Fool For You | 1° Temporada

Capítulo 10

- Se fosse eu, não teria aguentado - diz Amy, minha irmã.

- Você acha que eu não sei? Te conheço bem Amy.

- Mas é sério, você que é bem tranquila para essas coisas.

- Não sou tranquila, só não sou desesperada. Mas confesso que foi difícil, não sei o que deu em mim ontem. Ainda bem que fui embora. 

- Queria estar aí para ver a sua carinha.

Amy era quatro anos mais velha que eu, ela morava no Brasil junto com os meus pais e parentes. Não era muito parecida comigo, a única coisa que salvava era a cor do cabelo e dos olhos, que eram castanhos escuros. Seu cabelo era bem mais cacheado, o meu era ondulado quando estava natural. Éramos bem grudadas quando crianças, mas com o passar do tempo fomos nos distanciando, tanto pela minha vinda para cá com quinze anos, tanto pela minha carreira. Ela era empresária de uma companhia de eventos, então também se mantinha ocupada. Mas conversávamos sempre que podíamos, apesar de ter certeza de que se ela morasse aqui nossa relação seria mais estreita. 

Minha família ainda era o meu abrigo, com quem eu podia contar sempre que eu precisasse. Não importava se o mundo me virasse as costas, eles estariam ali para mim e isso era o que me confortava. Via eles algumas vezes ao ano, já que eles não gostavam de vir para cá e preferiam a cultura brasileira. Mas ainda sim era divertido quando os via nas festas de aniversários ou natal, eles me lembravam de quem eu era, sem todo o glamour da fama.

- Eu também queria que estivesse aqui - digo a minha irmã - Mas acho que ainda vejo vocês nesse ano.

- Eu espero que sim. Até lá, se cuida tá bom? Vejo todas as notícias que correm sobre você. Não quero que se machuque. 

- Fica tranquila, eu estou bem. Se cuida aí também, te amo Amy.

- Também te amo. 

Ligo o computador para ver os e-mails que Nancy havia me mandado sobre alguns trabalhos. O meu e-mail era privado só para a equipe e alguns conhecidos, pois era por lá que me comunicava mais formalmente, quando precisava dar um feedback a alguém. 

Abro o primeiro e-mail que fala sobre a parceria que a Nike queria fazer comigo. Eu amava os esportes e atividades físicas, sempre postava no meu instagram vídeos do meu treino para incentivar as pessoas a se exercitarem. Quando ainda morava no Brasil, era bailarina em uma companhia de dança que representava o estado de São Paulo. Tive que sair para viajar para cá, mas ainda passava horas dançando. Mesmo se eu não gostasse de exercícios físicos teria que fazer, pois ajudava a criar resistência para as turnês. Dançar e cantar ao mesmo tempo é mais difícil do que se pode imaginar. Leio as informações contidas e faço anotações no meu celular para depois passar para Nancy na reunião. 

O segundo e-mail tem um título inusitado, escrito "Abra". Penso duas vezes com medo de ser vírus ou algum hacker, mas a curiosidade fala mais alto, afinal ninguém sabia da existência dessa conta a não ser os meus conhecidos. Começo a ler e entendo do que se trata. Balanço a cabeça negativamente soltando um riso irônico. "Esse menino não tem jeito mesmo", falo alto.

"Oi Maia. Sim, sou eu. Você falou que não era mais para te ligar então resolvi mandar esse e-mail. Te disse que quero ser honesto com você, por isso te escrevo essa carta virtual. 

Você se lembra Maia, quando depois de um dia difícil, estávamos na piscina aquecida da minha casa? Já era noite, a cidade dormia enquanto nadávamos e ficávamos juntos. Você estava chateada depois de ver uma onda de hate para você no twitter, estava cansada de compor músicas que não davam em nada, sentia falta da sua família e estava triste por brigarmos tanto. Nós já estávamos separados na época, lembra? Mas ainda sim continuávamos juntos porque apesar de tudo não conseguíamos  parar de nós ver. Você olhou para mim e me abraçou, começou a chorar nos meus braços falando que se sentia sozinha. Você me perguntou se algum dia iria te deixar e eu te disse que não. Te disse que mesmo se a gente se afastasse de verdade, mesmo se a gente parasse de se falar eu ainda estaria lá por você, sendo paciente com você. Eu enxuguei as suas lágrimas com o meu coração partido, porque eu odeio te ver chorar.