Capítulo 2

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Rose mal havia saído de seu quarto nos últimos dois dias, presa em pensamentos torturantes de um acontecimento que ela não poderia explicar. Devia ter ido à polícia, ou apenas contado à mãe e ao padrasto, mas algo dentro de si, a mesma sensação que a impulsionou para o Pérola das Algas, a impedia de contar a qualquer um o que estava acontecendo ao seu redor. No lugar, a garota garantiu deixar a janela bem fechada e todas as luzes do quarto ligada, a faca estava escondida no forro de seu armário e em todas as superfícies possíveis havia desenhos antigos, revirados após a última descoberta da menina.

É estranho sentir que o mundo está se fechando ao seu redor, principalmente quando acreditar em alucinações se torna difícil. Ela queria acreditar nisso; que sua mente estava lhe pregando peças ou que havia consumido alguma droga forte sem perceber... Rose pela primeira vez queria estar enlouquecendo; assim toda a situação ao seu redor teria algum motivo plausível. Porém, existem momentos na vida em que todos querem fugir da realidade, por mais irreal que ela seja.

Rosalind suspirou, pegando mais um conjunto de desenhos ao seu lado, voltando a separar eles e a observar cada traço que suas mãos fizeram anteriormente, como um crítico de arte ferrenho. Porém, sem saber o que procurar como poderia esperar encontrar? Gostaria de ter sua avó por perto, ela sempre sabia o que fazer em momentos como aquele, em que não sabia se virava para a esquerda ou para a direita. Sua mãe era uma mulher ocupada demais para a filha, decepcionada pela garota recém formada no ensino médio não aceitar a bolsa para cursar algum curso caro em uma faculdade particular perto de casa. A relação com sua progenitora já fora boa e agradável a algum tempo, mas conforme a menina dos olhos âmbar crescia, ambas descobriam o quão pouco eram parecidas; configurando a relação parental em expectativas que jamais seriam atendidas.

Para piorar toda a situação, precisava resolver tudo o mais rápido possível, da forma mais efetiva possível. Tinha três dias antes de seu próximo compromisso, uma festa de despedida para sua melhor amiga de colégio, a mesma que estava prestes a entrar em um avião e se mudar com o noivo rico. A meses a festa estava marcada e a própria Rose a havia organizado, escolhido desde o sabor dos doces até o formato dos confetes. Tudo estava em seu devido lugar, perfeitamente organizado e calculado como todos os projetos que a morena se dedicava. A verdade seja dita, Rosalind sempre se jogava de cabeça em seus projetos, usando de uma notável dedicação e cansativo esforço.

Um suspiro ecoou pelo quarto ao perceber estar em um beco sem saída. Pegando o desenho e a faca, a menina saiu do quarto decidida a fazer a mãe lhe escutar, pronta para não desistir enquanto não recebesse o mínimo de atenção aceitável da mulher que a algum tempo já não cumpria com suas obrigações.

Parada à porta da sala de jantar, a menina se aproximou da progenitora ao a observar por algum tempo, engolindo em seco ao se sentar e esperar que a mais venha retirasse sua atenção do computador e dos papéis de trabalho. Minutos se passaram sem a mulher desviar os olhos do aparelho, mas a menina sabia que fora notada, sempre o é, mesmo que seja apenas para ser julgada e cobrada.

-Podemos conversar? - Ela sussurrou, estendendo sua mão e apertando a da mulher, apenas para ser afastada em seguida. - Estou com problemas.

Nem mesmo isso bastou para que ela tivesse um pouco mais de atenção, recebendo apenas um suspiro irritado enquanto a mulher começou a digitar fervorosamente, balançando a cabeça.

-Sempre tem algum problema com você, Rosalind. Seria esperar demais que conseguisse resolver a própria vida sem que eu ou seu pai tenhamos que fazer isso por você.

Foi impossível não se encolher, respirando fundo ao balançar a cabeça e torcer o nariz, tentando manter a calma e não iniciar uma discussão como teria feito em qualquer outro momento. Assim, a Rose apenas suspirou e se encostou no estofado da cadeira, apertando a ponta dos dedos.

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