Capítulo 38

31 2 16
                                    

Rose nunca seria capaz de compreender o que o Vale de Mion possuía para que Dametra vivesse isolada em tal recanto; a paisagem em si era uma das mais belas que já vira, completamente natural e intocada pelas mãos humanas, mas não valia o preço de nunca saber o que poderia pular sobre seus ombros enquanto estivesse caminhando pelo local.

— Wendigo? Que demônio é esse? — Ela perguntou, apertando Justitia e suspirando ao sentir a corrente de poder que ambas, celi e espada, pareciam compartilhar.

— Acredite, a ignorância é uma benção. — Ethan resmungou a alguns metros, ajudando Cassie a ultrapassar um tronco caído em meio a trilha que os cercava.

A manhã havia caído agradável ao redor deles depois de uma abençoada noite de descanso, mas o calor crescente já colara com suor os cabelos de Rose em sua nuca e pescoço, deixando-a mal-humorada por estar com os fios sujos, mais uma vez, mesmo que eles estivessem prestes a ir para casa.

— Tem certeza de que não quer ir para Elfee conosco? — Cassie perguntou à Dametra, ignorando os muxoxos de Rose alguns metros atrás.

— Báah, gosto do Vale. É muito mais animado aqui do que vocês imaginam. Agora andem, andem! Estão me atrasando para meu compromisso. — Resmungou a Tecelã, apressando-se com habilidade pela trilha.

— Que tipo de compromisso se pode ter no meio do nada? Esse lugar é quase assombrado. Quase não, é assombrado. — Tom disse a Rose, travando o maxilar ao se virar e puxar Atom, seu cavalo, o qual estava muito mais interessado em mastigar a vegetação do que iniciar a penosa viagem de dias até o local onde Araceli lhes abriria o portal.

— Essa mulher é maluca, sério. Hoje eu acordei com ela fungando em cima de mim, de novo! — Rose fez careta, tentada a pular nas costas de Thomás para dar um pouco de descanso aos seus pés, já que nem morta subiria novamente em Tyon, mesmo que o cavalo ainda sentisse a necessidade de afirmar seu amor pelo cabelo de Rose e o tentasse comer a cada instante de distração.

— Cuidado, princesa, não duvido de que ela ouça bem demais para nossa sanidade. — Daniel disse, aproximando-se dela e, com uma delicadeza surpreendente, retirou uma das tranças de Rose da boca de Tyon, entregando a ele uma das maçãs colhidas do pomar de Dametra.

— Odeio esse cavalo. — Resmungou, olhando de cara feia para as rédeas amarradas à sua mochila. Daniel as havia prendido ali depois que a puro sangue tentara se livrar do animal.

— Ele, por outro lado, te ama. — Daniel disse, passando uma de suas mãos na cintura fina dela e a puxando em sua direção.

Rose olhou para ele com puro deboche, mas acabou desarmada quando sentiu o beijo cálido na bochecha e outro no cantinho de sua boca, derretendo seus nervos e arrepiando seu corpo.

— Eu disse que sou irresistível. — Ela sorriu mordendo o lábio e riu quando ele revirou os olhos, mas o segurou pela nuca antes que pudesse se afastar. — Não, não. Termine o serviço, florzinha.

Daniel balançou a cabeça, inclinando-se para deixar uma leve mordida no lábio inferior de Rose e se afastou em seguida, piscando um dos olhos para ela enquanto conservava o sorriso de lado que sabia a irritar.

— Quem sabe quando você merecer, princesa.

Rose ainda tentava pensar em uma resposta digna e que demonstrasse sua irritação quando a voz de Thomás soou pelo local, fazendo a menina dar um pulo com o susto e brandir a espada, procurando por alguma ameaça.

— Wendigo? Onde? — Ela perguntou, afobada.

Porém, o protesto de Tom nada tinha a ver com inimigos em potencial, mas sim na surpresa de, mais uma vez, ser abordado pelo inesperado.

Preço de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora