Revelação

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Eiji soube que bebeu além da conta mesmo antes de abrir os olhos. Foi apenas o tempo de fazer isso para chegar ao banheiro às pressas e despejar todo conteúdo do último jantar. Quando terminou, precisou de todo esforço possível para trocar as roupas e escovar os dentes. Ele sentia-se realmente péssimo.

Aos poucos, as lembranças da noite anterior surgiam em sua mente como flashes. Ciente de que Mamoru e Ash o proibiram de beber, ardilosamente tomou para si as taças do namorado enquanto este tagarelava com a amiga. Depois disso, tudo que recordava era de um pensamento sobre o quão tolerante a bebida Ash era - diferente dele próprio. Foi então que apagou.

Com dor de cabeça, Eiji desceu vacilante pelas escadas. Ele já sabia que disfarçar a ressaca seria um esforço inútil, de modo que apenas se empenhou em atenuar o quão ruim era seu estado.

Ao chegar à cozinha, deparou-se com duas pessoas. Sua mãe sentava-se de frente para Ash, o que insinuava que os dois conversavam. Já o americano estava de pé, cozinhando. Não demorou muito para Eiji perceber que o namorado fazia misoshiru¹, no que constatou duas coisas: primeiro, Ash recebeu instruções sobre como cozinhar o prato; segundo, sua mãe já sabia da bebedeira. Misoshiru era comida para pessoas em estado de ressaca. Já não adiantava mais disfarçar o que aconteceu na noite anterior. Eiji só esperava que o esporro não fosse pesado demais. Depois de tudo, ele ainda teria a opção de ignorar.

— Bom dia — disse secamente. Ele mal encarou a mãe quando abriu a geladeira e bebeu meio litro de água como se não fosse nada. Desde que acordou, sua sede era incontrolável. Um sintoma da ressaca que agora não precisava esconder.

— Bom dia para quem? Para você com certeza não é. — Kaname levantou da mesa e foi em direção ao armário. Lá, mexeu nas gavetas até catar um dos seus remédios. — Aqui está. Tome um agora e um depois do almoço, vai melhorar essa dor de cabeça que com certeza você está sentindo.

Eiji não retrucou. Ele apenas alcançou os comprimidos. Mesmo que quisesse reclamar, não faria isso. Desde o começo ele deveria imaginar que seu corpo não estava acostumado com o álcool.

— Obrigado — disse conformado. Em seguida, sentou-se à mesa e observou o namorado.

— Você não disse bom dia para mim. — Eiji observou as costas de Ash enquanto falava.

— Eu estava preparando nosso café da manhã. — O americano respondeu por cima do ombro.

Mesmo zonzo e com dor de cabeça, Eiji notou que o namorado comportava-se de modo estranho. Seu sorriso parecia forçado, além do que Ash não lhe encarava nos olhos. Não demorou muito para que o fotógrafo assumisse que algo tinha acontecido na noite anterior. Demorou menos tempo ainda para se dar conta do cheiro que o cobria - o cheiro de Ash.

— Por que está se cheirando? — indagou Kaname ao ver Eiji fungando as mãos, braços e roupas. — Ainda está bêbado? — ironizou.

No mesmo instante, o americano virou-se para o namorado, encarando-o. Em resposta, Eiji se pôs ainda mais tenso. Ele nem considerou que sua mãe estava no mesmo cômodo quando falou:

— Eu te fiz alguma coisa? — Seus lábios estavam trêmulos e uma espécie de terror cobriu-lhe a face. Eiji temia que tivesse feito algo irreparável.

Ash sorriu na tentativa de amenizar a inquietação do outro. — Não, mas você me deve por ter usado meus shampoo e meu sabonete... ah, notei hoje pela manhã que o conteúdo deles estava reduzido — mentiu, sobre a última parte.

Pouco depois, o fotógrafo parou de tremer, no entanto, seu nervosismo deu lugar à vergonha. Como poderia ignorar o fato de que usou as mesmas coisas de banho do namorado?

One more time, One more changeOnde histórias criam vida. Descubra agora