Fugindo da escola.
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Foi difícil para Gabi fazer a escolha. Bom, digo escolha, mas não sei se é a palavra certa. Ela poderia ter se prevenido? Sim, mas nem sempre esses métodos são eficazes. Além de que eu não sei o que houve, então não posso nem pensar em julgar. Agora estamos na fila de espera de uma clínica apropriada para isso. Há muitas mulheres aqui e todos para fazerem abortos. Do lado de fora eu vi algumas pessoas protestando contra, por isso fiz Gabi passar com fones de ou isso e uma touca na cabeça e não a deixei ler os cartazes. Estou segurando sua mão e ela está apertando com força, por medo. Sabemos os riscos de um aborto, mas é para o bem dela. Algumas mulheres entram, demoram uns minutinhos e saem em marcas, tranquilas e outras saem chorando, o que me deixa com mais medo.
— Vai dar tudo certo. — Tento passar confiança. Ela me olha e sorrir.
— São namorados? — A mulher do lado de Gabi pergunta. Negamos e respondemos que somos só amigos. — E você vai abortar? — Ela pergunta sem julgamento na voz.
— Sim. — Gabi engole em seco e encara os pés.
— E você está aqui por ela? — Ela pergunta para mim. Assinto e ela sorrir. — Não precisa ficar nervosa... é de boas, se quiser posso entrar com você. — Ela se oferece. Gabi me olha e eu assinto.
— Vou dar uma volta ali fora e já volto. — Digo me levantando. — Vai ficar tudo bem, viu? — Digo beijando sua testa.
Saio da clínica e sigo para um pequeno mercado, que tem à frente da clínica. Compro um Cheetos e uma coca. Sento-me na escadaria da clínica e começo a comer, ignorando as pessoas aos gritos. Chamando as mulheres de assassinas cruéis, sendo que são ele que são assassinos. Todos somos assassinos de uma maneira ou outra. Deve ser umas 16h. Não foi preciso agendar nada. Ligamos para a clínica e eles não perguntaram nada, além de quantas semanas e dizer o valor. Ajudei ela a pagar e logo seguimos para a clínica.
Essas mesmas pessoas que gritam palavras de ódio, são as mesmas que quando passam por uma criança com fome na rua e ignoram. Essas mesmas pessoas, são que não dão amor ao próximo, ao invés disso, julgam. Devido a pessoas assim, o mundo nunca irá para frente. As coisas mudam, mas as pessoas não. As pessoas preferem se esconder nas antigas tradições e falatórios, para ocultar o preconceito.
— Está tudo bem? — Pergunto. Ela está com os olhos vermelhos e molhados.
— Um pouco melhor, só com um pouco de cólica. — Explica. — E muita fome. — Ela finalmente sorrir.
— Então vamos comer. — Tenho curiosidade de saber como foi, mas não vou fazê-la relembrar.
Ela fica muito mal, ao ouvir os gritos das pessoas, agora direcionados a ela. Os cartazes cruéis. Saio o mais rápido possível com ela. Na lanchonete ela começa a chorar e dizer que matou uma vida. Tento acalmar ela, mas ela parece muito destruída por dentro. Digo que ela não matou ninguém, que ela apenas salvou a própria vida. Consegui acalmar ela um pouco. Perguntei se ela ficaria bem em e ela assentiu. Subi com ela e a deixei dormindo.
— Victor? — O chamo. Ele está jogado no sofá, jogando vídeo game.
— Hm? — Ele resmunga sem tirar os olhos da TV.
— Fica de olho da Gabi, para garantir que ela está bem? — Peço. Ele para o jogo e me encara confuso. — E não faz muitas perguntas a ela.
— Por quê? O que houve? — Pergunta me encarando assustado.
— Nada de mais. — Respondo com um nó na garganta. — É só cólica mesmo, ainda assim, de vez em quando, ver se está contínua dormindo.
— Está bem... — Ele responde sem entender. — Já vai? Sem me dá um beijinho? — Ele faz bico. Dou o dedo e saio pela porta.
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Quase Clichê - vol. 1
Romance(LIVRO COMPLETO E REVISADO) - Duologia livro 1. Guilherme mora em Curitiba desde que se entende por gente. Nunca fora um garoto extrovertido, mas sempre teve seus três fiéis escudeiros. Agora com 14 anos, Guilherme acabará de entrar no ensino médio...