Capítulo 11

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Nascer, crescer, reproduzir, morrer. Este é o ciclo da vida ensinado a todos os seres humanos antes mesmo de compreenderem o que realmente significa viver. Algo que leva anos resumido em apenas quatro profundas palavras. Um sopro ao mesmo tempo que um furacão. Porém, o que é a vida? Por que a raça humana apenas parece dar valor à ela quando a morte se coloca em seus caminhos? A dor de perder alguém ou a incerteza de não saber para onde ir à iminência dos olhos se fecharem são alguns dos motivos que fazem as pessoas entenderem que protagonizam um espetáculo...elas apenas precisam decidir entre entreter o público ou a si mesmas.

Nascer. O nascimento é utilizado como símbolo de pureza e renovação desde antes da fundação da Terra. Os humanos compreendiam sua importância, comemoravam a mera possibilidade da vinda de mais um de sua espécie, mas perdiam rapidamente esse entendimento.

Crescer. Esse é o meio, o exato instante em que toda a pureza do "nascer" se esvai como vapor ao vento. É um nada, mas ao mesmo tempo é tudo. Enquanto o nascer acontece em instantes, o crescer se estende como ondas de um oceano. Anos que se passam recheados de possibilidades e sonhos, mas deixados de lado pela maior parte daqueles que deviam reconhecer seu valor. Afinal, neste mundo, o que é viver se não estudar e aprender milhões de coisas em busca da saciedade do corpo e da mente? Após isso, o mundo coloca uma escolha cruel na frente desses estudantes. O que serão pelo resto de suas vidas? Como irão entreter o público? E dessa pergunta morre o sonho e a intensidade, dando lugar a algo que pode ser entendido como uma sub vida. Um sobreviver.

Reproduzir. Um ato solene, mais puro que o próprio nascimento e mais poderoso do que a própria morte. É a capacidade de criar algo incrivelmente novo, imaculado e magnífico... Infelizmente os anos foram cruéis com essa parte em específico. Abandonada e descartada como se fosse algo dispensável no ciclo da vida... Como se não fosse a própria vida.

Morrer. A palavra mais doce e mais cruel deste ciclo sem fim. Um doce contentamento para aqueles que sabem ter encerrado seu tempo na Terra e para os que a vida é mais dolorosa do que a falta dela. Uma única palavra com duas sílabas, mas a mais inquietante e imprevisível. Um ser humano pode morrer de infinitas formas em infinitos momentos, jamais consciente de quando dará seu último suspiro. Pode desistir da vida pelas próprias mãos ou pelas garras de uma doença maligna. Pode morrer por mãos inocentes e negligentes ou pelas mãos de amigos e inimigos. A morte, doce e fria, não leva mais do que um sopro de brisa.

Morrer. O fim do ciclo e ao mesmo tempo o início de algo completamente novo.

A mente de Rose viajou para lugares distantes enquanto ela observava as costas da celi loira e as pessoas que passavam pelas três. Não conseguia imaginar o motivo que fizera Maria e Cassie dirigirem suas motos para o maior shopping de sua cidade, mas ali estavam, caminhando e desviando de pessoas normais seguindo suas vidas monótonas.

Era algo estranho andar pelos corredores abarrotados de gente que desconhecia o mundo em que ela fora inserida, como se não fizesse cerca de três dias desde que se mudara para uma cidade de fadas e vira sua vida se tornar algo que jamais havia imaginado. Tanta coisa aconteceu nesse meio tempo que ela se surpreendeu ao perceber que apenas 72 horas a separava de sua vida humana.

Rose passou os olhos pelas pessoas ao seu redor, observando os rostos concentrados em seus pensamentos ou presos em sentimentos que ninguém mais podia imaginar. Uma mãe de aparência cansada tentava acalmar um bebê agitado pelos gritos e risadas ressoantes de um grupo de adolescentes; um casal aparentava indiferença à presença do parceiro enquanto mantinham seus olhos presos nos celulares em suas mãos; uma menina passou correndo quando o pequeno e gordo cachorro que a acompanhava se soltou da coleira e correu atrás de um dos carrinhos motorizados que o centro comercial disponibilizava às crianças por um preço exorbitante. Todas aquelas pessoas presas demais em vidas cinzas e desligadas, superficiais e ignorantes ao mundo profundo que os cercava como um círculo de fogo. Eram limitados de tal maneira que ririam se alguém lhes contasse sobre a existência de fadas e magia. Rose não os culpava, ainda sentia a dúvida dançando no canto de sua mente, fluída e constante; um lembrete claro de sua antiga vida mortal.

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