Irmandade?

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Como Eiji prometeu, ele não saiu do seu quarto o dia inteiro. Nem mesmo para ajudar o namorado a estender o cobertor. Pela noite, foi Ash quem desceu as escadas para receber e pagar pela pizza.

– Como ele está? – perguntou Kaname preocupada. – Ainda bravo?

Ash estava com bastante fome, por isso não quis se demorar naquela conversa. – Creio que sim. Amanhã com certeza ele estará melhor, não se preocupe.

Kaname mordeu o lábio inferior. – Pelo menos vocês não se afastaram dessa vez. Odiaria que voltassem para aquele hotel novamente.

– Não somos mais crianças, Sra. Okumura. Não tem porquê ficar preocupada – afirmou Ash.

– Eu sei, mas não é exatamente por isso que fico preocupada. Às vezes sinto que meu filho pode nos deixar a qualquer momento. Tenho muito medo que isso aconteça.

Ash respirou fundo. – Se teu filho faz tanta falta assim, por que você e Takeshi não tentam pressionar ele menos? Eiji ainda não completou nem 20 anos e vocês dois já querem que o futuro dele esteja pronto.

– Pressionado? – repetiu Kaname. – Mas eu sempre apoiei ele como fotógrafo – defendeu-se.

– Não é exatamente isso que eu quis dizer. – Ash fez uma pausa antes de continuar. Sobre esse assunto, ele precisava ser cuidadoso, afinal, não queria interferir em relações familiares. – Hoje no almoço vocês ficaram exaltando Mamoru pelas escolhas que ela fez. Como se a carreira do Direito merecesse mais reconhecimento do que qualquer outra carreira. Alguma vez, você e Takeshi já demonstraram orgulho pelas escolhas do seu filho?

Kaname ia falar algo, mas travou no último momento.

– Eu sei o que você está pensando, mas apoiar Eiji não é o suficiente. Como pais dele, você e seu marido deveriam reconhecê-lo tanto quanto reconhecem o filho dos outros.

Nesse momento, o americano percebeu uma expressão triste em Kaname. Mesmo assim, não se arrependeu do que disse. Pelo contrário, ainda continuou – não tentem forçar ele com essa história de filhos também. Você deve saber, para ter um filho é preciso maturidade e estabilidade. Eiji ainda não têm o suficiente dessas coisas e provavelmente pode encarar suas sugestões e as de Takeshi como mais uma carga. Você já não acha que ele é suficientemente pressionado?! – Quando todas essas palavras saíram de Ash, ele se deu conta do quanto falou. Por outro lado, sentiu-se aliviado. Talvez até tenha sido um pouco petulante, mas não iria retirar o que disse.

– Você acha que a gente pressiona ele demais para ter filhos?

Ash estava contente em saber que sua opinião importava. – Eiji acabou de sair da adolescência. Não é justo exigir dele uma família quando recém saiu dessa casa. Ele ainda precisa conhecer um pouco da vida e do mundo para depois entrar em uma nova família.

Kaname sorriu – você fala como se ele não fizesse mais parte dessa família.

O americano ia falar, mas a Sra. Okumura o interrompeu – eu estou brincando! Eu entendi o seu ponto e, sinceramente, sou obrigada a concordar. Eiji recém saiu de casa e conquistou sua independência e eu já quero impor-lhe que tenha obrigações com uma esposa e filhos. Realmente não é justo da minha parte. Nada justo – inspirou por fim.

– Eu estou feliz que pense assim, Sra. Okumura. Agora se me der licença...

– Uma última coisa! – Sua sogra o chamou.

– Sim? – Ash já estava nas escadas quando parou seu passo.

– Gostaria de te dizer que fico bastante feliz em saber que meu filho conserva uma amizade tão verdadeira. Tudo bem que Eiji era popular na escola, mas isso não quer dizer que ele fosse tão próximo de alguém como ele é agora com você. Para ser sincera, não estou sendo justa com a relação de vocês.

One more time, One more changeOnde histórias criam vida. Descubra agora