Capítulo 22

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Fogo e água pareciam ter se fundindo em um só elemento, transformando-se em algo poderoso e destruidor ao mesmo tempo que volúvel e renovador. Rose sentia-se em chamas ao mesmo tempo que tinha a sensação de ter congelado no tempo, eternizando aqueles segundos.

Ela fechou os olhos, passando os dedos pela pele de seu peito até chegar em sua nuca, roçando levemente a pele macia e os fios de cabelos molhados quando ele a puxou para si, sem pressa e inundado de desejo. Daniel queria aproveitar cada segundo daquele momento, queria sentir os lábios dela contra os seus e o corpo dela estremecendo quando ele a beijasse com toda ferocidade que a semanas ansiava. Seu corpo se arrepiou quando enfim houve o roçar de lábios, mas havia algo errado, algo que os puxou de uma vez para a realidade quando as pedras luminas em seu pescoço e pulso se acenderam mais fortes que as outras, quentes e vibrantes.

— Merda! — Daniel disse ao se afastar dela de uma vez, puxando a pedra pendurada pela cordinha de couro e observando a o holograma que ela formou. Como uma, todas as outras pedras da caverna diminuíram seu brilho, permitindo que a de Daniel brilhasse mais que elas.

Rose sentia o ar rarefeito em seus pulmões, mas jogou para longe a sensação das mãos de Daniel em sua cintura e nuca e do roçar dos lábios dele nos seus, olhando para a própria pedra em seu pulso e logo em seguida para o holograma da de Daniel.

A imagem de Melanie surgiu, apressada e ofegante. Era uma mensagem, gravada às pressas enquanto a artesã conversava com alguém a alguns metros, escondida da linha de visão.

— Temos uma emergência. Venham à Oficina... Agora! — Ela gritou a última parte, encerrando a mensagem que desapareceu logo depois.

Daniel trocou apenas um olhar rápido com Rose antes dela segurar sua mão em um impulso e ambos sumirem em uma nuvem de sombras.

Era uma visão hilária e extremamente aleatória. Constatou Rose quando o ambiente ao redor deles se firmou e ambos se viram em frente à entrada da Oficina, ensopados e vestidos com roupas de dormir. Sérios e concentrados, Rose adiantou seus passos e, junto à Daniel, caminhou rapidamente para a parte de Melanie, passando pelas forjas apagadas e pelas bancadas bagunçadas com todos os tipos de quinquilharia. A fada estava com as asas amarronzadas abertas, permitindo que a fraca luz iluminasse os padrões de suas asas semelhantes aos de uma borboleta. O ato impedia que se visse o que acontecia mais à frente, escondendo de olhos curiosos a pessoa com quem Mel sussurrava em tom urgente, como se algo terrível houvesse acontecido.

A artesã ouviu os passos apressados atrás de si, virando levemente o rosto com as feições completamente impassíveis, porém a visão de Rose e Daniel a fez relaxar, fechando as asas e revelando as pessoas que escondia. Maria, vestida com as roupas de batalha e armada por completo, entregava uma caneca fumegante para Gerlane. A fada porteira tremia por completo, assustada e atormentada. Suas asas estavam murchas e ela abraçava o próprio corpo antes de receber a caneca de Maria.

Os recém-chegados pararam ao lado de Mel, observando confusos a cena que acontecia, mas Rose saiu do transe rapidamente, correndo em direção à Gerlane e parando de joelhos em frente à vendedora de flores, segurando sua mão livre.

— O que aconteceu? — Perguntou, sentindo as mãos geladas dela ao mesmo tempo que extremamente trêmulas.

— Vamos esperar os outros... Por que estão molhados? — Maria perguntou, olhando engraçado na direção deles com uma expressão engraçada ao mesmo tempo que séria, como se procurasse palavras para lhes dar uma notícia ruim.

Rose comprimiu os lábios, evitando olhar para Daniel mesmo podendo sentir os olhos dele sobre si, intensos e avassaladores.

— Onde estão os gêmeos? — Perguntou Daniel, mudando de assunto e quebrando o silêncio que se instalara no cômodo, cortado apenas por um ocasional suspiro fatídico de Gerlane.

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