinha aquele tipo de roupa. Ou velha, ou neutra.

" ─ Pai, por favor. ─ Taehyung chorava mais do que tudo. ─ Eu ainda sou seu garoto, mas eu só gosto de pessoas do mesmo gênero que o meu. Não dá para me respeitar? Vocês são meus pais, eu ficaria muito feliz em saber que vocês estão ao meu lado.

Sua mãe o abraçou. ─ Tete, você apenas está confuso, hm? Vou te levar na igreja no domingo e em um psicólogo amanhã. Vamos resolver e reverter essa situação, não se preocupe."

A caminho do bar, Taehyung pensou em como sua vida mudou só por uma palavra.

Uma mísera palavra com apenas 3 letras.

Em como teve a primeira e última discussão com seus pais. Onde seu pai xingou mais do que tudo, e sua mãe teve que abaixar a cabeça quando o mesmo pegou no colarinho de Taehyung, o expulsando de casa.

Talvez se ele tivesse esperado um pouco mais e organizado tudo, nada disso teria acontecido.

Na porta do bar, o castanho tirou as lembranças ruins de sua mente, acenando para Jungkook ao fundo. 

Chegou perto, e se sentou. ─ Como você está? ─ Jungkook perguntou, preocupado. Como sempre fazia quando eles se encontravam.

─ Estou ótimo, Jeon. ─ Taehyung deu um risinho. ─ Aquela velha do quarto 1° b está de caso novo, quase que faz a pousada cair de tantas puladas. ─ Riu do seu proprio comentário.

─ Taehyung?

Deu atenção ao amigo. ─ Sim?

─ Me diz, como você está? ─ Jungkook franziu o cenho. ─ Está com umas olheiras enormes embaixo do olho e quando você faz piadas logo no começo da conversa, é porque não está muito bem. O que anda acontecendo?

É uma droga para Taehyung que Jungkook o conheça demais. Desistiu de mudar de assunto. ─ Tudo. Tudo anda acontecendo.

─ Tudo o que?

─ Não gosto de dizer isso para você, mas não ganho quase nada e todo meu dinheiro eu gasto no aluguel. Esses dias eu ando pensando demais nos meus pais e no meu curso.

─ Eu disse para você que poderia me pedir ajuda. Não tenho problema com isso. ─ Pegou sua carteira. ─ De quanto você precisa?

─ Pode desistir que eu não vou aceitar.

─ Mas eu quero te ajudar, Tae. ─ Taehyung acenou negativamente, sério. ─ Ok, ao menos uma bebida eu posso te pagar?

─ Sim. ─ Sorriu de lado, fizeram os pedidos e a atendente saiu. ─ Como anda a residência naquele Hospital?

─ Ótima! Os funcionários do meu setor me receberam muito bem. Os pediatras são uns amores e riem sempre das minhas imitações.

Taheyunh riu. ─ Eles devem estar bem desesperados mesmo.

Jungkook fez uma careta. ─ Eu sou engraçado.

─ Se isso te faz dormir bem à noite. ─ Disse rindo da cara emburrada do amigo.

Quando terminaram a conversa e os drinks, Jungkook deu uma carona até a pousada onde Taehyung morava. ─ Tchau, Gguk. Obrigado pela bebida e pela carona. ─ Sorriu, saindo do carro.

─ Não há de que, Tete. Tchau! ─ Jungkook sorriu, e quando Taehyung saiu e entrou no prédio barra pousada, ele se olhou no retrovisor. ─ Um dia, eu vou te ajudar e você vai conseguir seguir seus sonhos. Eu prometo. ─ Sussurrou consigo mesmo, ali, embaixo do céu estrelado.

Ele iria cumprir, só não sabia como.
E quando.

Um pai para o meu filho || KSJ × KTH Onde histórias criam vida. Descubra agora