A chuva forte caía do lado de fora do carro, batendo contra os vidros e escorrendo sobre eles a medida em que Thomas dirigia até o hospital. Faziam 6 meses que Micael estava em estado vegetativo e naquele dia Amanda iria assinar os papéis para que desligassem os aparelhos.
Camila lutava contra as lágrimas que queriam escorrer pelo seu rosto. Deixá-lo partir era melhor, ela sabia disso, não poderia ser egoísta ao ponto de obrigá-lo a viver sendo tão limitado, quando sabia que ele não iria querer nada disso. Micael foi seu melhor amiga durante toda a sua vida, e amigos sabem a hora de dizer adeus, mesmo quando não querem.
Thomas parou o carro no estacionamento do hospital, pedindo para que a namorada o aguardasse enquanto apanhava o guarda-chuva no banco traseiro. Ele abriu a porta do motorista e armou o guarda-chuva antes de sair, enquanto Camila ainda observava as gotas grossas escorrerem na janela do carro e sua mente trazia de volta todas as memórias boas com Micael.
Os dois haviam sido criados juntos, a diferença de idade era de apenas alguns meses, eram irmãos de criação. Pensar que não o veria mais, não riria de suas palhaçadas e lerdezas, não teria mais seus conselhos e surtos fraternos, não teria mais Micael ao seu lado nos momentos bons e ruins, isso doía como o inferno. Todos os momentos importantes ele estava com ela, em tudo, apoiando independente da situação.
Thomas ajudou a namorada a descer do carro abraçando-a de lado para que não se molhasse. Era esquisito tê-la tão silenciosa já que os dois sempre falavam tanto um com o outro, mas ele entendia todos os motivos de Camila para querer estar tão quieta. Estava perdendo um membro de sua família e precisava de todo suporte que pudesse receber naquele momento.
O casal cruzou a recepção ainda abraçados e em silêncio após se identificarem. As recepcionistas já os conheciam ao ponto de nem precisarem fazer qualquer tipo de pergunta, entregaram os crachás e os dois se encaminharam até o quarto onde Micael se encontrava.
Assim que se aproximaram da porta de entrada do quarto, foi possível ouvir um alvoroço vindo lá de dentro. Vozes alteradas se faziam cada vez mais altas a cada passo dado, provavelmente ocorria mais uma discussão acalorada. Desde que Amanda havia dito que assinaria a papelada, Brasil se rebelou e constantemente brigava com a garota.
— Essa decisão não é sua. — A voz de May se fez mais alta assim que Camila abriu a porta, tendo a visão dos dois frente a frente se encarando como inimigos.
— Não deveria ser sua também, mas aqui estamos nós. — Brasil acusou bufando no rosto da garota, visivelmente alterado.
— Que porra é essa de vocês dois?! — A cacheada interveio entrando entre eles e os afastando.
— Essa imbecil vai matar o nosso amigo. — Anderson novamente acusou apontando na direção de Amanda que ofegou entre um soluço e outro. — Você deveria se envergonhar de dizer que é a namorada dele, quem ama não faz isso.
— Brasil, chega! — Thomas também interveio ficando logo atrás de Camila. — Acho que você precisa se acalmar um pouco.
— Me acalmar? Você ficou louco, Tom?! É do Micael que estamos falando, Amanda quer matar o Micael!
— Brasil, vai lá pra fora se acalmar, por favor. — Camila pediu tocando sutilmente o ombro do amigo. — O Tom vai ir com você, mas preciso que se acalme.
Anderson assentiu bufando e saiu do quarto sendo acompanhado por Thomas as pressas. A cacheada se virou para Amanda que se abraçava acuada no pé da cama olhando diretamente para a janela visivelmente desestabilizada.
— Já fazem 6 meses... — Ela disse com a voz embargada pelo choro. — Ele não vai acordar.
— Você acredita nisso? — Camila perguntou dando um passo a frente e a puxando para um abraço apertado. — Realmente acredita que ele nunca vai acordar?
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Lealdade (CONCLUÍDA)
AçãoQuando Camila Azablanca completou 10 anos, Germano, seu pai e o líder de todo um império mafioso, foi assassinado em uma missão. Desde então, a garota passou a receber treinamentos árduos para que seja a sucessora de tudo o que sua família havia con...