Capítulo 18

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Rose pouco registrou da viagem que ela, Cassie e Mark fizeram até o Mercado dos Peixes, estava preocupada demais e absorta demais dentro de si mesma para prestar atenção nas ruas de Elfee ou no cheiro pungente e imutável dos peixes que a muito deixaram de ser frescos. Ela apenas sentia a urgência gritada por seu âmago para que fosse mais rápida, mais certeira e que conseguisse alcançar logo seu objetivo. Seu poder estalava em suas orelhas como estalinhos de festa junina, incansáveis e constantes que quase a faziam obrigar essa parte seus ser a se esconder novamente, mas sabia que poderia precisar dele em breve, e com isto deveria conseguir recorrer a si mesma e parar de esperar que a salvassem. Rose temia ceifar outra vida, mas havia aceitado este preço antes mesmo de conhecer o verdadeiro valor dele, apenas não tinha tempo e nem queria pesar o que realmente valia a pena; se estivesse certa, e pela primeira vez torcia para não estar, seus amigos estavam em perigo.

—Rose, Daniel vai nos matar por estarmos aqui. É bom que esteja certa. — Disse Cassie, andando cautelosamente ao seu lado e analisando os lugares ao seu redor. As facas duplas se mantinham firmes nas mãos da loira, contrastando de forma ameaçadora à personalidade doce que havia por baixo.

— Estou torcendo para estar errada, Cassie. — Ela sussurrou, estranhando o peso da espada em suas mãos e sentindo o couro ficando úmido contra a pele que suava frio.

— Eu ainda não sei o que está acontecendo. Por que não chamamos Acácia mesmo? E Fallon? Se existe perigo real, apenas nós três não faremos grande diferença.

Rose evitou olhar para Mark, sabia que os olhos intensos estavam sobre si e que cobravam algo que ela não podia lhe dar naquele momento. A expectativa e a esperança, cobertos por uma generosa camada de paciência, lhe arrancava o ar do pulmão, deixando-a instável e quente. Não podia pensar no que tiveram na biblioteca ou nos beijos que quase trocaram naquele momento, precisava se concentrar na missão. Precisava abraçar de uma vez o que realmente significava ser uma celi. Ela não hesitaria desta vez.

— Vamos te explicar, mas primeiro preciso que confie em mim. — Ela disse, olhando para Mark por tempo suficiente para que seus olhos se encontrassem, mas logo o contato foi cortado quando a pedra lumina em seu pulso pulsou incansavelmente no mesmo instante Cassie parou de uma vez no meio do caminho, olhando para uma imagem transmitida pela pedra lumina do brinco em sua orelha.

Cautelosa, Rose se aproximou olhando a imagem de um símbolo estranho gravado em rocha.

— São marcas de feitiços de proteção e ocultação. — Cassie explicou, ampliando a imagem e franzindo o cenho ao analisar as curvas e os traços. — Pertencem à época de grandes navegações, quando a magia marítima estava em risco com a chegada dos navios europeus. O povo do mar usava esses feitiços para proteger suas espécies nos locais com grande circulação de humanos, assim se mantinham escondidos enquanto avaliavam os riscos. Com a caça às bruxas no auge em vários países, os povos sobrenaturais não queriam arriscar e muitos deles acabaram migrando. Ainda existe alguns portos com esses símbolos, principalmente naqueles que podiam ser renovados por feiticeiros poderosos com o passar dos anos.

Rose sentiu Mark observando acima de sua cabeça e a mão que ele pousou sobre sua cintura para "se apoiar". O toque era hesitante e respeitoso, mas Rose deu pouco mais do que alguns segundos de atenção, precisava se concentrar na explicação de Cassie.

— Vê a erosão da rocha aqui e aqui? — Cassie perguntou enquanto apontava para pontos específicos na imagem, franzindo o cenho enquanto sua mente trabalhava o mais rápido possível. — Esses símbolos deveriam ter sumido séculos atrás, mas ainda existem e estão claros, feitos nos últimos anos. Tem algo escondido aqui e não querem que encontremos.

Rose engoliu em seco, chegando a mesma conclusão que os outros e começando a correr. Em sua mente havia pânico, medo e incompreensão. Algo estava errado, faltava algo. Uma peça que faria todo o quebra cabeça se encaixar e que quando encontrado iria revelar as demais peças. Era estranho que houvesse passado horas e horas de sua vida andando entre aquelas muretas, conversado com os vendedores do local e desenhado em um banco de madeira que dava para o mar sem que encontrasse nada sobrenatural.

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