Prelúdio

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No caminho de volta ao hotel, foi inevitável que Eiji perguntasse o que seu amigo achou dos seus ex-colegas. Ash não mentiu. De alguns, sinceramente gostou e simpatizou, este foi o caso de Himuro e Ryo. De outros, ele queria distância, como foi o caso do tal Hideo.

Embora fosse muito diferente de Ash, o fotógrafo pensou que tinha muito em comum com o mais novo, pois em verdade, ele também não simpatizava com todos os seus ex-colegas, especialmente com Hideo.

Ash e Eiji já estavam bem cansados quando chegaram no hotel em que estavam hospedados. Ainda que sentissem que havia a necessidade de conversarem, preferiram dar o dia por encerrado. Assim, tomaram seus banhos e foram dormir, cada qual na sua cama.

No dia seguinte, o americano acordou primeiro e chamou o serviço de quarto.

Assim que Eiji despertou, teve uma inesperada surpresa. Em uma mesa entre sua cama e a de Ash, havia um café da manhã bastante variado. De um lado: torradas, frutas, geleias, pães e bolos; do outro, café, suco e leite.

– Eu não sabia o que você poderia querer, então pedi um pouco de tudo. – Informou o americano.

– Esse hotel deve ter custado uma fortuna mesmo. – O fotógrafo alcançou seus óculos que estavam ao lado da sua cama.

Ash fez beicinho. – Sério que essa é a primeira coisa que você fala do meu presente de bom dia? Assim eu vou me magoar.

– Desculpa. – Bocejou Eiji ainda sonolento. – Quando se tem pouco dinheiro, é inevitável para pessoas como eu medir o valor das coisas.

Ash levantou uma questão. – Você acha que fez um bom investimento comprando um apartamento? – O americano queria dizer isto desde que se inteirara mais das condições financeiras de Eiji, entretanto, como o fotógrafo estava abalado pela briga com seu pai, ele preferiu não tocar no assunto antes.

Eiji se levantou e foi até a mesa do café. – Sobre isso, eu não te expliquei os detalhes, mas o apartamento foi vendido para mim pelo Ibe-san, que praticamente cobrou por uma merreca. Mesmo economizando por alguns meses, jamais teria dinheiro suficiente para comprar um apartamento, ainda que fosse em um bairro afastado do centro. Mas não fale isso para meu pai. Ele odeia o Ibe-san, acha que foi ele quem colocou minhocas na minha cabeça para me tornar fotógrafo. E já que estamos sendo sinceros, pessoalmente, acredito que meu pai tem algum tipo de ciúmes paterno de Ibe.

O americano ficou incomodado. – Vocês japoneses tem uma mania estranha.

Curioso, pensou que talvez Ash estivesse bravo. – Como assim? Está irritado? Eu fiz algo errado?

Ash continuou. – Não estou estou exatamente bravo. Sabe, notei que japoneses têm essa mania de não contar tudo sobre determinadas coisas. Você não havia me dito nada sobre comprar o apartamento do Ibe, também não havia me dito muita coisa sobre seus pais antes de irmos para sua casa, e ontem Ryo falou sobre seu pai ter feito alguma coisa...

Eiji não gostava daquela tensão. – Mais do que uma mania, acho que é uma conduta bem típica japonesa. Somos meio "fechados" nas nossas relações, ao contrário dos ocidentais que são bastante abertos. Muitas vezes é preciso que algumas coisas sejam diretamente perguntadas para serem respondidas. – O fotógrafo se levantou, foi até a cama de Ash e sentou-se ao seu lado. – Desculpa se pareceu que eu escondi algo de você. Quando sentir que deve me perguntar alguma coisa, apenas faça isso.

Há um minuto, Ash estava incomodado com o fato de Eiji esconder coisas dele, mas agora sentia-se culpado. Mais uma vez: que direito tinha de obrigar seu amigo a lhe contar detalhes sobre sua vida?

– Eu sou um idiota mesmo. – Murmurou. – Se existir algo do qual você não queira comentar, seja porquê te machuca ou porquê você não quer dar explicações, então não precisa se abrir comigo. Mais do que qualquer um, eu deveria entender a dor que alguns assuntos podem causar.

One more time, One more changeOnde histórias criam vida. Descubra agora