Capítulo 10

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O destino age de maneiras que as mentes limitadas de todas as espécies custam em entender. O que fazer quando o caminho a ser seguido é encoberto por pedras e neve? Em que direção seguir quando a ponte a ser atravessada despenca e afunda em litros e mais litros de água negra? Que movimento fazer quando as portas se fecham e as janelas não passam de pequenas e insignificantes aberturas? Criar um caminho próprio nunca é tão simples quanto soprar uma vela.

Cassie Bellini se recordava com cada detalhe do dia em que conheceu Ethan Macedo, pouco mais de um ano depois que descobrira a herança deixada por sua mãe. Ele fora o único homem que seu coração se sentira livre para amar.

Ela estava exausta, seu corpo por completo ansiava por descansar e sua mente ainda se contorcia com as vozes incessantes que soavam em todos os lados, em todos os momentos. Ela não conseguia silenciar seu poder, não conhecia a existência do botão de desligar e ligar. Cassie estava enlouquecendo aos poucos, presa dentro de sua própria mente cataclísmica.

Gemendo com a dor de cabeça pulsante, a loira sentou-se no canto do galpão onde deveria estar seguindo a pista de uma das criaturas perversas habitantes do sobrenatural. O "tracker" era uma espécie de demônio rastreador, mais utilizado quando um praticante das artes das trevas queria algo em específico: objeto, animais ou pessoas. A existência dele era pouco mais do que a essência do nada; menos do que uma sombra, mais do que uma alma. A mera ideia da presença de um tracker a assustava, mas àquela altura já era conhecedora da existência de criaturas piores do que aquela.

— Cassie! Onde você está? — A voz de Tom soou no comunicador em forma de brinco em sua orelha, fazendo-a gemer quando a voz ressoou como um trovão em seu cérebro sensível. Ele devia estar no ponto de encontro se arriscou a chamar pela pedra lumina. — Cassandra, responda!

Respirando fundo, o mais profundamente que pode, ela massageou uma das têmporas enquanto a outra mão foi até o brinco, tocando levemente a pedra em formato de meia lua.

—Estou bem... Precisei me esconder. Ainda estou no galpão. — A voz soou fraca, mas devia ser o suficiente para acalmar o gêmeo preocupado. Suspirando, deixou a mão cair e os olhos se fecharem, aproveitando a quietude que se seguiu quando as vozes mentais subitamente ficaram baixas demais para serem ouvidas.

—Cassie... — O chamado soou baixa, sussurrada pela lumina, mas a entonação da voz de Maria seria reconhecível mesmo em uma multidão. — Não responda, saía do galpão em silêncio e o mais quieta que puder... Os meninos estão chegando... — O corpo da loira se retesou, entrando em alerta ao perceber os sinais que havia negligenciado. O ar estava mais denso e pegajoso em seus pulmões, mas era a quietude que pensara ser abençoada que indicava a presença paranormal no lugar. — Ele está ai, Cassie. Está com você.

Maria não precisava confirmar suas suspeitas, mas assim que o fez a criatura decidiu estar pronta para se anunciar. O ar se tornou gelado, tornando a respiração da garota visível e esbranquiçada. O tracker flutuou em sua frente, parado e quase translúcido. Era uma espécie de sombra negra ao mesmo tempo que colorida, mas os olhos amarelos eram substanciados, reais e mortíferos. Cassie gritou, clamando por seus companheiros enquanto evitava olhar para as íris amaldiçoadas; a última coisa que precisava era de um habitante do inferno possuindo seu corpo. Ela jogou seu corpo para o único lado livre, girando em cambalhota para que pudesse se sustentar nas próprias pernas e correr para longe. As facas duplas em suas costas de nada adiantariam contra um ser que não havia pele para ser cortada. Ela tentou correr, mas o tracker estava entre ela e a única saída do local, impossibilitando que fosse para qualquer lugar.

"Ela vai morrer se não a ajudarmos!"

Ela tropeçou quando a voz mental masculina soou em sua cabeça, animalesca e feroz. Devia ser o medo, mas havia algo na melodia rouca que a fez mudar de direção, correndo na direção do som.

Preço de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora