Passaram alguns dias desde a então confusão no banheiro. Emilly e Maria trabalhavam agora na biblioteca, somente elas duas e uma senhora que falava pouco, Maria não imaginou o quanto poderia chegar a gostar daquele lugar. Naquela noite, véspera de natal, Maria ainda seguia lá, agora sozinha. Vez ou outra a deixavam até mais tarde.
- O que faz aqui nesse horário?
- Nossa, que susto levei agora!
— Maria falou enquanto via Ângela se aproximar.- Não sou uma modelo mas não exagere.
- Modelo... — Maria quase sorriu.
Com o passar dos dias, de forma muito sutil, acabaram se aproximando um pouquinho. Maria não conseguia de nenhuma forma desligar a imagem de Ângela da sua cabeça, ouvia até mesmo sua voz sem que precisasse estar perto.
- Estava organizando esses aqui. Gosto desse lugar.
- Bom, me deixa saber disso. Vamos lá, me surpreenda com uma leitura que eu vá gostar.
- Não acho que eu vá acertar.
Maria começou a procurar enquanto Ângela cruzava seus braços encostada na parede, sorria levemente enquanto via Maria fazer o que havia pedido.
- Esse aqui. — ela entregou. — Não olha o título agora, espera quando sair.
- Hm... vou pensar no seu caso. — Ângela brincou e por um instante até ela surpreendeu consigo com tal interação.
- É melhor você ir, creio que tem lugares e pessoas melhores te esperando. — Maria disse quase nostálgica na sua voz.
- Queria poder fazer algo por...
- Você pode. — Maria quase sussurrou.
- O que?
- Um beijo, Ângela. — estavam mais próximas, Ângela sentiu seu corpo correr um tipo de energia invisível que desconhecia, mas não demonstrou reação alguma. Nada.
- Eu não... eu não posso. — ela sussurrou, imóvel.
- E eu? — Maria beijou com muita leveza o canto de seus lábios, viu a Ângela fechar seus olhos respirando devagar pela boca. — Eu posso beijá-la?
O silêncio para Maria foi como confirmação, ela segurou seu queixo e lhe deixou um beijo curto uma e outra vez, sem pressa. Quem a visse não imaginava o quanto tremia, o quanto seu coração batia forte, era a primeira vez que beijava uma mulher em sua vida. Ela não aprofundou, se separaram devagar e se olhavam com um desejo que antes pareciam ocultar melhor.
- Maria. — Ângela recuperou sua voz.
- Por favor, faça de conta que acabou de entregar um presente de natal a mim, me deixa guardar isso. — ela quase suplicou, não cogitou que aquilo para Ângela talvez houvera sido tão importante quanto, mesmo que essa também ainda não soubesse.
- Volte, fique com Emilly. — elas seguiam se respondendo em sussurros.
- Eu já vou. — Maria sorriu envergonhada.
- Feliz natal, Maria. — ela tocou o braço com rapidez e saiu em seguida.
Ainda sem acreditar no que havia acontecido, mesmo se culpando, Ângela sentia uma pontinha de vivacidade dormida nela. Olhou finalmente o livro que segurava em suas mãos. "Fragmentos de Safo". Ela até mesmo parou o caminhar com tamanha surpresa.
- Que demora! Não gosto de ficar aqui sozinha. Tá tudo bem?
- Está sim. — Maria quase sorriu mas Emilly percebeu aquela tristeza de sempre.
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A número 43
FanficNúmero 43 ganha um nome em uma história com descobertas, segredos, coragem e porque não... amor. Maria Elisa entrará na difícil busca do que de verdade é viver ainda dentro da prisão.