Capítulo 13

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Seu corpo doía em partes que jamais pensara ser possível e de maneiras que a faziam querer afundar em sua banheira com a água na temperatura mais escaldante possível, mas o banho era algo que precisava ser rápido, ainda tinha muito o que fazer.

Um suspiro saiu de seus lábios quando a água proveniente do chuveiro escorreu por seu corpo, limpando o suor e a sujeira de todo o treinamento que tivera com Daniel. Foi exaustivo; o celi mostrara à menina os movimentos de defesa básicos que deveriam ser fáceis de executar e a fizera repetir dezenas de vezes até que o ato fosse natural e seus músculos decorassem de maneira que seu corpo agisse antes de sua mente.

—Lutar é mais do que apenas bater e proteger. Lutar é manter sua mente silenciada e seu corpo com a fala. É instinto e é raciocínio ao mesmo tempo. Você é pequena, mas é rápida. Use a força do seu oponente contra ele.

A fala, dita enquanto ele posicionava suas costas e seus punhos na postura adequada, ficara marcada em seus pensamentos mesmo horas depois. Ela estava cansada e dolorida, mas sentia-se mais viva do que nunca. Era como se seu corpo enfim despertasse, como se houvesse algo dentro de si querendo sair, ainda sonolento.

Limpa e novamente perfumada dos pés aos cabelos, Rose vestiu uma das roupas compradas no dia anterior. Um bonito conjunto de moletom na cor cinza, confortável e apropriado para alguém que ainda tinha muito que aprender nas próximas horas. Cassie, antes de sair com os outros celis, deixara uma montanha gigantesca de livros em seus braços, dizendo o que estudar e o que era dispensável de uma vez, quase como uma avalanche de conhecimentos derramados sobre sua mente. A preguiça que se abateu sobre a menina poderia ter derrubado todos os guerreiros de Elfee.

Naquele instante, após o banho, enquanto Rose preparava alguns lanches para comer durante a leitura, os celis estavam indo ao encontro de Ruby Campfort, uma criatura peçonhenta pertencente a uma espécie chamada Enxei, a qual Rose nunca ouvira falar em toda a sua curta vida. Não fora autorizada a ir, tanto por Daniel, que aparentemente tomara para si a obrigação de ser sua babá, quanto por Acácia. A negação da avó, mesmo que com motivos plausíveis, foi completamente estranha. A senhora, ameaçadora em seu traje de batalha, parecia tão furiosa que Rose enfim pode a ver como a celi guerreira que era, não como a avó maluquinha e amorosa que conhecia. Havia raiva crepitante nos olhos castanhos, fervorosos e ameaçadores. Não houve muita escolha se não aceitar a ordem, porém ela não estava chateada ou contrariada em precisar ficar; estava aliviada. Tanto acontecera nos últimos dias, tanto fora jogado sobre si como se um novo mundo fosse algo simples a ser compreendido, que se sentar e estudar nunca parecera tão reconfortante. Era quase como simples aulas de biologia, história e geografia, se ignorasse as criaturas mágicas e perigosas, a cidade destruída por um causa de um prédio e as civilizações escondidas por feitiços e truques de luz.

Lógica, de que ela serve se não para questionar a si mesma? Razão muitas vezes é apenas um ponto fixo dentro de uma caixinha quadrada que a maioria das pessoas usa para se esconder de fatos e sentimentos que não conseguem compreender de imediato. Lógica e razão nada mais são, na maioria das vezes, do que o caminho mais fácil a seguir, mas ao mesmo tempo o mais difícil de se prender. A lógica, no caso de Rose, foi deixada no coração de uma praça, em frente aos troncos cruzados de duas árvores. Em sua nova vida, seu novo mundo e sua nova forma, a única coisa que precisava era simplesmente acreditar; apenas assim encontraria um equilíbrio entre o racional e o irracional.

Ela tomou um longo gole do vinho fae que achara na geladeira, escondido atrás de um pote de sorvete cheio de feijão. Torcera o nariz em desgosto ao ver os grãos, imaginando a quanto tempo estavam ali uma vez que, desde que se mudara, a cozinha apenas fora usada pelos moradores da casa para cafés da manhã e lanches noturnos, excluindo o fato dela ser o cômodo preferido de Tom. Balançando a cabeça e encarando a garrafa por alguns instantes, ela ponderou se seria sábio levar o vinho consigo para a biblioteca, porém suspirou ao se imaginar bêbada em um lugar cheios de livros antigos e misteriosos; assim, ela apenas encheu uma taça e deixou a garrafa onde encontrara.

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