Capítulo 23

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Encontrar o segundo portal de Elfee devia ser a parte mais complicada da missão, porém Rose descartou essa ideia assim que viu o modo como seus amigos estavam armados. Cada centímetro deles fora banhado em metal e couro, prontos para lutar e se arriscar para dar o mínimo de justiça àqueles que sofreram pelas mãos de Gorna. Rose podia ouvir a voz da líder do clã marítimo Iara se fechasse os olhos, podia ver a postura ereta e o empinar de nariz prepotente; ela se lembrava bem da feracidade escondida por trás dos olhos antigos quando a líder soltou duras e irreais palavras contra Araceli, acusando-a de um grave crime que sabia não ter cometido.

— O que faremos se encontrarmos Gorna? — Rose perguntou quando todos saíram da casa, prontos e em sentido de batalha. A puro sangue segurava a espada de seu cinto ao tentar esconder o nervosismo trêmulo que lhe abalara, respirando de maneira calculada sem retirar os olhos das costas de Maria e Gerlane à frente delas, rastreando o portal escondido na cidade.

— Matar. — Simplesmente disse Daniel com um dar de ombros, perfeitamente calmo e com uma absurda falta de sutileza.

— Você não vai matá-la. — Disse Maria, olhando para trás com seriedade misturada com ansiedade. Temia o que seria encontrado quando investigassem a Praia Rochosa.

— Não vou? — Daniel perguntou, olhando-a com uma sobrancelha levantada.

Rose rapidamente desviou o olhar de seu rosto, tentando se concentrar na missão e não na Cripta e seus acontecimentos que ficariam enterrados lá.

— Não vai. Ao menos se tiver escolha, precisamos a trazer para Elfee. Araceli e os outros líderes decidirão o que fazer.

— Mas e se, talvez, ela entrasse na frente da flecha dele? Não seria, exatamente, Daniel quem a matou. Culparemos as leis da física. — Thomás disse com um olhar mascarado, fingindo que não estava tremendamente satisfeito com seu comentário absurdo.

Daniel, abrindo um sorriso satisfeito, assentiu e olhou para Maria, apontando para Tom.

— Viu? Acidentes acontecem. — Ele disse, levantando a mão e batendo-a na mão de Thomás.

Rose, observando a cena, soltou uma leve risada ao balançar a cabeça e olhar para os dois celis, vendo-os trocarem um sorriso cúmplice e olhares que diziam mais do que as palavras. Não ousaria entrar no caminho dos dois com aquela óbvia promessa de morte à causadora de grande parte de seus problemas.

— Será que a mulher peixe é resistente à fogo? O que acha, Rose? Quer peixe frito? — Tom perguntou, extraindo uma risada divertida da menina e, consequentemente, a deixando mais relaxada diante de toda a situação.

— Não se preocupem, terão a oportunidade de vocês assim que eu terminar. — Cassie disse pela primeira vez, atraindo a atenção deles e retirando seus sorrisos dos rostos. A fala da mulher, que geralmente costumava ser contra ao ato de fazer justiça com as próprias mãos, os puxou de volta à realidade, recordando-os que aquele não era o melhor momento para risadas ou brincadeiras. Iriam enfrentar coisas piores do que a morte em pouco tempo.

— Traremos Ethan de volta. — Rose disse, pegando a mão da loira e a apertando amigavelmente. — Em algumas horas terá ele seguro em seus braços.

Cassie levantou seus olhos para a puro sangue, apertando sua mão com o carinho que sentia e assentindo para ela. Seu coração se apertava dolorosamente em seu peito, torcendo-se como folhas destruídas ao vendo graças a sensação ruim que passara a lhe torturar. Queria chorar, gritar e fugir para os braços de Ethan, desaparecer por quanto tempo fosse necessário daquele mundo que tanto fizera mal ao homem que detinha seu amor, mas para isso precisaria o salvar primeiro, seja da morte ou de um destino pior do que ela. Seu corpo por inteiro se arrepiou diante da possibilidade que tentava ignorar, mas era algo que não podia jogar em um canto e fingir que não acontecera; assim, abrindo um canal de comunicação entre ela e Daniel, Cassie deixou seus temores virem à tona.

Preço de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora