Capítulo 7

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Cassie sempre foi a mais decente entre eles. Naquele instante, depois de todos os envolvidos na investigação da carnificina terem presenciado o surto de Rose, Cassie segurava os longos cabelos castanhos da menina enquanto, mais uma vez, ela vomitava em uma lata de lixo. O cheiro pungente era tão forte que a maioria deles mantinha distância, retornando ao trabalho enquanto a menina sofria com o que quer que tenha testemunhado.

Entre refluxos e gemidos, Rosalind se esforçava para contar o que vira com o máximo de detalhes, torcendo para que sua mente não estivesse lhe pregando uma peça. Cassie, ainda que segurasse seus finos fios, não ousou entrar em sua mente daquela vez, franzindo o cenho ao pesar os prós e contras de se arriscar novamente com os poderes ainda debilitados.

- Tem certeza do que viu? - Perguntou Tom pelo que pareceu ser a milésima vez.

- Tenho, Thomás! Eu sei que vi o Peter Pan e a Sininho voando com pozinho mágico! - Rose resmungou, tão amargurada quanto o sabor pútrido em sua boca.

Daniel, apesar de estar com a mente cheia com os últimos acontecimentos, não evitou o sorriso de lado que despontou de seus lábios ao escutar a ironia de Rose. Ele estava afastado dos outros, trocando comandos e observações com a Comandante Fallon acerca das novas descobertas. Maria estava analisando novamente a cena do crime, buscando qualquer coisa que pudesse utilizar para localizar e identificar o jovem levado pelo trol.

- Você não parece confiar nela.

A voz firme de Fallon soou ao seu lado, retirando sua atenção de onde Rose, apoiada em uma das paredes, aceitava o toque curativo de Tom em busca de alívio para as torturantes náuseas.

- Não é questão de confiança. - Ele respondeu, virando-se por completo para a comandante e cruzando os braços. O arco pesava em suas costas como um reconfortante lembrete de quem era e quem escolheu ser. - Apenas acho que a presença dela não é um bom agouro. Uma puro-sangue aparece durante a maior onda de assassinatos em anos?

Ele trincou os dentes em concentração, sentindo seu poder obscuro responder às almas ceifadas naquele lugar, buscando por morte e sombras.

- Suspeita dela? - Fallon ficou visivelmente tensa, desviando os olhos para a menina.

- Não. Rosalind mal conhece a dimensão de seus poderes, quanto mais teria controle o suficiente sobre ele para dominar uma horda de trols. Não... Ela está ligada com os assassinatos, mas não tem culpa. Suspeitamos que o ataque de trol que quase a matou esteja relacionado de alguma forma.

Rose sorriu agradecida para o gêmeo curandeiro, firmando-se sobre as pernas ainda trêmulas. Daniel a analisou de cima a baixo, percebendo como as roupas de batalha a faziam parecer menos com uma celi do que o olhar vibrante, concentrado em uma chama que clamava por justiça. Não havia mais choque nos olhos dourados, apenas a necessidade de respostas. Havia fogo e energia, e essa era a maior característica de sua herança milenar.

- Quero que ela esteja pronta para lutar no outono. - Fallon olhou surpresa para ele, acompanhada de Maria que havia acabado a perícia e se aproximado.

- Você já a viu correndo, acha mesmo que consegue aprender a lutar em poucos meses? - Fallon tinha um olhar meticuloso em seus olhos junto a um sorriso de incredulidade nos lábios.

- Daniel... Ela acabou de conhecer sobre o nosso mundo, não acho que vai estar pronta tão cedo. - Maria o olhou cautelosa, tentando ler os planos por detrás dos olhos cinzentos.

Daniel balançou a cabeça, irredutível diante de sua certeza.

- Ela é uma celi. Mais do que isso, é uma sangue puro. Não tem uma gota de outra espécie em seu corpo e isso não acontece a milênios. Celisye era um lar de guerreiros e essa natureza corre nas veias da garota. Ela é mais poderosa do que aparenta.

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