Ash demorou para voltar a residência dos Okumura. Antes disso, andou sem rumo pelo shopping, caminhou por aqui e ali, e comeu num restaurante qualquer. Quando retornou, o dia já havia dado lugar a noite.
Antes mesmo de entrar, percebeu que as luzes estavam apagadas. Provavelmente, porque todos estavam dormindo. Com desânimo, abriu o portão e depois a porta principal. Felizmente, elas encontravam-se abertas. Pelo menos nesse ponto, agradeceu a segurança japonesa. Nos Estados Unidos ninguém se atrevia a deixar as trincas desprotegidas, tanto mais à noite.
Silenciosamente, entrou no quarto que há dias era sua zona de conforto mais confiável. E para seu alívio, lá repousava seu namorado. No fundo, Ash receava que Eiji ainda pudesse estar na rua.
Instantes depois, constatou um certo perfume sobre sua cama. Sem pensar duas vezes, desfez-se do objeto. Pouco depois, preparou-se para tomar um banho prolongado. Evitando fazer barulho, mesmo desconfiando que Eiji estivesse acordado, levou suas coisas até o banheiro.
Ao emergir o corpo na água fumegante, pensou profundamente sobre seu dia, muito mais do que havia conseguido pensar enquanto caminhava noite à dentro. Ash havia tomado uma decisão. Seu dilema sobre morar no Japão ficaria para mais tarde, agora sua maior preocupação era outra. Por culpa de Nagai, atualmente Eiji desconfiava que ele escondia coisas, talvez pior, que mentisse.
De um lado, Ash poderia resolver seus problemas simplesmente matando o tio do namorado. O plano seria perfeito. Primeiro, ele tinha quase certeza que o empresário não havia pesquisado sobre seu passado o suficiente. Do contrário, não se meteria com um assassino. Considerando isso, a guarda de Nagai era baixa e na falta de um estratagema de seguridade, era presumido que não guardasse muitas cópias dos vídeos comprometedores de Ash, assim conjecturou o americano.
O plano seria perfeito. Todavia, o americano sabia, estaria empilhando uma mentira a mais sobre tantas outras. Tudo que não queria continuar fazendo. Além disso, depois de tudo, Nagai ainda era o tio do seu namorado. Eiji poderia ter seus embates com o parente, mas sofreria sua morte.
Ash tinha outra alternativa. A tão cruel verdade que tantos fogem. Até o momento ela parecia bastante desafiadora, pois não era simplesmente sua exposição que estava em jogo. Primeiro, ele desestruturaria uma família; mas também acabaria com o responsável principal pela cobertura médica de Takeshi; então, seria rejeitado pelos pais do namorado.
Pesando os prós e os contras, chegou a uma resolução. Ash não tinha culpa que Nagai fosse um pedófilo. E justamente por isso era urgente que fizesse uma denúncia. Ele não se importava com as investidas do empresário, mas só de pensar que crianças poderiam ficar à mercê de um homem doente, tomou sua decisão final.
Mas quando revelar a verdade? Qual seria o momento oportuno? Brincando com a água, ponderou sobre. Não era certo que fosse imediatamente, constatou após um tempo. Eiji havia dito que o Ano Novo era especial para os japoneses, por isso, Ash não queria estragar uma festividade anual tão importante para seu namorado e família. Teria que ser depois.
De repente, lembrou de algumas palavras de Eiji. O fotógrafo queria levá-lo para conhecer a escola que estudou e, mais do que nunca, desejava voltar à Tóquio. Eis que Ash encontrou seu momento oportuno. Longe dos Okumura e podendo falar com mais tranquilidade com o namorado, sem a preocupação de alguém escondido atrás da porta, confessaria o segredo de Nagai.
Depois de um dia estressante, em que brigou com a pessoa mais especial da sua vida, o americano finalmente pôde respirar com alívio. Jogando suas costas para trás, aproveitou seus últimos momentos na banheira, antes da água aromática ficar morna. Enxugando-se, vestiu roupas e em seguida e se entregou a cama.
VOCÊ ESTÁ LENDO
One more time, One more change
FanfictionDepois de horas sangrando a espera da morte, Ash finalmente se rendeu ao sono. O que ele não esperava era que este sono suicida não era eterno. Para entenderem um pouco melhor a proposta dessa fanfic: Basicamente, a história se trata de um final alt...