Capítulo [3]

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Passaram alguns dias desde a então confusão no banheiro. Emilly e Maria trabalhavam agora na biblioteca, somente elas duas e uma senhora que falava pouco, Maria não imaginou o quanto poderia chegar a gostar daquele lugar. Naquela noite, véspera de natal, Maria ainda seguia lá, agora sozinha. Vez ou outra a deixavam até mais tarde.

- O que faz aqui nesse horário?

- Nossa, que susto levei agora!
— Maria falou enquanto via Ângela se aproximar.

- Não sou uma modelo mas não exagere.

- Modelo... — Maria quase sorriu.

Com o passar dos dias, de forma muito sutil, acabaram se aproximando um pouquinho. Maria não conseguia de nenhuma forma desligar a imagem de Ângela da sua cabeça, ouvia até mesmo sua voz sem que precisasse estar perto.

- Estava organizando esses aqui. Gosto desse lugar.

- Bom, me deixa saber disso. Vamos lá, me surpreenda com uma leitura que eu vá gostar.

- Não acho que eu vá acertar.

Maria começou a procurar enquanto Ângela cruzava seus braços encostada na parede, sorria levemente enquanto via Maria fazer o que havia pedido.

- Esse aqui. — ela entregou. — Não olha o título agora, espera quando sair.

- Hm... vou pensar no seu caso. — Ângela brincou e por um instante até ela surpreendeu consigo com tal interação.

- É melhor você ir, creio que tem lugares e pessoas melhores te esperando. — Maria disse quase nostálgica na sua voz.

- Queria poder fazer algo por...

- Você pode. — Maria quase sussurrou.

- O que?

- Um beijo, Ângela. — estavam mais próximas, Ângela sentiu seu corpo correr um tipo de energia invisível que desconhecia, mas não demonstrou reação alguma. Nada.

- Eu não... eu não posso. — ela sussurrou, imóvel.

- E eu? — Maria beijou com muita leveza o canto de seus lábios, viu a Ângela fechar seus olhos respirando devagar pela boca. — Eu posso beijá-la?

O silêncio para Maria foi como confirmação, ela segurou seu queixo e lhe deixou um beijo curto uma e outra vez, sem pressa. Quem a visse não imaginava o quanto tremia, o quanto seu coração batia forte, era a primeira vez que beijava uma mulher em sua vida. Ela não aprofundou, se separaram devagar e se olhavam com um desejo que antes pareciam ocultar melhor.

- Maria. — Ângela recuperou sua voz.

- Por favor, faça de conta que acabou de entregar um presente de natal a mim, me deixa guardar isso. — ela quase suplicou, não cogitou que aquilo para Ângela talvez houvera sido tão importante quanto, mesmo que essa também ainda não soubesse.

- Volte, fique com Emilly. — elas seguiam se respondendo em sussurros.

- Eu já vou. — Maria sorriu envergonhada.

- Feliz natal, Maria. — ela tocou o braço com rapidez e saiu em seguida.

Ainda sem acreditar no que havia acontecido, mesmo se culpando, Ângela sentia uma pontinha de vivacidade dormida nela. Olhou finalmente o livro que segurava em suas mãos. "Fragmentos de Safo". Ela até mesmo parou o caminhar com tamanha surpresa.

- Que demora! Não gosto de ficar aqui sozinha. Tá tudo bem?

- Está sim. — Maria quase sorriu mas Emilly percebeu aquela tristeza de sempre.

A número 43Onde histórias criam vida. Descubra agora