Capítulo 12

42 4 12
                                    

Os músculos da mandíbula de Daniel se retesaram ao observar os líderes reunidos naquele mesmo cômodo; haviam chegado horas antes deles saírem de seus esconderijos e aparecerem sem serem convidados. Ele se escorou na parede de madeira, cruzando os braços e os encarando sem nada dizer; em sua memória estavam frescos a quantidade de vezes que tentara contatar aos líderes desde o primeiro assassinato, procurando-os por dias a fio e lhes enviando carta atrás de carta para receber o silêncio. Os supostos líderes apenas apareceram quando os ataques saíram do controle e sumiram novamente quando Rose invadiu a reunião antes mesmo dela iniciar, atrapalhando a comunicação de Elfee com os clãs.

Os primeiros minutos da reunião fora de silêncio absoluto, cortado apenas quando Shuarat, líder do clã Shiat, interrompeu o silêncio ao entrar na sala e sorrir dissimulado, atrasado.

—Não me recordava de como Elfee é uma cidade pitoresca. De fato, a eras não visito meus amigos alados. — Ele comentou, andando com as mãos nos bolsos até Araceli e realizando uma vênia exagerada para a princesa, recebendo um olhar semicerrado e desconfiado.

—Não me lembro de ter autorizado seu retorno, mas já que está aqui e seria deselegante de minha parte lhe expulsar, seja bem-vindo. — A princesa disse, fechando as asas azuis e se afastando dele ao lhe dar as costas.

Daniel observou a interação com atenção descarada, imaginando que história poderia haver entre os dois seres imortais. Porém, Olso estava mais impaciente e menos propenso a gentilezas. A voz antiga e o rosto coriáceo se contorciam em perguntas sobre o que sabiam sobre os ataques e sobre o que fizeram com a garota que invadira a reunião, frisando como desejava que ela houvesse sido jogada em uma das valas mais profundas e antigas de Elfee. Os comentários do líder dos Mofnos trouxeram uma reação conflituosa tanto de Daniel quanto de Thomás e Mark, mas Acácia se manteve calma, agindo como um pilar de sustentação. Firme e inabalável. A senhora contou sobre Rose e as propriedades de seu sangue tão brevemente quanto pode, mas não era surpresa alguma para os visitantes. Eles já sabiam tudo sobre ela e, como se não bastasse a visita inesperada, queriam conhecê-la.

Felizmente, ou infelizmente, não tardou para eles escutarem as batidas delicadas na porta e Daniel a abrir para receber as recém chegadas. Não esperava, contudo, que precisasse esconder a surpresa em seus olhos ao a ver completamente renovada, um brilho próprio sendo emanado da pele e dos olhos. Angelical e etérea. Ele se forçou a não observar, sabendo que todos estavam em análise pelos olhos antigos dos visitantes. Assim, indicou o caminho para as meninas e fechou a porta em seguida, mantendo-se imerso em um silêncio observatório ao se colocar em prontidão. Podiam ser criaturas poderosas e antigas, temidas e respeitadas, mas ele não hesitaria em soltar seu abraço de sombra e morte sobre eles caso ameassem a qualquer um em Elfee.

Apresentações feitas e comentários insultantes trocados foram o resumo da próxima hora, perdida enquanto Olso fazia perguntas à Rose sobre seus poderes desconhecidos, sua vida como humana e seu treinamento. Ele sentiu, mais do que percebeu, como a celi de sangue puro se incomodava com o interrogatório, encarando o líder transmorfo com os olhos dourados cheio de piadas planejadas e comentários debochados. Ela estava exausta, assim como Maria e Cassie que se escorara em Tom e fingia não estar a um fio de analisar a mente de cada um ali.

—Então seu treinamento se baseia em algumas aulas humanas de como estapear uns aos outros? — Perguntou Olso, o nariz coriáceo se contorcendo em uma feição de escárnio. — Posso ver o porquê Acácia a escondeu por anos. Afinal, de que serve uma artista durante uma guerra? Decepcionante, de fato. Boa sorte, criança. Irá precisar para não matar a si própria ao segurar uma arma.

Daniel olhou duramente para Olso, atraindo o olhar do líder. Os três visitantes conheciam seus poderes, dificilmente alguém naquele mundo o desconhecia, mas a arrogância dos líderes os fazia pensar que o celi jamais lhes jogaria a onda de morte habitante em seu íntimo. Pensavam que ele lhes era fiel, talvez; ou que ele não ousaria tentar a sorte de saber se era mais poderoso que os antigos. Contudo, Daniel apenas o aturava. Como uma pedra no sapato em meio à uma tempestade. Fidelidade? Sua fidelidade estava naquela cidade que o acolheu mesmo com seus pecados; estava na princesa subestimada e de bom coração; estava em Mark e Fallon, Melanie e Acácia, e, principalmente, estava em Maria, em Thomás, em Cassie e, agora, em Rose. Estava nos seus, na sua espécie e na sua família.

Preço de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora