Capítulo 40

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Se a festa de ninfas de dias atrás beirava a absoluta opulência simplista, a comemoração da Milésima Metamorfose Natalícia de Araceli conseguira se tornar um evento que mesmo os maiores líderes do mundo dariam suas nações para participar. Toda a cidade se tornara um mar de luzes douradas e vermelhas, enfeites de folhas e poás de flores. Em todas as ruas, ruelas e praças de Elfee estava atulhada de élficos felizes e enfeitiçados com a doçura do vinho de amora negra. O outono deixou de ser uma simples estação anual e se tornara um estado de espírito, um estilo de vida.

Seres das mais variadas espécies os cercavam, todos cidadãos da cidade das fadas que a muito deixou de ser unicamente desses seres alados. Ninfas e sátiros, duendes e fadas, nereidas e, até mesmo, alguns poucos humanos, zanzavam pelos festejos, aproveitando cada segundo.

Rose não podia deixar de sorrir. Não com toda a produção que Elfee passara nos últimos dias e não quando tinha o privilégio de estar na festa central, onde o festival tinha vida e onde Araceli faria seu discurso antes de iniciar sua metamorfose.

Elfee, naquela noite, transbordava a mais pura vida imersa em magia; era como fechar os olhos, respirar fundo e, de repente, como se não passasse de um sonho, se ver na mais maravilhosa realidade existente.

As mãos delicadamente feitas deslizaram pelo tecido cintilante do vestido na cor de ouro envelhecido, o qual – além de lhe cair perfeitamente no corpo – tinha duas fendas nas pernas, permitindo que os movimentos fossem desimpedidos. Era o mesmo vestido que comprara com as amigas naqueles primeiros e confusos dias em Elfee; as três decidiram que era o momento de retirar os vestidos dos armários e dar a eles um evento merecedor. Rose, é claro, não reclamou; não negava oportunidade alguma de vestir algo que a deixasse mais bonita do que já era. O tecido, leve e corrido, destacara as ondas castanhas de seus cabelos, agora presos em uma espécie de rabo de cavalo e com tantos grampos que duvidava conseguir se livrar de todos algum dia.

Ela balançou levemente o corpo ao ritmo da música suave que tocava, queria dançar, mas a animação elétrica apenas iniciaria quando Araceli declarasse o início das festas, oficialmente.

— Eu poderia elogiar sua beleza nesta noite prodigiosa, mas não existem palavras capazes de cumprirem inigualável missão. — Disse uma voz masculina perto dela.

Rose se virou com graciosidade, deslizando sobre os saltos grossos e a grama pisoteada. O que era um sorriso singelo se transformou em um enorme sorriso carinhoso ao ver o macho em sua frente, vestido de forma impecável com um smoking.

— Mark!

— Bela Rose, finalmente, já imaginava que havia fugido de todos nós sem avisar ao seu élfico preferido.

Rose riu, atirando-se no abraço apertado de seu amigo e companheiro. Sentia falta dele, mais do que percebera; não se viam desde quando encontrou a carta de Acácia no túmulo de seu pai, quando fora forçada a subir em uma besta de quatro patas e enfrentar tartarugas comedoras de gente. Porém, mesmo que já fizesse três dias de sua volta, ela não se lembrara de o ir procurar, principalmente por ter os pensamentos fixos em Gorna, Vaztin, sua vida e, claro, Daniel.

— Desculpa. Não tive muito tempo esses dias. — Rose disse ao se afastarem, sorrindo em agradecimento quanto Mark lhe entregou uma das taças de vinho, a qual bebeu apenas após ter certeza de que não tinha sequer uma gota de amora negra.

— É... Araceli me colocou a par dos acontecimentos, ela se preocupa com vocês e quer ter certeza de que estão seguros aqui. — Mark pegou a mão de Rose, acariciando levemente a pele macia de seu dorso enquanto mantinha os olhos presos às íris douradas da celi. — Talvez nós dois possamos nos encontrar mais tarde. Preciso ir para meu posto agora, mas realmente gostaria de ouvir o seu lado da história... Talvez em uma dança.

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