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Luz

Dava a noite por encerrada.

Sentia-me cansada, só desejava ir para casa e deitar-me na cama. Para mim, ter metido os pés neste convívio foi a pior coisa que podia ter feito.

Nunca me senti tão triste, desanimada, sem motivação.

Havia chorado, já tinha sido mal tratada, o que não esperava que fosse acontecer. Desta semana, esta era a minha pior noite.

Estava pronta para ir embora, porém, queria tentar uma última vez.

Perguntei pelo Herman ao Chris, o rapaz disse que ele estava no exterior da vivenda, a fazer uma chamada.

Agradeci e fui atrás dele.

Encontrei-o no passeio, com o telemóvel junto ao ouvido. Ainda parecia irritado, pelo falar.

Assim que os olhos dele foram postos em mim, desligou a chamada e ficou a encarar-me. Parecia chocado, ou não esperava que fosse ter com ele.

- Espero que saibas que esta é a tua última oportunidade que te dou para dizeres o que se passa.
- ele desviou o olhar -

- Não há nada para dizer. - cuspiu as palavras frias - E tu já ouviste o que disse há bocado, não queres é aceitar.

Ele estava a gozar comigo?

Conseguia desiludir-me mais.

Confiei nele, apaixonei-me por ele, mesmo pensando que isso não iria voltar a acontecer com ninguém.

Porquê isto agora?

Estava a sentir que era o fim.

O rapaz desviou o olhar por segundos, voltando a encarar-me. A tensão era cada vez maior e odiava a sensação.

Este não era o Herman que eu conheci. Tinha mudado tão rápido, e saber que agora estávamos de costas voltadas - por escolha dele - era como uma facada no meu coração.

Só gostava de saber o porquê disto ter de estar a acontecer. Estava tão cansada de me sentir deprimida, de sentir um vazio dentro de mim.

Que cada vez era maior.

- E já agora, nem sequer precisas de mim. Já arranjas-te alguém para te entreteres. - fiquei chocada -

A sério isso?

- Eu confiei em ti, sabes? - murmurei. Já sentia os meus olhos novamente arrasados em água. Não ia chorar á frente dele - Mas pronto, se é isto que queres, eu não te volto a chatear mais.

- Luz. - ele murmurou, encarando o chão por segundos - Desculpa. Desculpa por aquilo que fiz na casa de banho, mas eu precisei de agir assim. Eu não te quis magoar...

- Pois, mas magoas-te. E achas que é um desculpa que vai mudar tudo da noite para o dia? - balancei a cabeça, de forma negativa - Eu já percebi que não me queres perto de ti, e se é assim pronto. Podes ficar descansado.

- Achas que é isto que eu quero para nós? - ele elevou o tom de voz -

- Não achas que já disses-te isso vezes que chegue? - a minha voz saiu alta também - Estamos sempre a afastar e a voltar. Eu não te julgo por quereres o teu espaço, só acho ridículo a forma como isto tudo está a acontecer! Eu acho que não te fiz nada para merecer isto. - ele ficou a olhar para mim - Tu soubeste a minha história com o Connor, viste o que aconteceu, levei uma humilhação dele...e pelos vistos estou a levar outra também.

- Não me tentes comparar a esse gajo. Eu nunca te faria o mesmo que ele fez! Eu nunca te iria bater ou fazer o que fosse. Custa-te aceitar que preciso de ficar sozinho? - disparou num tom alto -

Fiquei a olhar para ele.

Depois de uns segundos a tentar ganhar coragem, mesmo que não quisesse, limitei-me a virar costas.

Reparei nas duas raparigas a sair da porta principal, prontas para virem embora. O Herman desapareceu, entrando pela vivenda adentro.

Rapidamente, as lágrimas voltaram a descer pelas minhas bochechas.

Levei a mão aos olhos, de modo a tentar secar as lágrimas, o que não resultava. Eu estava tão magoada. 

- Então... - murmurou a Bianca, com um ar preocupado - Porra amiga, tu hoje não estás nada bem.

- Vamos para o carro, por favor. - pedi -

Entramos no automóvel.

A Bianca ia atrás, como sempre.

Já eu, no banco da frente, apoiei o cotovelo na porta e a mão no rosto. O mesmo que estava encharcado de água, devido ás lágrimas.

- Queres falar? - perguntou a condutora -

- Eu e ele voltamos a falar. Ele está mesmo decidido, não me quer perto dele. Primeiro diz que não quer isto para nós, depois já diz outra coisa. Só nunca pensei que gostar dele fosse tão difícil. - admiti - Parece que andou mais a brincar comigo.

- Ó Luz, não. Nada disso. - ajudou a rapariga de trás - Não percebes que a ex dele está sempre colada a ele?

- Lá está. Eu acho que se passou alguma coisa entre eles. Sempre que ela se aproxima, ele é parvo comigo. Quer dizer, mesmo sem ela estar...eu não sei o que se passa, sinceramente. - deixei escapar um suspiro - Quero esquecer isto tudo, o melhor mesmo é seguir em frente.

- Tem calma. Não deites tudo a perder. Ainda há sempre uma esperança. Isto deve ser ele a agir de cabeça quente. Não te preocupes, mais tarde ele volta. - proferiu ainda a Bianca -

- Já não sei, para ser sincera. 

Deixei escapar um suspiro, ainda a sentir o meu rosto molhado.

Estava de rastos e tinha o coração partido, mais uma vez. Não queria acreditar que ele me afastou de si.

Luz ➳ Herman TømmeraasOnde histórias criam vida. Descubra agora